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Summerland: O Paraíso da Wicca

Os seguidores da wicca acreditam que, após a morte, partimos para um lugar lindo e tranquilo, onde o verão nunca tem fim. É Summerland. Saiba mais sobre esse cenário ilídico a seguir.

Texto • Lívia Filadelfo / Triada.com.br

Embarque em uma viagem para um lugar chamado Summerland, ou Terra do Verão. Imagine um mundo paralelo em que é possível estudar, compreender melhor a vida que se passou e até planejar a próxima encarnação. Um período de descanso e recuperação, um tempo para que o morto se harmonize e se prepare para renascer. Um lugar paradisíaco e mágico, um reino habitado por criaturas mitológicas e deuses. Lá também é possível rever aqueles que partiram antes de nós. E como se não bastasse, em Summerland o verão é eterno.

“A crença na existência de Summerland, compartilhada por muitos seguidores da wicca, tem suas origens na mitologia celta, segundo a qual havia um reino, chamado Tir Nan Og, A Terra da Juventude Eterna, para onde os mortos se dirigiam”, explica o sacerdote wiccaniano Claudiney Prieto, autor do livro Ritos de passagem: celebrando nascimento, vida e morte na wicca (Editora Gaia). De acordo com o escritor, a ideia não provém apenas da cultura celta, mas é um misto de elementos mitológicos de várias culturas.

O conceito de verão eterno, por exemplo, também é encontrado em diversos mitos gregos, que mencionam um lugar chamado Hiperbórea. Trata-se do reino dos hiperbóreos, povo lendário que, para os antigos gregos, habitava uma região sempre ensolarada na extremidade setentrional da Terra, além do vento norte.

Significado da morte

Todo wiccaniano acredita que quando alguém morre, volta para o ventre da Deusa, o grande caldeirão de renascimento. A morte seria um momento sagrado, onde a própria deusa entra em ação para dar continuidade ao ciclo. As correntes wiccanianas se diferenciam justamente na questão de como se processa este renascimento.

Mas Summerland não é o único lugar pós-morte da wicca. Existe uma corrente de pensamento segundo a qual as pessoas retornam à vida no corpo de descendentes da família. E outra que acredita que o homem possa renascer como parte de algum animal, vegetal, estrela ou qualquer outra coisa existente no universo.

Mas a maioria dos wiccanianos acredita em reencarnação ou em alguma forma de vida após a morte. Para a wicca, o espírito é energia, sem forma e sexo, e se move através dos mundos encarnando em diferentes corpos, em diferentes tempos e lugares. Cada encarnação vivida representa uma nova experiência adquirida para a evolução da alma de cada indivíduo.

Há ainda a crença que, em Summerland, os espíritos que não desejam renascer tornam-se mentores daqueles que estão vivos. Eles são chamados de ancestrais, aqueles que viveram em alguma época e hoje zelam por seus familiares.

Em busca do paraíso
 Ao longo dos anos, os povos de diferentes origens imaginaram como seria o mundo dos mortos. Avalon é um deles. Um reino perfeito de amor e beleza é assim que Avalon é descrita em antigos manuscritos irlandeses. Avalon é apenas uma das demonstrações da crença da humanidade na existência de um lugar melhor para se viver, mesmo que seja após a morte. 
Outro destino dos mortos na mitologia celta era Caer Siddi, o Outro Mundo ou Terra da Eterna Juventude. Existia em Caer Siddi uma fonte que jorrava vinho doce. Lá o envelhecimento e as doenças eram desconhecidos. Entre outros seus tesouros, havia em Caer Siddi um caldeirão mágico. Na mitologia céltica existem dois tipos de caldeirão: o caldeirão do renascimento e o caldeirão da abundância. Dagda, pai de todos os Deuses, possuía um caldeirão proveniente da cidade de Múrias. Ao provar dele, ninguém passava fome. Já Matholwch recebera o caldeirão do renascimento do Deus Bran e com ele era possível ressuscitar um morto, mas ao renascer ele perdia a capacidade de falar.

Funeral ritualístico

O réquiem, como é chamado o ritual de funeral, é uma celebração festiva, um momento de relembrar todas as coisas boas na vida daquele que morreu. Nesta ocasião, os amigos dançam e escutam as músicas preferidas do morto, além de servirem o seu prato preferido.

As roupas e os mantos utilizados no luto são brancos porque a deusa da face pálida é a senhora da morte e, nos mitos celtas, esta cor representa “o outro mundo”. “É aconselhável que o wiccaniano revele em vida aos seus familiares e amigos o desejo de ter um funeral pagão. Ele poderá descrever em seu livro das sombras como deverá ser o seu réquiem, indicando como gostaria que fosse realizada a cerimônia, quais cânticos sagrados deveriam ser cantados, quais textos devem ser lidos, quais as flores que gostaria de ver ornando o seu funeral, além de deixar registradas mensagens para as pessoas amadas que poderão ser lidas durante o rito”, aconselha Prieto.

