TRANQUILIZE-SE COM OS MANTRAS BUDISTAS

Saiba como o budismo abraça a tradição dos mantras, sons poderosos que acalmam a mente, ao mesmo tempo em que evocam energias positivas das mais poderosas divindades

Texto • Thiago Perin
Fonte: Triada.com.br

Apesar de estarmos mais acostumados a associar o conceito de mantra à religião hinduísta, o budismo também incopora essessons sagrados em sua doutrina. E nele, por outro lado, não existe crença em tal poder inerente aos mantras. A menos que sejam entoados por um bodhisattva (um ser de sabedoria muito elevada), eles são apenas sons que evocam energias sagradas de Buda ou de outras divindades – quase como a Ave Maria do catolicismo.

Em geral, os mantras budistas são frases curtas, compostas por mestres espirituais da religião, com o objetivo de abrir a mente e permitir que a iluminação tome conta dos pensamentos. Cada vertente (como o budismo chinês, o tibetano e o zen-budismo) pode ter características individuais no que se refere à utilização dos mantras, mas a prática está presente em todas elas. No vajrayana, por exemplo, a repetição das frases sagradas é tão importante que esse estilo é também chamado de “mantrayana”, palavra que pode ser traduzida como “veículo do mantra”.

Dentro do budismo tibetano, um dos mantras mais conhecidos é o Om Mani Padme Hum (pronuncia-se “Om Mani Peh-meh Hoon”), associado ao conceito de busca pela compaixão irrestrita e conhecido como “Seis Sílabas” ou “Grande Mantra”. É um bom exemplo do caráter poético e contemplativo dos sons entoados pelos budistas: nele, “Om” representa o absoluto; “Mani” é a “jóia da compaixão”; “Padme” significa flor-de-lótus, a planta de beleza única que nasce no lodo; e “Hum” representa a mente iluminada. A tradução aproximada desse mantra pode ser “a jóia no coração do lótus” ou “a iluminação está em tudo”.




SIDDHARTA GAUTAMA: O PAI DO BUDISMO

Ele abandonou palácios e riquezas e se lançou em uma jornada espiritual em busca das razões do sofrimento humano. Nesse processo, fez nascer uma das mais belas doutrinas religiosas do mundo. Conheça a vida e as lições de Siddharta Gautama

Texto •  Geisa D’avo

Imagem: Freepik.

Siddharta Gautama, o personagem principal da história que será narrada a seguir, viveu há mais de 2.600 anos, no reino de Shakya, na Índia. Naquele tempo, a sociedade indiana já era dividida em diferentes classes ou castas, cada qual delimitada de acordo com o poder de seus integrantes – enquanto os filósofos e sacerdotes brâmanes podiam desfrutar da prosperidade, sudras e párias sofriam com a fome, a pobreza, a escravidão e o preconceito.

Nesse sombrio e desigual panorama, Gautama nasceu como príncipe, e poderia ter vivido como tal até o fim da vida, não fosse por um pequeno – mas fatídico – detalhe: certo dia, ele foi acometido pelo inquietante e profundo desejo de descobrir a razão do sofrimento humano, e o remédio para acabar com ele.

Presságios e proteção

“Conta a lenda que, quando Siddharta nasceu, um velho sábio saiu da montanha em que vivia meditando apenas para vê-lo, porque tinha tido uma visão de que nasceria um grande líder. Ao olhar para a criança, o sábio confirmou: o recém-nascido seria um grande rei, porém espiritual. Aquilo deixou seu pai extremamente revoltado, afinal, se Siddharta se dedicasse à vida religiosa, certamente abandonaria o reino”, relata Fábio Takahashi, monge do templo budista japonês Honpa Hongwanj.

Para impedir que seu filho abrisse mão da condição de príncipe e deixasse seu reino à mercê dos povos vizinhos, o rei Suddhodana decidiu seguir as recomendações dadas pelo sábio. Mesmo com a morte da rainha Maya, ocorrida apenas uma semana após o nascimento de Siddharta, o rei proporcionou ao filho uma vida repleta de cuidados e alegrias, e fez de tudo para privá-lo de conhecer o sofrimento humano. Assim, durante anos, Siddharta conheceu apenas o luxo de seus palácios, onde era treinado para tornar-se um verdadeiro líder militar. Casou-se aos 16 anos e logo teve um filho, mas, ainda assim, via crescer a cada dia a vontade de compreender melhor a natureza humana.

