Kalunga – A Morada dos Ancestrais
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Você certamente já deve ter ouvido falar sobre ‘Kalunga’ ou em algum momento presenciará dentro da Kimbanda ou Umbanda, o uso frequente desta palavra. Mas o que muitos não sabem, é sobre sua origem e profundo significado, nesta matéria buscarei demonstrar um lado que possa ser que não conheça, confira.
Etimologicamente este termo se originou a partir do idioma quimbundo (ka’lunga), que significa literalmente “mar“, mas pode ser usado para transmitir a idéia de “grandeza” e “imensidão“. Alguns estudiosos relatam que os negros utilizavam este nome para se referir ao deus dos missionários católicos, pois consideravam-no vago como a imensidão do mar.
Para os congos e angolenses, por exemplo, os primeiros a serem trazidos para o Brasil como escravos, Kalunga era uma palavra usada dentro de suas crenças para se referir o mundo dos ancestrais, pois era deste lugar que vinha a força para suportar os períodos tão trágicos e desumanos.
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Ponto antigo cantado por um Preto Velho
Os quindins, os quindins,
Os quindins, ô mujongo
Olha lá no mar
Olha lá no mar, ô mujongo
Olha mujongo no mar
Sua terra é muito longe, ô mujongo
Ninguém pode ir lá
Ninguém pode ir lá, ô mujongo
Olha mujongo no mar…
NOTA: Alguns costumam cantar outra versão, ao invés de dizer ‘olha mujongo no mar’, dizem ‘bota mujongo no mar’, pelo motivo da Terra Ancestral ser tão longe, que a única forma pelos vivos seria cultuando suas entidades na beira do mar, por não conseguirem cruzar o portal para outra dimensão.
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Segundo uma história do povo kalunga – o mundo era representado como uma grande roda cortada ao meio, e em cada metade havia uma grande montanha. Numa metade da roda, se encontrava o pico da montanha que ficava virado para cima, mas na outra metade a montanha estava invertida de cabeça para baixo. De um lado da roda, a montanha de cima representava o mundo dos vivos. Do outro, a montanha de ponta-cabeça representava o mundo dos mortos, a Terra de seus ancestrais.
Quando reparamos na cantiga de Preto-Velho exposta anteriormente “sua terra é muito longe… Ninguém pode ir lá…”, justamente pela Kalunga ser as águas que separa as dimensões, um portal de trajeto para o mundo espiritual ou pelo outro lado, uma volta para o mundo dos vivos. Dentro das Umbandas e Kimbandas, existe a Kalunga que se refere aos cemitérios, os antigos costumavam chamar de “Kalunga-Pequena”, devido os corpos serem depositados naquele local. Mas o maior portal está na imensidão, tão vasta de trajeto dos espíritos que é nas águas, conhecida como “Kalunga-Grande”, onde norteia grandes mistérios que ainda não existe tantos conhecimentos voltados sobre este lugar.
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Os africanos, principalmente os povos iorubás, levam muito a sério a ideia de respeito com o mar, pois existem até provérbios que dizem “ninguém sabe o que se encontra debaixo do mar verdadeiramente”, um lugar pouco explorado e incapaz do ser humano cavar as areias do mar.
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Kalungangombe na África, é considerado um deus angolense das profundezas do globo terrestre, conforme afirma Olga Gudolle Cacciatore (Dicionário de cultos afro-brasileiros, 1977), para ela, Kalunga-Grande passando pelo kimbundo (quimbundo) e sua origem africana, é o mar, o oceano. E Kalunga-Pequena, também possui formação histórica no kimbundo, que se refere ao cemitério, a morte; enquanto kalungas no plural – se refere a falange de seres espirituais ou dos povos kalunga.
Observação: O uso da palavra “Calunga”, também é correto, se refere a adaptação no português-brasileiro.
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É necessário que possamos refletir sobre a visão de mundo que os africanos tinham, pois associavam a palavra Kalunga à morte e o mundo dos mortos, de um jeito muito diferente que os brasileiros, vale ressaltar que na cultura ocidental o cemitério é visto como a morada dos mortos – um lugar tristre e muita das vezes assustador, enquanto para os povos kalunga, era o que tornava uma pessoa renascida, podendo se tornar ilustre e importante, porque mostrava que aquela pessoa tinha incorporado em sua vida espiritual a força de seus antepassados, sendo assim, os reis acreditavam que só governariam enquanto fossem capazes de se manterem um povo unido em torno dessa força.
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Os kalungas também são conhecidos como os descendentes de escravos fugitivos e libertos que formaram uma comunidade autossuficiente na região atualmente conhecida como o estado de Goiás, no centro do Brasil.
Dentro da crença afro-brasileira existe entidades chamadas de Kalunga (Calunga), como por exemplo, Calunguinha, Exu Calunga, entre outros, que recebem este nome porque justamente são ligados ao oceano e outros ao cemitério. Na Umbanda existe um seguimento em que as entidades pertencentes a Kalunga-Grande são espíritos ligados a Iemanjá, e os espíritos ligados à Kalunga-Pequena são espíritos que trabalham na linha de vibração do Senhor Omolu.
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Cantiga do Exu Calunga
Eu tô te chamando, ó Calunga!
Pra você vir trabalhar,
Quando eu te vejo, ó Calunga!
Vejo também a sereia do mar.
Eu tô te chamando, ó Calunga!
Pra você vir trabalhar,
Quando eu te vejo, ó Calunga!
Vejo também a sereia do mar.
Eu tô te chamando, ó Calunga!
Pra você vir trabalhar,
Chega também a sereia do mar.