Ataques espirituais durante o sono na visão yorùbá

Você é uma daquelas pessoas que acorda frequentemente no horário das três horas da manhã ou conhece alguém assim?
Há muitos casos que recebemos constantemente de pessoas que acordam no meio da noite e não conseguem voltar para o sono, pesadelos constantes quando conseguem sonhar e tem alguns que chegam até dormir aparentemente bem, mas acordam mais cansados do que quando foram deitar para dormir. Há muitas explicações dentro da Religião Tradicional Yorùbá que nos ajuda entender sobre esta série de ocorrências noturnas.

• Texto – Awo Ifá Leké Eduardo Henrique

Nós seres humanos podemos ser classificados como ‘híbridos’, isto porque somos meio corpo e meio espírito. Quando dormimos existe um grande desligamento da nossa consciência corporal, devido o estado de repouso.
Há provérbios yorùbás que afirmam que se o nosso corpo (matéria) se encontra descansando, existe a tomada da nossa consciência espiritual, ou seja, quando nosso corpo se encontra dormindo, o nosso espírito permanece acordado.

Alguns Odùs de Ifá explicam que durante a noite, o mundo espiritual continua agindo e há seres considerados ‘espíritos noturnos’ (por essência), que acabam ganhando maior liberdade de ação, devido terem mais ligação com esta parte, estes seres noturnos no qual se referimos não são as pessoas físicas (encarnadas) em específico que vão dormir. Resumidamente há espíritos que não são humanos e que tem maior liberdade neste período.

O Universo e Cultura fez um levantamento desde 2019 (quando ainda era CECP) sobre alguns fenômenos paranormais e ataques espirituais, chegando numa conclusão depois de longas análises: há mais fluídos maléficos e obsessões de pessoas durante a noite, ou como alguns locais chamam de madrugada. É por esta razão que alguns cuidados de medicina religiosa para quem vem sofrendo ataques no astral, recomendamos que sejam feitos antes de ir dormir, porque é o período mais acessível à possíveis ataques, existe até mesmo um sabão de desmanchar feitiços que as pessoas que sofrem com ataques de magias precisam usar pelo período da noite, por este motivo.

Já ouviu aquele ditado antigo muito comum no povo da roça “a noite é o horário onde tudo piora”? Certamente não é uma mentira, usando como exemplo uma criança doente que tem uma melhora durante o dia e resolve brincar, mas ao chegar de noite a febre aumenta, o desespero, as perturbações, tudo fica muito mais difícil, enfim. Embora os antigos eram dotados de tamanha simplicidade, eles não se enganaram ao usar esta afirmação no cotidiano e como ditado regional, pois nem do ponto de vista científico (envolvendo doenças e casos na UTI/CTI) ou do ponto de vista religioso e espiritual isto seria algo falacioso, mas nesta matéria buscaremos abordar em específico sobre a visão yorùbá, trazendo sobre outros tipos de caminhos explicativos em outras categorias temáticas contidas no site.

Uma reflexão, é que em yorùbá existe cumprimentos para diversas partes do dia, mas depois da meia-noite não existe cumprimento, vejamos;

Ẹ káàró ou Ẹ ku aro = Bom dia!
Ẹ káàsán ou Ẹ ku asán = Boa tarde!
Ẹ káale ou Ẹ ku ale = Boa noite!

Ninguém diz ‘boa madrugada’, há certas teorias de alguns estudiosos na religião que afirmam que isto é porque não é da cultura de quem tem consciência espiritual, o ato de andar pela madrugada, porque os povos yorùbás sabem o que pode acontecer pela madrugada. Podemos perceber até mesmo nas rezas que saúdam as energias e horários, menos a madrugada (depois de meia-noite).

Mas afinal o quê o número três teria de significado para a Espiritualidade? Há muito mais do que muitos pensam! Porém mantendo o foco na parte yorùbá, há famílias que atribui o número três ao sinônimo de guerras espirituais e ataques, entendendo que seria um símbolo de desarmonia ou disputas.

Indo um pouco além, o sábado que é um dia místico em algumas tradições familiares yorùbá, tem seu nome muito místico, veja;

1º Ọjọ́ Àìkú (Domingo). O significado é: dia em que não se morre;

2º Ọjọ́ Ajé (Segunda-feira). O significado é: dia do lucro;

3º Ọjọ́ Ìṣẹ́gun (Terça-feira). O significado é: dia da vitória;

4º Ọjọ́-rírú/Ọjọ́rú (Quarta-feira). O significado é: dia da confusão ou dia do sacrificio;

5º Ọjọ́bọ̀/Ọjọ́ Àṣẹ̀ṣẹ̀ Dáyé (Quinta-feira). O significado é: dia da chegada ou dia da criação recente;

6º Ọjọ́ Ẹtì (Sexta-feira). O significado é: dia da falência;

7º Ọjọ́ Àbá Mẹ́ta (Sábado). O significado é: o dia dos três encontros.