Aos 29 anos, Siddharta não tinha ouvido falar muitas vezes sobre as tristezas da vida, até que se deparou com uma situação inusitada: em passeios nos arredores do palácio, encontrou um homem idoso, uma pessoa doente e um cadáver. Estes encontros, ao mesmo tempo em que o apresentaram ao sofrimento humano, o instigaram a procurar a causa de tanta dor. “Quando o príncipe Siddharta, sem querer, se deparou com a velhice, a doença e a morte, se sentiu mal com isso e passou a procurar respostas para entender porque o ser humano sofre. Sua primeira atitude foi explicar ao pai que, mesmo sem conhecer o sofrimento, queria entender o motivo dessas tristezas”,  conta Takahashi.

O instinto de Siddharta não era tão incomum entre os nobres daquela época. Enquanto uns tornavam-se grandes líderes militares, outros abriam mão de suas riquezas e de seu status social para viver na mendicância, pois acreditavam que dessa maneira atingiriam a iluminação completa. A prática, conhecida como ascetismo, atraiu o príncipe, que decidiu adotá-la para encontrar a verdade da vida, mesmo que para isso fosse necessário renunciar ao cotidiano repleto de regalias que tinha ao lado de sua família. “Ele precisava dessas respostas e foi procurá-las, por ele e por toda a humanidade”, afirma o monge.

O caminho do meio

Após alguma peregrinação, Siddharta juntou-se a um grupo de cinco brâmanes que praticavam o ascetismo rigoroso em uma vila localizada às margens do rio Nairanjanana. Lá, por seis anos, o príncipe desenvolveu técnicas avançadas de meditação e respiração e manteve uma dieta restrita ao mínimo necessário para a sobrevivência – condições que o levaram à automortificação.

Desgastado, e vendo seu organismo em estado de quase completa inanição, Siddharta percebeu que práticas tão austeras não surtiam o efeito que imaginava e sequer trariam a iluminação. “Após ter feito práticas ascéticas extremamente rigorosas, ele se deu conta de que tinha exagerado. Assim, teve a percepção do Caminho do Meio, ou seja, da sábia postura de se evitar os extremos”, explica Walter Morita, professor do Centro de Meditação Shambhala, de São Paulo.

Quando desistiu da vida completamente ascética, Gautama foi abandonado pelos outros ascetas que lhe acompanhavam. Mas, por outro lado, foi nesse momento em que lhe ocorreu a noção do Caminho do Meio, primeiro dos seus ensinamentos.

Segundo a lenda, um dia, Siddharta ouviu um pai ensinar ao filho como funcionavam as cordas de um instrumento musical. O homem explicava que cordas frouxas impediriam a reprodução do som; porém, quando apertadas demais, elas arrebentariam. Nesse momento, ele percebeu que o mesmo acontecia com a busca pela verdade – nem a vida mundana, nem a vida de provações seriam adequadas para atingir seu objetivo.

Por sete semanas, Gautama procurou estabelecer uma vida intermediária e permaneceu em estado de reflexão sobre coisas que, até então, estavam fora do alcance de sua compreensão. Esquivou-se ainda das tentações e, até mesmo, da possibilidade de retornar à vida de príncipe, porque já enxergava que as mudanças procuradas não viriam de fatores externos, mas de seu interior. Ao notar que havia desenvolvido a capacidade de elevar-se diante dos males que carregava, percebeu também que seu objetivo fora atingido. “Quando chegou à iluminação, ele estava em um estado de absorção meditativa profundo, em que há apenas a percepção direta da realidade”, afirma Morita.

A partir daquele momento, Siddharta compreendia a extensão da vida como algo ilimitado, seja no passado, no presente ou no futuro, e enxergava a harmonia entre o universo e sua própria existência. Assim, teve a certeza de ter encontrado a resposta que tanto procurava.

Era, sim, possível superar o sofrimento e viver uma vida feliz, mas para isso cabia a cada um libertar-se das ilusões mundanas e desenvolver a natureza iluminada, inata a todos. Transformava-se dessa maneira – por si mesmo e por meio do seu caminho – no Buda Shakyamuni, aquele que originaria o budismo e levaria seus ensinamentos para toda a humanidade.

