Stupa: Uma Escada para o Nirvana
Um símbolo: Buda em postura de meditação. Uma forma: a de um relicário devocional. Dessa maneira, a stupa encerra em si a riqueza material e espiritual do budismo tibetano
Texto • Isis Gabriel
Buda Shakyamuni, ao perceber a proximidade de sua morte, pediu a seus discípulos que cremassem seu corpo e depois depositassem suas cinzas em um monumento sagrado conhecido como stupa. Dessa forma, afirmou Buda, ficaria para sempre mantida sua ligação espiritual com os homens. Conta-se que assim foi feito e por isso até hoje são erigidas stupas quando grandes mestres budistas morrem.
Mas antes mesmo de Buda nascer, stupas já eram construídas na Índia. Algumas com o objetivo de servir de túmulo de reis e nobres, outras como monumentos bramanistas. Porém, somente depois da passagem de Buda na Terra, as stupas passaram a ser reconhecidas e construídas para fins devocionais.
Mais do que honrar os mortos, essas construções reverenciam acima de tudo a vida. Isso porque a stupa é um marco de encontro entre discípulos e mestres, da sabedoria de Buda compartilhada com os homens. As pessoas que visitam essas obras renovam a conexão com os ensinamentos de seus mestres espirituais e são convidadas a meditar e pensar sobre sua vida e sabedoria.
Devoção e simbolismo
“A estrutura da stupa simboliza Buda sentado em meditação, sustentado por leões, que representam a nobreza e também nossa personalidade violenta que está sendo subjugada”, fala Roque Enrique Severino, conhecido como Naljorpa Karma Zopa Norbu, da linhagem Dak Shang Kagyu, diretor fundador do centro budista Jardim do Dharma, em São Paulo. Ele ainda explica que as stupas podem ser feitas em qualquer tamanho e material, desde que obedeçam aos cânones de sua construção e se coloque relíquias sagradas, como mantras, restos mortais e pedaços de tecidos e objetos que pertenceram a grandes mestres budistas.
As stupas mais conhecidas são monumentos a céu aberto, verdadeiros santuários, para onde são feitas peregrinações. Diante de uma stupa é costume fazer prostrações, orações ou meditações para assim receber as bênçãos e lembrar os ensinamentos de Buda. Podemos, por exemplo, perceber que a stupa, com sua base larga e ápice pontiagudo, nos remete à nossa travessia de vida – desde nosso apego à Terra, nossa escalada pelos degraus de sabedoria até à iluminação suprema.
Arquitetura sagrada
A construção de uma stupa obedece instruções precisas que devem ser seguidas de forma rigorosa. De forma geral, a stupa tibetana apresenta:
1 – Fundação quadrada que representa a Terra e os 10 atos virtuosos.
2 – Três degraus que representam as três jóias: Buda, Dharma e Sanga.
4 – Trono, um suporte formado por oito leões da neve, dividido em pares e situados em pontos cardinais.
5 – Vaso dos tesouros que fica dentro da base e simboliza as 8 nobres riquezas.
6 – Três degraus que representam as virtudes transcendentais e outros quatro que simbolizam as atenções fundamentais, os esforços perfeitos, os quatro pilares miraculosos e as cinco faculdades espirituais.
7 – Base imutável que sustenta a bumpa ou jarra, que representa o elemento água e os sete ramos do despertar.
8 – No interior da bumpa existe um pilar de madeira, conhecido como alma da stupa, que parte de uma mandala e no qual se escrevem cinco mantras.
9 – Uma flor de lótus aberta.
10 – Base quadrada onde se pintam os olhos de Chenresig, o Bodhisatwa da compaixão infinita.
11 – 13 discos que representam os 13 anéis do Dharma.
12 – Guarda-chuva que representa o elemento ar e as qualidades supremas que protegem contra todo o mal existente.
13 – Os símbolos do sol e da lua são emblemas da Unidade Gêmea da Verdade Absoluta e da Verdade Relativa. A lua representa a eliminação de todos os sofrimentos e o sol, o resplendor da compaixão.
14 – Jóia que simboliza o espaço, a vacuidade e a realização de todos os desejos e também a semente da mais alta iluminação.