As próprias grandes mães ancestrais, espíritos conhecidos como “senhoras dos pássaros noturnos” ou “damas da noite”, entre outros espíritos noturnos, preferem receber suas oferendas, ou ebós, nas encruzilhadas de três pontas (que seria a verdadeira encruzilhada africana, conhecidas como “Ìkòríta mẹ́ta“). Devido a diversos tabus e os antigos proibir dizer os nomes delas com frequência, recomendamos que aqueles que souber chamá-las, evite a pronúncia.

O número três chega ser tão místico que até mesmo alguns modelos de imagens africanas de Èṣù, conseguimos repará-lo com três cabeças, trazendo um significado profundo dos três caminhos mágicos.

Por ser um horário de maior inclinação ao mundo espiritual, ocorre muitas obsessões e muitas pessoas como forma de reagirem a estes ataques espirituais e obsessões de fluídos maléficos, deixam suas projeções espirituais e retornam aos seus corpos como forma de repelir estes estímulos negativos, voltando assim, ao seu estado de consciência corporal.
Acordar sentindo como se fosse um choque, é devido o seu espírito ter entrado num estado de alerta e usa isto como um tipo de defesa. Muita das vezes não é ninguém espiritualmente que está fazendo você acordar, é o seu próprio espírito, principalmente quando as energias que esteja rodeando você no astral vêm trazendo coisas ruins.

Existe algumas entidades maléficas que costumam atacar durante o sono, tentando insufocar o indivíduo, quem é da religião sabe o nome do mais popular entre elas. Lembro de um relato de um iniciado em Ifá que disse que não estava conseguindo dormir de jeito nenhum, toda vez que ia pegar no sono ouvia um barulho muito alto e acordava, aquelas repetições causaram extrema estranheza e de imediato resolveu consultar seu oráculo. Para sua surpresa descobriu que os barulhos que ouvia era Èṣù avisando que havia uma entidade tentando lhe fazer mal e como defesa estava acordando ele para reagir e saber o ocorrido, logo após, cessaram.

INIMIGOS DA HUMANIDADE

Na crença yorùbá não existe o Diabo como personagem, mas existe os Ajoguns.
Os Ajoguns seriam entidades maléficas que testam os seres humanos e podem promover diversos tipos de coisas ruins, no Odù Osá, Ifá explica que eles teriam surgido após pedido dos ancestrais da Terra que observavam o cumprimento do pacto feito de nunca matar ninguém, porém os seres humanos começaram a praticar maldades e após matarem pela primeira vez sua própria espécie, e não tinham uma punição ou consequência pelos seus atos ruins que pudessem pará-los, surgiu os Ajoguns como forma de castigá-los, e junto com eles vieram a morte, fome, doenças… Para crença yorùbá, nada foi feito sem o consentimento de Olódùmarè, o mesmo aceitou, e assim há uma forma de moderar as pessoas em suas ações, Ajoguns não são inimigos que se opõem contra Olódùmarè, até porquê não há na mitologia yorùbá um ser que tenta vencer o Senhor Supremo.
Os Ajoguns são entidades que podem causar doenças, misérias, maldições e muito mais. Mas o fato deles existirem não significa que as pessoas estão perdidas, nós escolhemos por nossas ações e pensamentos as nossas companhias, mesmo que não seja de forma objetiva.

O ALÁ E SUA LIGAÇÃO COM O SER HUMANO

A alma do ser humano se encontra em volta de um lençol branco, porém as nossas impurezas e o mau caráter, alteram o nosso estado de espírito e mancham este lençol branco (conhecido como “Alá”). Quando alguém se encontra sujo (espiritualmente), este se encontrará desprotegido, enfraquecido, desequilibrado e muito mais acessível aos ataques de Ajoguns. As vezes este tipo de pessoas quando passam por ebós como rituais de limpezas, permanecem sujos por conta de todas coisas ruins que atrai, mau caráter que vem tendo, por isto acreditamos que não adianta o sacerdote fazer a sua parte, sendo que o indivíduo não tem um real desejo de mudar, a limpeza se torna incompleta. A realidade é que muitos perdem ao achar que a Espiritualidade somente leva em conta o comportamento dentro da religião. Você já viu aquelas pessoas que adora postar frases motivacionais, opinar como senhores da verdade em corrigir todos, mas em suas casas seguem o oposto, só chamam nomes ruins, vivem atraindo doenças, maus espíritos e ainda com pensamentos horríveis, será que apenas aqueles textinhos e falso personagem espiritualizado será capaz de ajudar o espírito a melhorar?… É necessário observar nossas ações e pensamentos porque eles podem nos tornar mais expostos a possíveis ataques.