Os passos de Buda

A condição de desperto trouxe a Buda um novo desafio. Desejava, agora, estender sua percepção a todos aqueles que conviviam com o sofrimento, independentemente de sua classe social ou estilo de vida. Porém, ele sabia que explicar o processo pelo qual havia passado poderia não ser suficiente para que todos o compreendessem.

Em sua concepção, as pessoas eram como flores que percorrem estágios distintos até desabrocharem por completo para sua verdadeira condição. Diante disso, decidiu retornar à vila onde havia praticado a automortificação para reencontrar os ascetas e tentar mostrar o caminho que descobrira.

Utilizando-se de compaixão, Shakyamuni conseguiu transmitir as verdades do Caminho do Meio aos antigos companheiros. Em seus sermões, falava ainda das Quatro Nobres Verdades (que delimitavam as origens do sofrimento humano) e do Caminho Óctuplo, no qual determinava de que maneira o sofrimento poderia se superado. Em seguida, com seus novos discípulos, Buda Shakyamuni iniciou sua peregrinação por toda a Índia, onde encontraria povos sedentos por mudanças e levaria seus conhecimentos por meio de diálogos. “Diz-se que Buda dava os ensinamentos espontaneamente de acordo com a capacidade dos ouvintes. Assim, durante os 40 anos após sua iluminação, ele teria dado ensinamentos cada vez mais elevados de acordo com a realização dos discípulos que o acompanhavam ou de acordo com público ao qual proferia seus sermões”, explica Morita.

Ao contrário do que pregavam os princípios brâmanes, Buda não fazia qualquer distinção entre seus discípulos, pois acreditava que todos os homens eram iguais. Por conta disso, foram incontáveis as vezes em que se viu ameaçado por representantes do bramanismo, que desejavam conter o avanço do budismo. Mas, com persistência e paciência, Shakyamuni teve suas palavras amplamente acolhidas por pessoas das mais diversas origens, atingindo inclusive inúmeros reis.

Por muitos anos, Buda Shakyamuni partiu em caravanas com seus discípulos para lugares variados, onde conquistava novos seguidores em busca da verdade da vida. Vivia de maneira simples, alimentava-se pouco, mas mantinha-se sempre disposto a falar com todos e mostrar-lhes a importância de persistir na procura pela iluminação. Aos 80 anos, acometido por uma doença, Shakyamuni faleceu e deixou a seus discípulos grande parte do seu conhecimento. “Ele mostrou que nós podemos nos iluminar e que não precisamos esperar a morte para começar este caminho. Podemos fazê-lo no dia-a-dia”, conclui o Monge Takahashi.

Os ensinamentos do mestre

Refletir sobre os ensinamentos de Buda Shakyamuni é o primeiro passo para a conquista de uma mente serena e um mundo de paz. Acompanhe alguns deles.

Consciência
“Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.”


Sentimentos
“O ódio não cessa com ódio, mas apenas com amor. Essa é a regra eterna.”


Tempo
“Não viva no passado, não sonhe com o futuro, concentre sua mente no momento presente.”


Verdade
“Não acredite em nada que não concorde com sua própria razão e seu próprio senso, nem mesmo em um ensinamento meu.”


Felicidade
“Se um homem fala ou age com o pensamento puro, a felicidade o acompanha como uma sombra que jamais o deixa.”

A verdadeira face de Buda Shakyamuni

No Ocidente, quando pensamos em Buda, é muito comum vir à mente a imagem de um sujeito careca, rechonchudo e simpático. Trata-se de uma figura iluminada, sem dúvida, mas que nada tem a ver com Siddharta Gautama – ela é, na verdade, a representação de Hotei, um monge budista chinês conhecido por cativar a todos com seu sorriso. Por sua vez, o verdadeiro Siddharta Gautama é magro, tem cabelos encaracolados, um semblante sereno e, na maioria de suas representação, aparece sentado sobre uma flor de lótus.

Somos todos Budas

Ao contrário do que muitos ocidentais imaginam, o termo Buda não significa Deus. Buda significa simplesmente “aquele que despertou” e é um título utilizado para designar o homem que conseguir atingir a iluminação em sua plenitude, assim como fez Buda Shakyamuni. Vale lembrar que, na visão budista, todos os seres podem chegar a esse estágio, ou seja, todos nós temos potencial para nos tornarmos um “Buda” – mesmo que isso leve muito tempo, e até mesmo muitas encarnações, para acontecer. Segundo Shakyamuni, que foi apenas o primeiro de todos os Budas, “o destino de todas as almas é a iluminação”.




