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Ebó – O alimento da alma

• Texto de Eduardo Henrique Costa / Universo e Cultura.

O CONCEITO

Primeiramente precisamos compreender que na religião iorubá não existe a crença em que possa existir uma pessoa totalmente negativa e nem totalmente positiva. Nascemos possuindo tanto positividade como também negatividade. Se formos analisar atentamente é impossível encontrar alguém que sempre teve a vida feliz e sem nenhum problema, ou uma pessoa que teve uma vida com todos os dias apenas ruins sem ter presenciado uma variação em algum momento.

Refletindo até mesmo sobre grandes líderes e mestres espirituais, podemos chegar a conclusão que todos eles passaram por momentos bons como também ruins, alguns conheceram a riqueza, mas em certos momentos conheçaram a doença e a fome (um exemplo emblemático é o Sidarta Gautama, que se tornou muito importante para o Budismo), tivemos líderes que viveram momentos alegres, mas também foram traídos e conheceram a dor e a morte (Jesus Cristo, é uma grande referência, foi o próprio fundador do Cristianismo, mas mesmo assim, viveu tantos momentos bons como também difícies). Eu poderia usar como exemplo diversas celebridades do nosso cotidiano, mas a visão que quero fazer com que possam vislumbrar, é que mesmo sendo uma pessoa muito espiritualizada e correta, não significa que não haverá problemas.

Os iorubás ensinam que quando uma pessoa se encontra com a positividade maior, é sinal que a negatividade está em menor quantia, isto significa que esta pessoa buscou um certo equilíbrio e se caso manter esta positividade alta, terá uma vida mais harmoniosa e os problemas irão diminuindo. Quando uma pessoa possui uma energia negativa maior que positiva, é sinal que esta pessoa está passando pelo lado ruim de seu caminho, tendo uma inclinação a ter mais problemas e momentos dificies do que apenas alegres.

Através desta pequena narrativa, a nossa mente passa a refletir sobre o objetivo principal do ebó. E seria ele manter o equilíbrio e restaurar as energias que se encontram desgastadas ou até mesmo faltantes. Existe certas pessoas que pela forma de viver, se desgasta energeticamente com maior facilidade e mesmo com a reposição de forma natural, ainda não é o suficiente para que aquela pessoa se torne mais estável e até mesmo ajude a lutar pelos os objetivos de vida que busca ter sucesso. Alguns podem até ter uma energia que ajude a conquistar alguns setores da vida, mas pode uma delas faltar ou está negativa se tratando de outros setores da vida.

Exemplo:

Uma vez, um certo homem não entendia o porquê de tanto fracasso em sua vida. Ao se consultar com um sacerdote, foi verificado que ele tem grandes energias voltadas para a vida financeira e era por isto que ele era tão próspero, mas que ele não possuia energias boas para sua vida amorosa e era por isto que ele sempre fracassava em seus relacionamentos. O sacerdote preparou o ebó e invocou a divindade ligada ao amor, que converteu a energia daquele trabalho em positividade para que fosse diminuído a energia negativa de sua vida amorosa ou até mesmo recarregar a energia faltante para a realização das necessidades.

A PALAVRA EBÓ

É muito importante saber que o ebó e o ebô são totalmente diferentes. A palavra ebó surge do idioma iorubá, que significa literalmente: sacrifícios. Podemos classificar que em um ebó, a amplitude de sacrificios é muito maior do que pode pensar.

  1. SACRIFÍCIO HUMANO: Se você logo se assustou e pensou na idéia de matar uma pessoa, você está totalmente equivocado (a). Quando nos referíamos aos sacrificios humanos, se trata do ato de dizimar em prol da espiritualidade. O fato de gastar dinheiro, dedicar tempo, cumprir alguns preceitos em uma determinada quantia de dias, são exemplos, de sacrifícios necessários através de esforços.
  2. SACRIFÍCIO DE ANIMAIS: Se refere ao ato de trazer forças, vitalidade e longevidade para a pessoa. Por mais que muitos possam pensar que isto só acontece dentro da religião iorubá; na realidade muitas religiões praticam, mas o que eu observo muito é que sempre se tratando da cultura do negro, as pessoas associam a com o mal. Biblicamente, na fuga dos judeus que se encontravam no Egito, Deus manda Moisés sacrificar um carneiro filhote para marcar com sangue as portas onde a morte não deveria entrar… E que fique claro que meu intuito não é defender a matança, mas demonstrar fatores históricos culturais. Na cultura iorubá, inclusive no culto à Ifá-Orunmilá, é muito mais usado rezas, pós, ervas, plantas do que animais. Uma grande mentira é que muitos dizem que na África ocorre o maior a abate religioso do mundo, quando na verdade o Festival Gadhimai, no Nepal, seria onde ocorre o maior abate religioso do mundo, estima-se que são usados mais de 200 mil animais, cabras, ratos, são mortos em homenagem à deusa hindu do poder, segundo o G1.COM (Ver matéria).
  3. AJEUM (COMIDAS): Em muitos ebós, inclusive na cultura afro-brasileira e afro-cubana, é muito usado na ritualistica alimentos como: pipocas, farinhas, grãos e muito mais. Muitos erroneamente pensam que os Orixás (divindades iorubás) irão vir no ebó para comer o que está sendo entregue, quando na verdade eles vem para direcionar as energias daquela comida e dos elementos ligado aquela divindade para a vida do solicitante. Quando nos alimentamos fisicamente nos ajuda a repor nossas energias e forças, no ebó funciona da mesma maneira, porém envolve mais a alma. Eu costumo dizer que os ebós são suplementos que nutrem o nosso espiritual (risos).

