Série: Entre o Real e o Invisível

Carregar o fardo de se colocar em vários lugares ao mesmo tempo, mesmo que não seja por responsabilidade própria.

Episódio 1 – Processo de Vida Adulta

Antes de começar, quero deixar algo claro: tudo o que escrevo aqui diz respeito às minhas experiências e à percepção que me foi concedida conforme as aprendizagens da vida. Caminho na humildade e na compreensão de que somos incapazes de saber tudo — e, obviamente, não sabemos.

Escolho me colocar nesse lugar de liberdade e responsabilidade, ainda que muitas vezes isso seja interpretado de forma rasa. Não está no meu controle o modo como as pessoas compreendem o que digo, mas me disponibilizo sempre a esclarecer qualquer dúvida sobre minhas opiniões e percepções.

Não sei de tudo — e, com certeza, erro em muitas coisas. Mas sei de uma: ninguém foge dos fatos.
Aquilo que já foi solucionado não precisa ser resolvido de novo. Ainda assim, vejo muitas pessoas se debatendo com problemas que já têm resposta, porque não se permitem enxergar além da ilusão e limitação humanas. Julgam quem mergulha fundo, sem perceber que poderiam fazer o mesmo.

Cada vivência traz consigo recordações, marcas e revelações. Poderia guardar tudo para mim, mas escolhi compartilhar — e é isso que faremos aqui.
Esses episódios seguirão de trás para frente, do presente até meados do passado.


Aceitar a vida adulta

Um dos processos que venho atravessando é o de aceitar a vida adulta.
Eu sei: existem frases prontas e bonitas por aí — mas a vida real não funciona de forma generalizada. E, sim, ainda vamos falar sobre generalização mais adiante.

Na prática, as coisas são diferentes. São subjetivas, como nós.
Podemos resistir, negar ou tentar fugir, mas o que é real, é real.

Durante muito tempo, acreditei que quem “comandava” minha vida eram meus pais, minha família… até perceber que essa voz autoritária vinha de mim mesma. Cresci, formei minha base psíquica, vivi os traumas e aprendizados familiares como qualquer pessoa. E percebi o quanto repetimos frases e comportamentos generalizados, que acabam só complicando ainda mais as relações.

Essa voz exigente cresceu comigo — e junto vieram as cobranças externas.
E então, veio o medo de crescer. Como dar conta de mim mesma depois de tudo?

A verdade é que até hoje eu não dou conta de tudo. E tudo bem.
Tenho 20 anos — e me pergunto: por que essa cobrança toda? (risos)

A vida é um processo constante.
E me pergunto como lidam com isso aqueles que se recusam a aceitar que estamos em transformação até o último dia.

Se para quem já tem certa consciência do próprio passado e das próprias escolhas a vida já pesa, imagine para quem carrega tudo isso sem perceber?

Percebi que muitas vezes as pessoas não me entendem — basta observar como me abordam, como questionam, como projetam sobre mim opiniões que eu nunca pedi. Mas tudo bem: uso cada situação como oportunidade de aprendizado e crescimento.

Os questionamentos geralmente vêm com um tom de discordância. E está tudo certo — ninguém precisa concordar comigo. É a minha vida, e o que compartilho aqui é o que faz sentido para mim. Não existe fórmula mágica, mas se alguma parte do que eu digo fizer bem a alguém, então meu propósito já estará sendo cumprido.


Ser adulta para o Ravi

Aceitar a vida adulta também é encarar papéis que surgem sem aviso.
Quando meu irmão Ravi me chama para acompanhá-lo lá fora à noite porque está com medo, eu também tenho medo. Mas, para ele, sou a adulta que o protege — e, nesse momento, eu realmente sou.

A chegada do Ravi trouxe renovação à minha vida. Depois dele, comecei a buscar ainda mais autoconhecimento para poder ajudá-lo em seu crescimento. É minha primeira vez sendo irmã mais velha — e, olha, eu não “judiei” dele como fizeram comigo (risos).


O que mais me intriga

A vida é cheia de fenômenos, e o que mais me intriga hoje é perceber como, nesse processo, os questionamentos vêm carregados de desconfiança ou descrédito.

As pessoas evitam se posicionar abertamente — e por isso, incentivo tanto que o façam.
Vejo muita gente vivendo no off, cheia de dúvidas, vontades e dores, mas incapaz de olhar para o próprio processo sem desespero, medo ou insegurança.

O que mais me preocupa, porém, são as certezas.
Quando alguém chega com certezas absolutas, seja para uma conversa ou um atendimento, sinto um canal energético fechado — algo que não consigo acessar.

Vivemos, em grande parte, adormecidos.
E muitos de nós podem atravessar a vida inteira assim — sem jamais olhar profundamente para o próprio processo.