LIÇÕES DE HSING YÜN, O VENERÁVEL MESTRE

De conselhos simples a grandiosas recomendações: no texto a seguir, o Venerável Mestre Hsing Yün propõe 50 maneiras de colocar em prática os sábios princípios da essência budista.

Texto • Redação

 

O Mestre

Nascido em 1927, na província de Chiangsu, China, o Venerável Mestre Hsing Yün ordenou-se monge aos 12 anos. Em 1949, durante a revolução de Mao Tse-Tung, Hsing mudou-se para o Taiwan. Foi lá que revitalizou o budismo humanista e fundou a Ordem Budista de Fo Guang Shan (Montanha da Luz de Buda). Ao lado de Dalai Lama, atualmente, Hsing é o mestre budista mais conhecido e respeitado na Ásia. A Ordem de Fo Guang Shan possui 220 templos espalhados por todo o mundo, inclusive no Brasil. Localizado em Cotia, na Grande São Paulo, o Templo Zu Lai é considerado o maior monastério budista da América Latina. Para conferir o texto completo do Venerável Mestre, com suas cem recomendações para a vida, acesse o site do Zu Lai:www.budanet.org.br.

1 – Descubra seu maior defeito e disponha-se a corrigí-lo.

2 – Escolha até três exemplos de vida e determine-se a seguí-los.

3 – Tenha força e sabedoria para resistir às tentações do mundo.

4 – Cultive a força da tolerância de forma a compreender, aceitar, assumir responsabilidades, ter determinação e melhorar as circunstâncias externas. Então, passe a cultivar a tolerância pela vida, a tolerância por todos os dharmas e a tolerância pelos dharmas não-surgidos, de maneira a transformar o cultivo da tolerância em força e sabedoria.

5 – Aprenda a se adaptar à pressão externa e não se deixe afetar por ela.

6 – Seja ativo e destemido. Pense antes de agir.

7 – Envergonhe-se do que ignora, do que é incapaz, do que o torna impuro e rude.

8 – Faça com frequência algo que toque o coração das pessoas.

9 – Sinta-se bem sob qualquer circunstância, siga as condições corretas, esteja sempre livre de aflições e faça tudo com alegria no coração.

10 – Ser corajoso e virtuoso é ter a capacidade de admitir os próprios erros.

11 – Aprenda a aceitar perdas, falsas acusações, contratempos e humilhações.

12 – Não inveje aqueles que praticam boas ações ou dizem boas palavras. Tenha sempre na mente bondade e beleza.

13 – Não empurre os outros para a beira do abismo; ao contrário, dê-lhes espaço para recuar – um dia eles poderão lhe ajudar.

14 – Sirva àqueles que desejam fazer o bem, compartilhe um objetivo. Favoreça os outros e respeite seus anseios.

15 – Seja amável e humilde ao relacionar-se com as outras pessoas. Expresse bondade em seu semblante e em sua fala.

16 – A capacidade de doar traz abundância verdadeira.

17 – Importe-se com o que é certo ou errado; não se fixe em perdas e ganhos.

18 – Deixe de lado pensamentos egoístas e dedique-se à justiça, à verdade e ao bem comum.

19 – Viaje pelo mundo sob o céu estrelado. Vivencie a prática da procissão de mendicância pelo menos uma vez na vida.

20 – Abra mão de todas as suas posses ao menos uma ou duas vezes na vida.

21 – A cada quatro ou cinco anos, empreenda uma viagem sozinho.

22 – Não se deixe cegar pelo amor. Não se traia por dinheiro.

23 – Não bata de frente com as coisas – aprenda a arte de ser sutil.

24 – Não há êxito sem persistência, diligência e determinação.

25 – Desenvolva autoconfiança. É importante ter expectativas em relação a si mesmo e metas pessoais.

26 – Procure ouvir boas palavras e jamais esqueça o que elas significam.

27 – Não desperdice o seu tempo. Faça planos e use o tempo com sabedoria.

28 – Seja sempre sensato, pois a sensatez é imparcial e igual para com todos.

29 – Lembre-se dos erros cometidos no passado. Tenha-os sempre em mente para não repeti-los.

30 – Seja qual for sua função, desempenhe-a bem. Não olhe para os lados.


