Guerra dos sexos (E dos cérebros!)

A polêmica sempre foi grande, mas afinal, será que os cérebros de homens e mulheres apresentam mesmo diferenças ou não? A verdade é que… Bem, você descobre logo a seguir.

Texto • Geisa D’avo
 

Se a chamada guerra dos sexos tem sido uma constante na sociedade contemporânea, no início deste século o embate entre os gêneros ganhou um capítulo ainda mais polêmico. Graças ao avanço da tecnologia e aos crescentes investimentos na área da neurociência, o funcionamento do cérebro humano começou a ser amplamente desvendado e, logo, veio a constatação de que homens e mulheres são diferentes também neste quesito. Bastou, então, confirmar a diferença para que surgisse a pergunta: mas, afinal, qual cérebro é melhor ou mais capaz de aprender e se desenvolver?

De início, muitas pesquisas pareciam apontar para a superioridade masculina – baseadas em hipóteses que foram e continuam caindo por terra, à medida em que amplia-se o conhecimento. Mas, mais do que responder a esta questão, os avanços no campo da neurociência têm nos permitido compreender melhor as aptidões inerentes a cada um dos gêneros. E aí, será que os homens estão mesmo na frente?

Diferenças estruturais

Em recente entrevista ao jornal El País, publicada pelo UOL Mídia Global, o especialista em neurologia da Universidade da Califórnia, Richard J. Hailer, explicou: “Quando uma mulher sofre um infarto cerebral em determinada zona, pode sofrer consequências cognitivas diferentes do que se o mesmo dano ocorrer na mesma parte do cérebro de um homem. E se o cérebro tem formas diferentes de fazer as mesmas coisas e alguém sofre um dano em uma área do cérebro, pode haver maneiras de reabilitar outras áreas que compensem essa lesão”.

Quanto aos papéis desempenhados por cada gênero, sabe-se, por exemplo, que o volume cerebral masculino é superior ao das mulheres, e também que homens possuem mais neurônios. Isso, na prática, não significa que a cognição do primeiro grupo seja melhor, mas sim que há diferenças estruturais no cérebro de mulheres e homens. Resta, aos cientistas, descobrir como esta organização influencia a capacidade mental de cada grupo. 

“Nossas pesquisas mostram que, quando relacionamos características do cérebro com os testes de quociente de inteligência (QI), estão envolvidas áreas diferentes nos homens e nas mulheres, mesmo que ambos tenham o mesmo QI. Tanto homens quanto mulheres apresentam, em pé de igualdade, a mesma capacidade de resolução de problemas. As diferenças observadas não estão relacionadas a essa capacidade geral, e sim a determinadas habilidades de operar com informações de natureza diversa”, afirmou o especialista. Veja, nas páginas a seguir, algumas das principais variações de aptidão já constatadas pela ciência.

Fácil para uns, difícil para outros

Bastam algumas poucas instruções, quem sabe um breve cálculo mental, e pronto: ele entra no carro e, sem qualquer dificuldade, chega ao destino previsto. Para ela, entretanto, mesmo com o auxílio de um mapa, a tarefa continua parecendo difícil. De fato, a capacidade de localizar-se com rapidez e precisão é um atributo mais comum aos homens, já que é beneficiada pela produção de testosterona.

Quando “injetado” no hemisfério direito do cérebro, o hormônio masculino ativa a habilidade espacial, aquela que permite processar melhor as informações geométricas de objetos e lugares. É por isso que eles têm mais facilidade na hora de percorrer um trajeto novo, por exemplo.

Por outro lado, a percepção aguçada em relação ao mundo ao redor, o amplo domínio verbal e a disposição inata à socialização são características mais comuns ao sexo feminino, graças à maneira como os hemisférios cerebrais se conectam. Por terem a capacidade de processar várias informações simultaneamente, as mulheres apresentam habilidades sensoriais mais elevadas.

Quociente de inteligência

Embora a ciência ainda não tenha encontrado uma maneira precisa de definir o que é a inteligência, muitas são as ferramentas para quem tenta calculá-la. Os famosos testes de QI, por exemplo, utilizados para medir a habilidade cognitiva geral de cada pessoa – ou seja, a habilidade espacial e sensorial – podem oferecer dados que servem de indicativo tanto para avaliar as aptidões individuais, como também para oferecer uma base de comparação entre os gêneros.

