MÚSICA CLÁSSICA PARA O CORAÇÃO
Em uma experiência que vem sendo chamada de “Música para o coração”, hospital troca remédios por música clássica e oferece mais qualidade de vida a pacientes e funcionários
Texto • Carine Portela
Em vez de placas pedindo silêncio, as paredes da Unidade Cardio-Intensiva Clínica do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL) exibem caixas de som. Através delas, a música ambiente toca sem parar, em uma medida que faz parte de um projeto para humanizar o atendimento na unidade e tornar o ambiente hospitalar o mais acolhedor possível.
A experiência vem sendo realizada há pouco mais de um ano e já mostra resultados que impressionam: segundo um levantamento feito junto à farmácia do hospital, o consumo de tranquilizantes e sedativos pelos pacientes foi reduzido em até 40%. Até mesmo a procura pelos remédios injetáveis, utilizados apenas nos casos mais sérios, caiu significativamente.
Além de clássicos como Mozart, Vivaldi e Chopin, melodias baseadas em sons da natureza também fazem parte do repertório. Segundo a chefe da unidade, Dra. Cynthia Karla Magalhães, como as músicas são relaxantes, o ambiente fica mais tranquilo e menos estressante. Além disso, as canções têm o poder de amenizar a ansiedade de alguns pacientes, o que pode diminuir o tempo de internação na unidade, que atende pessoas com problemas cardíacos graves.
Segundo dados do INCL, todos os 350 pacientes que passaram pela UCI no primeiro ano da experiência reagiram de alguma forma ao tratamento musical, embora uns com mais e outros com menos intensidade. “Para mim, foi surpreendente. Até para os inconscientes o consumo de sedativos e tranquilizantes diminuiu”, explica a chefe da unidade.
Mas os internos não foram os únicos beneficiados pelo lirismo que invadiu o ambiente antes marcado por ansiedade e estresse: as caixas de som abrangem também as salas dos médicos, das enfermeiras e o local em que os visitantes aguardam para visitar familiares internados. “Todos os funcionários ficaram muito satisfeitos e sentiram melhoras em seus rendimentos”, atesta Dr. Wagner de Almeida Alves, que faz parte da equipe médica do setor. Ainda de acordo com o cardiologista, “um questionário com os familiares dos pacientes também avaliou a ação de forma muito positiva”.
A ideia, que hoje é unanimidade, não poderia ter surgido de maneira mais democrática: foi sugerida pelos próprios funcionários, em um questionário em que eram pedidas sugestões para melhorias no ambiente de trabalho. A solicitação agradou à chefia da UCI, que resolveu apostar no poder da música como uma alternativa barata, viável e sem contra-indicações para melhorar a qualidade vida de funcionários e pacientes.
Hoje, ninguém admite que o setor fique em silêncio nem por um segundo: “Quando o CD acaba e nos esquecemos de trocar, sempre tem um paciente que nos avisa”, conta Dra. Cynthia, que se tornou uma verdadeira entusiasta do projeto.
Fonte: Triada.com.br