31 – 
Faça tudo com boa intenção, verdade, sinceridade e beleza.

32 – Não se apegue ao passado. Olhe sempre adiante.

33 – Lute sempre pelos seus objetivos e vá longe.

34 – Planeje sua carreira, use seu dinheiro com sabedoria, purifique seus sentimentos e não se apegue à fama e à riqueza.

35 – Desenvolva compreensão e visão, sendo essas pessoais e corretas. Não se deixe levar cegamente pelos outros.

36 – Renuncie a apegos insensatos e aceite a verdade com mente humilde.

37 – Não faça intrigas nem espalhe rumores. Não se deixe influenciar por eles.

38 – Aprenda a desenvolver sua mente e a reformar seu caráter. É importante recuar e dar guinadas na vida.

39 – Cultive méritos por meio de doações que estejam de acordo com sua capacidade, função, disposição e condição.

40 – Creia profundamente no dharma e contemple todas as virtudes. Nunca faça o mal; pratique sempre o bem.

41 – Não culpe os céus nem os outros por sua infelicidade, pois tudo tem sua causa e seu efeito.

42 – Pense no bom e belo em vez de pensar no que é triste e penoso.

43 – Conquiste ao menos três tipos de habilitação ao longo da vida, como para guiar automóveis, cozinhar, digitar, cuidar de enfermos, exercer a medicina, o magistério, o direito, a arquitetura etc.

44 – Aprenda a articular bem a fala e a escrita. Aprenda a ouvir, a apreciar, a pensar, a cantar, a pintar e a desenvolver habilidades. Quanto mais se aprende, melhor. Aprenda, ao menos, metade disso tudo.

45 – Leia ao menos um jornal por dia, para se manter em dia com o mundo.

46 – Leia pelo menos dois livros por mês.

47 – Mantenha uma rotina diária.

48 – Cultive hábitos regulares de sono e alimentação.

49 – Pratique exercícios físicos.

50 – Mantenha-se longe de cigarro, álcool, pornografia e drogas. Administre e controle sua própria vida.




MENSAGENS DE PAZ DE DALAI LAMA

Um dos mais influentes líderes espirituais de nossos tempos, Dalai Lama já percorreu os quatro cantos do globo levando mensagens de paz, compaixão e união entre os povos. Confira agora alguns desses importantes ensinamentos

Texto • Paula Reis
 

Trajetória do mestre

Lhamo Thondup, Sua Santidade o 14º Dalai Lama, nasceu em uma pequena aldeia de Takster, no leste do Tibete, em 1935. Filho de camponeses, foi reconhecido como a reencarnação do Dalai Lama com apenas dois anos de idade, por monges da região. Aos quatro anos, foi separado da família e mudou-se para o Palácio de Potala, em Lhasa. Após uma rigorosa preparação, recebeu o nome de Tenzin Gyatso e assumiu o poder político e espiritual do Tibete, aos 15 anos. No mesmo ano, o país foi ocupado pela China. Após o fracasso de uma rebelião nacionalista e de sucessivas tentativas de negociar a autonomia do Tibete, o jovem Dalai Lama buscou refúgio na Índia, com mais de 80 mil tibetanos. Desde então, Sua Santidade vive no Himalaia, onde foi instalada a sede oficial do Governo Tibetano no Exílio. Hoje, já são quase 200 mil tibetanos na região. Por todos os seus anos de luta pacífica e por sua incrível capacidade de transmitir ensinamentos complexos de forma simples e acessíveis, Dalai Lama ganhou diversos prêmios ao longo de sua trajetória, inclusive o Nobel da Paz de 1989. Além disso, já publicou mais de 50 livros, todos best sellers.

Sementes de amor

“Uma das maiores virtudes é a compaixão. Ela não pode ser comprada numa loja de departamentos, mas advém do crescimento interior. Todos nós apreciamos a ajuda e o carinho que as pessoas nos dispensam. Infelizmente, no decorrer de nossa vida, à medida que nos tornamos independentes, muitas vezes negligenciamos o valor do carinho e da compaixão. (…) Sempre cultive a tolerância. Com tolerância, pode-se facilmente superar as dificuldades. Mas quem nos ensina tolerância? Pode ser que seus filhos o ensinem a cultivar a paciência, mas é seu inimigo quem irá ensinar-lhe a prática da tolerância. (…) Mostre- lhe respeito, em vez de ódio. Dessa forma, a verdadeira compaixão irá brotar de seu interior e, essa compaixão, deve ser a base de tudo aquilo que você é e acredita”.

