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Relíquias do Cristianismo

Desde a Idade Média, as relíquias que estariam envolvidas na trajetória de Jesus geram discussões, mobilizam fiéis e desafiam a ciência. Acompanhe a história por trás dos itens mais famosos.

Texto • Aline Leão / Triada.com.br

Não muito tempo após a crucificação de Cristo, curiosos objetos começaram a ganhar fama no mundo todo, apresentados como coadjuvantes da vida e dos momentos finais do filho de Deus. Essas fabulosas e controversas relíquias passaram a mobilizar um número imenso de fiéis e a despertar a cobiça de cristãos que acreditavam em seus poderes milagrosos, bem como acalorados debates acerca de sua autenticidade.

Segundo o historiador Francisco Marshall, foi após o fim das Cruzadas, por volta do século 13, que o culto às relíquias atingiu seu auge, quando os normandos voltaram da Terra Santa com coleções enormes de artefatos supostamente sagrados. No entanto, a ideia dos guerreiros era, a partir da venda dos objetos, resgatar uma parte dos investimentos feitos nas expedições. Por isso, sua veracidade é questionada.
 
Chamariz de fiéis
Ainda na Idade Média, começaram a ser levantadas as principais catedrais católicas do mundo, cuja construção era financiada por donativos da comunidade. Nesse contexto, a capacidade dos templos de atrair fiéis e peregrinos dispostos a ceder generosas contribuições estava diretamente relacionada à quantidade e à qualidade de relíquias expostas para veneração. Assim, na Antiguidade podiam ser encontradas peças bastante curiosas, como as fraldas do bebê Jesus e os ossos do jumento que ele teria cavalgado ao adentrar Jerusalém.
A autenticidade desses artefatos, no entanto, nunca deixou de produzir grandes debates entre historiadores, cientistas e fiéis. O reformador João Calvino, fundador da Igreja Protestante na França e cético em relação às relíquias, por exemplo, chegou a afirmar que havia tantos pedaços de madeira da cruz espalhados pelo mundo que “com eles seria possível construir uma frota de barcos”. Já o erudito Fernand de Mély estimou existirem mais de 700 espinhos da coroa de Cristo.
Verídicos ou não, diversos objetos relacionados à vida de Jesus continuam a fascinar os devotos até os dias de hoje. Confira, a seguir, um pouco mais sobre algumas dessas relíquias.

Localização do “Santo Graal” dentro da Catedral de Valência, na Espanha

Santo Graal
O cálice utilizado durante a Última Ceia teria recolhido o sangue que jorrou do corpo de Cristo quando ele, na cruz, recebeu o golpe de misericórdia, inferido pelo soldado romano Longinus. Algumas lendas dizem que o portador do recipiente teria sido José de Artiméia, mas outras versões afirmam que o cálice teria ficado sob a guarda de Maria Madalena, que o levou consigo para a França, onde passou o resto de sua vida. De lá para cá, surgiram fantásticas histórias relacionadas ao Graal, que deram vida desde à lenda do Rei Arthur até a misteriosa existência de sociedades secretas, como o Priorado de Sião. Mais recentemente, o mito ganhou novo fôlego graças a uma série de obras populares que exploram seu mistério, como o filme Indiana Jones e o livro O Código da Vinci. Hoje, no entanto, a Igreja Católica não dá ao cálice mais do que um valor simbólico e acredita que o Graal físico não ultrapassa os limites da literatura e da fantasia.