Em 2005, um grupo de pesquisadores britânicos publicou no conceituado British Journal of Psychology um estudo no qual sugeria-se que os homens seriam mais inteligentes do que as mulheres. Baseados nos resultados de um teste de QI aplicado em 80 mil pessoas, os pesquisadores constataram que eles apresentavam-se, em média, cinco pontos à frente das representantes do sexo oposto. E, quanto mais alto o QI das “cobaias”, maior o distanciamento entre os gêneros.

Ainda de acordo com o estudo, embora dotadas de menor QI, as mulheres teriam uma capacidade muito maior de adaptação e aproveitamento das próprias aptidões em relação aos homens que estivessem na mesma faixa de QI.  O estudo não demorou a receber críticas já que, segundo diversos cientistas, os testes aplicados limitariam a avaliação da capacidade cognitiva e menosprezariam o fato de que homens e mulheres desenvolvem o raciocínio utilizando diferentes estruturas do cérebro.

De um lado para o outro

Em 1991, duas pesquisadoras da Universidade da Califórnia examinaram mais de uma centena de cérebros e constataram que havia, nas mulheres, uma ligação muito mais intensa entre os hemisférios cerebrais. Confirmada anos depois com o auxílio das imagens de ressonância magnética, a descoberta permitiu à ciência explicar porque algumas habilidades, como a percepção e a linguagem, são mais comuns ao sexo feminino.

O corpo caloso extenso, ou seja, a estrutura que une os dois lados do cérebro permite às mulheres que tenham mais facilidade na hora de executar diversas tarefas ao mesmo tempo, ou perceber variações de humor nas pessoas ao seu redor, ou ainda notar as mínimas mudanças de determinado ambiente. A intuição, dizem os cientistas, também pode ser fruto desta comunicação mais forte, já que o corpo caloso permitiria a perfeita integração entre o racional e o emocional.

Pense rápido

Já no Canadá, neurocientistas concluíram que os homens levam menos tempo para processar uma informação do que as mulheres. A diferença de “velocidade” de raciocínio, afirmam, pode ser de até quatro por cento.

Para realizar o estudo, os pesquisadores inseriram eletrodos na cabeça de homens e mulheres para que, dessa maneira, pudessem detectar o tempo que cada cérebro levaria para transmitir impulsos nervosos ao córtex visual e, por fim, compreendê-la.

Segundo os neurocientistas, a explicação para a variação de tempo entre os gêneros estaria no fato de que, no primeiro grupo, a camada que reveste as fibras nervosas é mais grossa e, portanto, contribuiria diretamente para acelerar a transmissão dos impulsos.

Quantos neurônios você tem?

De acordo com estudo recentemente divulgado pelo Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha, as diferenças entre o cérebro masculino e feminino se estendem também para os neurônios. Avaliando células do neocórtex temporal – responsável, entre outras coisas, por aptidões emocionais e sociais – os pesquisadores de Madri constataram que o cérebro dos homens conta com até 30% a mais de sinapses em comparação às mulheres.

Apesar de se tratar de uma diferença considerável, o grupo responsável pela pesquisa ainda não soube precisar, ao certo, o que esta variação representa, ou ainda se é possível verificar a mesma disparidade na comparação de outras áreas do cérebro.

De onde vem a diferença

Há tempos, a ciência busca na genética humana uma possível explicação para as diferentes orientações sexuais, mas pouco foi constatado de concreto sobre o tema. Entretanto, na Suécia, nasceu um estudo que pode dar pistas a respeito da origem da homossexualidade.

De acordo com os dados coletados por cientistas do Instituto Karolinska, a estrutura do cérebro de homens gays é bastante parecida com a de mulheres heterossexuais, enquanto as características cerebrais de lésbicas se assemelham às de homens heterossexuais.

Já que alguns parâmetros adotados pelos pesquisadores, como o tamanho e o formato do cérebro, permanecem inalterados ao longo da vida, a semelhança poderia revelar que, desde o nascimento, um indivíduo teria a sua orientação sexual definida. Ou seja, tal como uma mulher heterossexual, cujos hemisférios cerebrais são basicamente do mesmo tamanho e assim se mantêm ao longo da vida, os homens homossexuais teriam a mesma “configuração” cerebral desde o início da vida – o que, por si só, possibilitaria afirmar que aquele indivíduo nasceu com uma característica biológica inalterável.

 Fonte: Triada.com.br