Quando alguém se encontra com esta roupagem limpa (alá), é sinal de boa iluminação espiritual e que se encontra bem protegido, sendo mais difícil qualquer ataque ou vampirismo, isto porquê estando em paz de espírito, fortalecido, bem, os Ajoguns acabam não tendo como atrapalhar.

A MELHOR DEFESA ESPIRITUAL

1 – Muitos podem achar que isto é pouco, mas para um devoto yorùbá é algo grande, para evitar que ocorra ataques espirituais durante o sono, é viável rezar para os Òrìṣà e Olódùmarè, procurá-los dentro de si mesmos, agradecendo por mais um dia que consegue viver, pedindo perdão pelos atos falhos cometidos, tendo o hábito de permitir sua alma respirar, ajuda elevar o espírito de qualquer ser humano e não é atoa que os iniciados em Ifá costumam passar horas rezando para quase tudo, principalmente quando acordam e quando vão ir dormir.

A consciência espiritual não se cria apenas com estudos teóricos, nem muito menos apenas com fundamentos religiosos, mas com arrependimentos verdadeiros por alguma falha cometida, ajuda nos mantermos limpos. Por incrível que pareça muitos acham que este Alá é apenas lavado com banhos, mas do que seria o banho se ele não vem cercado de boas atitudes e de compromissos verdadeiros para melhorar?.

2 – No Odù Osá-Ka, o Òrìṣà Ọ̀rúnmìlà ensinou o galo que era seu discípulo, que para ele elevar seu espírito deveria louvar Olódùmarè todas as manhãs. E até os dias atuais, os galos cantam todas as manhãs, em todos os nascer dos dias, praticando este ato como forma de agradecer ao Ser Supremo pelo privilégio de estar vivo.
Este Odù nos faz refletir nas seguintes perguntas:

Você agradece a Olódùmarè pelo privilégio de estar vivo? Por você poder respirar, enxergar, estudar, entre todas outras coisas boas que você obteve e reconhece que tem na sua vida ou você fica apenas pedindo e reclamando pelo o que não conseguiu? Você vem aproveitando o máximo a sua vivência na Terra? Você se eleva a Olódùmarè quando acorda? Assim como fez o galo ou apenas fica focando em preocupações da sua vida cotidiana?.
Um bom devoto levanta pela manhã acompanhado da Espiritualidade de forma positiva, pois busca estar na companhia de Olódùmarè e dos Òrìṣà. Pois eles são o nosso sol, seguindo a parábola de Ifá.

3 – Quando alguém se encontra tendo uma noite perturbadora, o ideal é que quando retorne destas viagens astrais lavem os pés, mãos e cabeças para poder retirar os fluídos negativos gerados por experiências fora do corpo humano (no ato de dormir). E caso seja contínuo os ataques, é possível a utilização de pulseiras e amuletos para quando for dormir, além de lavagens do rosto e dos pontos vitais quando for acordar ou ir descansar. É muito necessário se cuidar e na dúvida passar por consultas! Quando alguém me conta que sonhou que sofria perseguição por um morto e acordou cheio de arranhões, marcas roxas e até dores, se torna extremamente necessário se limpar dos fluídos que pode ter trazido desta experiência levando para matéria física, algumas pessoas não lembram o que aconteceu, mas despertam de forma como se tivessem sido agredidas e pode ser caso de obsessões durante o sono.

4 – Èṣù é capaz de impedir os Ajoguns entre outros seres de nos atacar, por isto, é essencial louvá-lo e contar com sua ajuda, pois ele é um dos mais próximos aos seres humanos, sendo capaz de aprovar ou recusar passagens destas energias pelos caminhos, principalmente pela encruzilhada que interliga os mundos, porque ele é o guardião de todos os portais.

E na persistência dos problemas, o ideal é que procure alguém experiente de preferência um sacerdote ou sacerdotisa, pois eles possuem autoridade para lidar com estes tipos de energias, pois curiosos que ficam se baseando apenas em falas aleatórias, pode acabar piorando o problema.