O melhor momento para a celebração do réquiem é o dia do sepultamento da pessoa falecida. Se for possível, o ritual será feito durante o decorrer dos preparativos para o sepultamento com corpo presente de forma que o bruxo falecido seja devidamente abençoado e purificado. Quando não há esta possibilidade, ou quando a família não deseja um funeral pagão, o réquiem pode ser feito somente com os membros da comunidade espiritual do bruxo, alguns familiares e amigos mais próximos. Neste caso, o ritual é realizado uma lunação (28 dias) após o falecimento do bruxo. O rito de réquiem é realizado novamente após 1 ano e 1 dia do falecimento, como forma de honrar a memória e guiar definitivamente o espírito ao País de Verão.

Ritual para réquiem

Antes de qualquer coisa a pessoa falecida deverá ser abençoada e purificada. Este ato é geralmente realizado pelo sacerdote ou sacerdotisa do coven, grove ou círculo. Na falta de uma dessas pessoas, a bênção pode ser realizado por alguém de especial estima para o falecido. Uma mistura com água e sal é preparada e então se inicia o processo de bênção do corpo. 

São colocadas no bruxo vestes cerimoniais, seus braceletes, colares, pingentes, diadema e demais jóias ritualísticas que lhe foram importantes em vida. Se instruções para o funeral foram deixadas pelo bruxo, elas deverão ser seguidas à risca, pois este é o seu último desejo. 

Todos os participantes, ou pelo menos aqueles que participam ativamente da cerimônia, devem estar usando mantos ou roupas na cor branca, que representa o luto wiccaniano. O altar que será utilizado deverá ser decorado com flores e velas roxas, brancas, laranjas e negras e com símbolos e estátuas de deuses anciões. Sobre ele algumas frutas, comidas e bebidas preferidas do falecido. Um vaso de barro deverá estar em algum lugar de proeminência sobre o altar ao lado de um objeto pessoal do bruxo falecido que não precisará ser mais usado. Enrolado no vaso deverá estar o cordão iniciático do bruxo.

Em seguida, um portal é aberto ao Oeste enquanto se diz: “hoje estamos reunidos para nos despedir de (citar o nome do falecido) com quem tantas vezes nos reunimos para celebrar a Deusa. O Senhor das Sombras veio buscá-lo para levá-lo ao País de Verão. Que o Confortador possa acompanhá-lo ao lugar onde o Sol jamais adormece para que nosso irmão reencontre a Grande Mãe e seus Ancestrais. Seja bem vindo a este Rito, (fala-se mais uma vez o nome da pessoa que morreu), que é realizado em sua honra!”.

O Oficiante, então, estende a sua mão através do portal e visualiza o falecido segurando-a. Desta forma ele é conduzido para dentro do Círculo. Caso o ritual não seja feito com o corpo presente, a foto da pessoa é passada entre as pessoas presentes enquanto pede-se que retenham o semblante do falecido na memória. O Oficiante toca 3 vezes o sino e diz: “feliz será nosso reencontro. A promessa então será cumprida e um dia nos encontraremos em um outro tempo, noutro lugar, para nos reconhecermos, nos amarmos e nos reunirmos novamente. A Deusa agora preparará (nome da pessoa) para uma nova vida!”

O Oficiante toca o sino por mais 3 vezes e em seguida conduz uma meditação ao som do tambor ou chocalho dizendo: “nosso irmão (fala o nome) está aqui! Sintam sua presença, seu sorriso, sua voz, seu perfume. Nosso irmão (mais uma vez seu nome é falado) está aqui, nos abençoando e nos agradecendo por esta última homenagem. Abençoado seja!”

Os presentes entoam cânticos sagrados. O cordão que envolve o vaso é desenrolado e colocado solenemente no interior do caixão, ou do vaso caso o corpo não esteja presente, representando que agora a alma do bruxo está livre para seguir em direção ao outro mundo. O objeto pessoal do bruxo é colocado no interior do vaso, que deverá aguardar sobre o altar.

O Oficiante então diz: “vamos nos voltar ao Oeste, onde está a Ilha do Renascimento. Fechando nossos olhos, contemplemos ao longe o mar. Este é o oceano primordial de onde toda forma de vida surgiu, ele é o útero da Grande Mãe, de onde viemos e para onde retornaremos. Contemple o mar e suas águas, sinta sua calma e tranqüilidade. Veja ao longe uma linda Ilha, a Ilha das Maçãs. Um pequeno ponto de luz sai de onde parece ser esta ilha, navegando sobre o oceano vindo em nossa direção. Lentamente você começa a visualizar que este ponto de luz é uma pequena embarcação. Nela estão alguns dos ancestrais amados de nosso irmão e seus deuses de devoção. Eles vieram buscá-lo, para levá-lo até o País de Verão, onde o Sol jamais adormece. Veja-o indo em direção à barca, que conduzida pelo barqueiro segue novamente em direção à Ilha.”

O vaso é quebrado. Seus cacos são recolhidos e colocados no saquinho de veludo roxo. O saquinho é colocado no interior do caixão juntamente com o bastão da fala (se o ritual estiver sendo realizado dias após o sepultamento, o saquinho será enterrado aos pés de uma árvore frondosa), enquanto o Oficiante diz: “nossos pensamentos estão agora com você (cita-se o nome do falecido).”