Guerra e paz

“No passado remoto, se houvesse uma guerra, os efeitos seriam geograficamente limitados, porém hoje, em função do progresso, o potencial de destruição ultrapassou o concebível. Aquilo que acontece numa parte do mundo pode afetar todos nós. Isto, naturalmente, não é verdade somente quanto às coisas negativas que acontecem, mas é igualmente válido para os desenvolvimentos positivos. (…) A única maneira de atingirmos uma paz mundial duradoura é por meio da transformação interior”.
 

Texto extraído dos livros A policy of kindness (inédito no Brasil) e A prática da benevolência e da compaixão (Editora Best Seller).

O que o dinheiro não compra…

“Seres humanos não são produzidos por máquinas. Somos mais do que apenas matéria; temos sentimento e experiência. Por isso, somente conforto material não é suficiente. (…) Necessitamos algo mais profundo, o que usualmente chamo de afeição humana, ou compaixão. Com isso, todas as vantagens materiais que temos à nossa disposição podem ser muito construtivas e produzir bons resultados”. 

Trecho de palestra proferida em Melbourne, Austrália.

Muitas crenças, um só ideal

“Precisamos da religião a fim de desenvolver tanto a paz interior quanto a paz entre os povos do mundo. E, na busca desse objetivo, torna-se imprescindível a harmonia entre as diferentes tradições. (…) Insisto em afirmar que as principais religiões do mundo possuem os mesmos ideais de amor, o mesmo objetivo de beneficiar a humanidade por meio da prática espiritual e a mesma determinação de aprimorar seus praticantes como seres humanos. (…) Todas nos ensinam a não mentir, roubar ou tirar a vida de outras pessoas. (…) O objetivo primordial é criar seres humanos mais tolerantes, compassivos e menos egoístas”.

S.O.S. Planeta Terra

“A destruição da natureza e seus recursos é resultado da ignorância, da cobiça e da falta de respeito pelos seres vivos. As gerações futuras herdarão um planeta extremamente degradado, caso a paz mundial não se efetive e a destruição da natureza continue nesse ritmo. (…) Precisamos pensar em termos globais, pois as conseqüências de medidas adotadas por um determinado país, hoje, ultrapassam fronteiras. (…) Temos muitos problemas porque as pessoas estão centradas em seus próprios interesses, em ganhar dinheiro e não estão pensando no bem-estar da comunidade como um todo (…) Se nós, da atual geração, não refletirmos sobre essas questões agora, as gerações futuras não terão como lidar com elas”.
 

Texto extraído do livro A policy of kindness (inédito no Brasil) e do sitewww.dalailama.org.

O controle da mente

“Quando uma pessoa tiver um comportamento agressivo com você e a sua reação for semelhante, o resultado será desastroso. Ao contrário, se você puder se controlar e tomar atitudes opostas, baseadas na ‘compaixão, tolerância e paciência’, não só se manterá em paz, como a raiva do outro também diminuirá gradativamente. (…) Se nossa mente estiver ocupada pela raiva, perderemos o poder de discernimento. Para controlar a raiva, experimente este exercício: se você fica geralmente zangado por dez minutos, tente reduzi-los para oito. Na semana seguinte, reduza para cinco e, no próximo mês, para dois. Depois, passe para zero. É assim que treinamos nossa mente. O resultado é paz e felicidade”.
 

Texto extraído do livro A policy of kindness (inédito no Brasil).

A verdadeira felicidade

“Todos queremos a felicidade. Mas para criar uma atmosfera agradável em nós mesmos, nas nossas famílias e em nossas comunidades, precisamos compreender que a fonte desse bem-estar está dentro do indivíduo, dentro de cada um de nós. (…) Devemos construir relacionamentos mais próximos, de confiança mútua e compreensão. Para isso, não é necessário seguir filosofias complicadas. Nosso próprio cérebro, nosso próprio coração é o nosso templo. O cultivo de sentimentos amorosos ajuda a remover quaisquer temores ou inseguranças que possamos ter e nos dá força para enfrentarmos quaisquer obstáculos que encontrarmos pelo caminho. (…) Enquanto vivemos neste mundo, estamos destinados a encontrar problemas. Se, nessas ocasiões, perdemos a esperança e nos desencorajamos, diminuímos nossa habilidade de encarar as dificuldades. Cada novo obstáculo deve ser encarado como mais uma valiosa oportunidade de aprimorar nossa mente. Como resultado, a nossa força interior crescerá”.
 