QUANDO DEVO TOMAR EBÓ?

É necessário entender que o ebó tradicional, ele não não é feito apenas por chegar ao sacerdote e dizer qual é o objetivo e ele sair fazendo. Existe a necessidade de um jogo oracular para entender quais energias regem aquela pessoa, quais energias necessita e o que será levado no ebón. Um bom ebó envolve uma boa apuração. Por isto, existe uma grande diferença entre ebó e oferenda. Oferenda é um termo mais genérico se referindo à toda prática de devoção, já no caso do ebó ele não é feito apenas por ter vontade ou devoção, é necessário uma ordem astral para que seja executado da melhor maneira.

Para os iorubás o ebó deve ser tomado por aqueles que se encontram negativos e também é importante por aqueles que se encontram positivos, para poderem manter e não esperar voltar a ficar ruim para refazer novamente.

DEPOIS DE QUANTO TEMPO DEVEMOS TOMAR EBÓ NOVAMENTE?

Isto depende de quatro fatores principais: o modo como aquela pessoa vive e as necessidades que possui, os cuidados diários e semanais com a espiritualidade, tipos de espiritualidade e ancestralidade. Existe pessoas que conseguem perpetuar suas energias e se mantêm positivas ao longo do ano, mas também encontramos aqueles que pela forma como vivem se sobrecarregam negativamente com facilidades e a cada dois meses estão refazendo novamente. Sendo assim, não existe em regra um tempo certo, porque cada pessoa possui destinos e espiritualidades diferentes, mas em média é comumente feito quatro vezes ao ano. Reitero que a forma como o indivíduo vive, poderá conservar suas energiss ou desgastá-las facilmente.

E QUEM PODE DAR EBÓ NA PESSOA?

Um ebó é o momento de banimento das negatividades e questões que atrapalham e não permite prosperar, somente um sacerdote competente tem autoridade para estas práticas. Estas ritualísticas são de origem africanas e é uma forma de medicina espiritual.

QUAL É O PREÇO DO EBÓ?

Existe aqueles terreiros, barracões ou centros cultutais que possuem preços tabelados e meu intuito não é ofendê-los. Mas acredito que o correto seria uma boa apuração oracular, para ver quais elementos, energias e necessidades possui. Aconselho que procure um sacerdote para uma consulta e através de Ifá ser checado qual forma de ebó é mais viável, pois muita das vezes pode ser até algo simples, como também algo mais complexo. Para um mesmo problema pode ter mais de mil formas de ebós – em razão disto, é necessário a devida apuração para checar qual é mais viável.

O QUE É PRECEITO?

Preceito se refere as certas práticas que devem serem praticadas durante e após o ebó por um certo período, nestas proibições encontramos algumas das mais comuns que é evitar: o consumo de bebidas alcoólicas, práticas sexuais e usos de roupas escuras. O período de duração de um preceito pode variar de acordo com o problema, costumes tradicionais e prática sacerdotal. Comumente um preceito dura entre 3, 7 ou 21 dias.

O SEXO É VISTO COMO ALGO PECAMINOSO PARA CULTURA IORUBÁ?

Longe disto! O motivo principal de ter que evitar atos sexuais durante o período de preceito, é pelo motivo do ato sexual se resumir em trocas de energias, o que não seria tão viável ter a energia de um parceiro ou trocar energias recebendo outras energias, a proibição de atos sexuais é justamente para que a pessoa receba por completo a energia do ebó sem percas.

O COMPORTAMENTO DURANTE O PRECEITO

É extremamente importante seguir por completo as práticas recomendadas durante o preceito, que seria neste periodo em que o Orixá fica mais próximo da pessoa, inclusive Èsú que analisa o merecimento e o quanto de Àsé (força virtual) a pessoa deverá receber. Muitos africanos acreditam que quem é mais próximo do ser humano é o Ori e Èsú, porém no ebó os Orixás se aproximam e com isto passam as energias para o solicitante.