Ensinamentos retirados de uma palestra proferida em Melbourne, Austrália; do Seminário sobre Valores Humanos Universais e sua Prática na Vida Cotidiana; e de artigos do site www. dalailama.org.br




AS QUATRO NOBRES VERDADES BUDISTAS

Para que seus discípulos pudessem superar todo o sofrimento e, assim, fossem capazes de atingir a iluminação, Siddharta Gautama, o pai do budismo, os ensinou Quatro Nobres Verdades. Veja, a seguir, a que elas se referem – e, a seu modo, aplique-as

Texto • Renata de Salvi e Renata Rossi

Dukkha: o sofrimento

Estamos sujeitos a sofrer por tudo aquilo que experimentamos em vida. Por isso, é preciso aceitar e entender que tudo no universo é efêmero, transitório, mutável e perecível. Então, não podemos nos apegar demais às coisas, situações e pessoas – nada dura para sempre.
 

Samudaya: a causa do sofrimento

Nesta Nobre Verdade, Buda explica o fato de que o sofrimento não acontece por acaso e nem é um castigo imposto por uma entidade suprema. O que causa todo o sofrimento é o nosso desejo, que nunca se satisfaz por completo. Portanto, devemos aceitar o descompasso que existe e sempre existirá entre o que desejamos e o que vivemos de fato. 
 

Nirodha: a extinção do sofrimento

O terceiro ensinamento fala sobre a eliminação dos desejos, ambições e anseios. Ao descobrir o que nos faz sofrer, colocamos um ponto final às causas. Esse é o estágio do nirvana, palavra em sânscrito que traduzida da forma literal pode significar não estar preso, ou ainda, estar liberto.
 

Magga: o caminho que leva ao fim do sofrimento

Para alcançar esse estado de libertação é preciso adotar o caminho do meio: resolvemos abrir mão dos extremos e optamos pelo meio termo. É quando evitamos o apego ao conforto e às paixões, característica de quem busca a felicidade nos prazeres; e também quando deixamos para trás os sofrimentos físicos, que colaboram para a perturbação da mente. Este ensinamento, por fim, leva ao final do ciclo contínuo de renascimentos.




FILOSOFIA BUDISTA PARA O HOJE

Como viver segundo os valores budistas em um mundo no qual a conquista de bens materiais parece estar sempre à frente de tudo? Entenda, agora, como a doutrina budista, aliada à meditação, pode ajudar a encontrar essa e muitas outras respostas.

Texto • Renata de Salvi e Renata Rossi

O que é a felicidade para você? Viver em um palácio cercado de luxo? Com servos satisfazendo cada uma de suas vontades? Nascido em VI a.C., Siddharta Gautama, príncipe de um reino do Nepal, passou sua infância e juventude nesse prazeroso meio de vida. Entretanto, não se entregou a essa condição. Ainda jovem, decidiu abandonar a vida confortável e partir mundo afora em busca de respostas para o sofrimento da humanidade. Nessa nova empreitada, depois de dias de meditação, tornou-se Buda, o iluminado.

Foi assim, graças ao processo que o levou à iluminação, que Siddharta compreendeu a importância da consciência na vida de cada pessoa e desenvolveu o budismo, uma das doutrinas mais respeitadas e conhecidas nos quatro cantos do mundo. Ao longo do tempo, seus ensinamentos ultrapassaram as fronteiras da Índia e passaram a ser praticados por representantes das mais diversas culturas, classes sociais e idades.

A escolha do príncipe, que abriu mão de suas riquezas materiais em troca de novas experiências e conhecimento, parece improvável nos dias de hoje. Mas para quem se habituou ao ritmo da sociedade contemporânea, os ensinamentos disseminados pelo Buda podem ser bastante úteis.

Buda disse uma vez: “Existem duas espécies de doenças: a física e a mental; no entanto, há indivíduos que têm a felicidade de estarem isentos de doença física durante um, dois, ou mais anos, ou mesmo durante o decorrer de toda a vida. Mas, raros são aqueles que neste mundo estão isentos, um só instante, da doença mental”. Há 2.500 anos, o fundador do budismo já nos alertava sobre a importância de cuidar dos nossos pensamentos. De acordo com ele, manter a paz da mente geraria um grande bem-estar, enquanto a falta de tranquilidade poderia ocasionar diversas doenças.

Embora este raciocínio já tenha sido ratificado pela ciência, desenvolver a aptidão de refletir de maneira pura requer paciência. Segundo a doutrina, o caminho mais apropriado para libertar nossos pensamentos das sensações negativas – como ódio, ciúme ou ansiedade – é a meditação. Por meio desta técnica, passamos a dispor de uma forma neutra de contemplar todas as coisas e nos livramos de visões preconceituosas, que só trazem malefícios.

Para os budistas, existem várias maneiras de chegar a esse estado de espírito. A meditação que se faz sentada (conhecida como zazen), por exemplo, é uma das muitas formas de entrar em contato consigo. Pode-se fazer o exercício durante todo o dia, caminhando em um parque, comendo, em silêncio. De qualquer forma, o método não importa tanto; o que importa é sentir-se à vontade com a prática e conseguir manter a concentração.

Mudança de foco

Além de estimular a habilidade de enxergar as coisas tais como são, a prática meditativa também pode abrir as portas para a felicidade interior. Por meio desta técnica, conseguimos deixar de dar importância demasiada aos bens materiais e só nos direcionamos às nossas verdadeiras fontes de alegria, pois passamos a viver sempre o aqui e o agora.

Para atingir esse estágio, o segredo não é abdicar de todas as posses e viver sem nada, afinal de contas o budismo também aponta a perseverança como uma qualidade necessária aos homens. A grande mudança se faz, na verdade, a partir do momento em que lançamos um novo olhar sobre aquilo que possuímos.

O primeiro passo importante é criar a consciência de que adquirir o carro do ano ou a roupa de marca não garantirá felicidade. Afinal, mesmo o veículo, que é algo de grande utilidade, nunca passará de um simples veículo. Dessa forma, nos libertamos dos objetivos materiais, mudamos de postura diante da vida e, finalmente, colocamos o desapego em prática. “É através da meditação que nós vamos perceber qual a nossa necessidade verdadeira”, explica a Monja Coen, missionária da tradição Soto Shu – Zen Budismo e fundadora da Comunidade Zen Budista.

E muito se fala sobre a compaixão, mas poucas pessoas compreendem o que esta virtude realmente representa. De acordo com a Monja, ter compaixão é reconhecer-se no outro e conseguir ficar alegre com a alegria do próximo. “Ao demonstrar compaixão, muitas vezes, basta um abraço, ouvir o lamento. Quando compartilhamos nossa dor, nos sentimentos aliviados”, explica.

No livro Transforme sua vida (Editora Tharpa), Geshe Kelsang Gyatso afirma que os seres humanos têm uma grande oportunidade de cultivar a semente búdica. “Podemos ampliar e aprofundar nossa compaixão, até que ela se transforme na mente de grande compaixão, ou compaixão universal – o desejo de proteger todos os seres vivos, sem exceção, dos seus sofrimentos”.

Gyatso também afirma que muitas vezes desejamos que pessoas queridas se livrem de seus sofrimentos por razões puramente egoístas, mesmo sem perceber. Por exemplo, desejar que um amigo se recupere logo de uma doença para que possamos voltar a desfrutar de sua companhia. “Esse desejo, em grande parte autocentrado, não é compaixão verdadeira. A verdadeira compaixão se baseia, necessariamente, em apreciar os outros”, conclui.




SAMSARA, A RODA DA VIDA

Texto • Carine Portela
 

Quando o príncipe Siddartha Gautama renunciou ao seu reinado e iniciou uma jornada espiritual, seu objetivo era entender o significado de nossa existência, e não encontrar o caminho da iluminação. Em outras palavras, podemos dizer que o jovem que um dia se tornaria Buda não queria atingir o nirvana, mas esclarecer completamente o samsara.

Samsara é o inquietante ciclo que rege nossa existência, reencarnação após reencarnação. É nascimento, vida, morte e renascimento: uma eterna roda de experiências, frequentemente marcada pelo sofrimento. A palavra vem da raiz “samsr”, que significa “circular, passar por diversos estados” (a imagem ao lado, uma pintura tibetana tradicional, ilustra essa definição).

“O que é chamado de samsara é como uma roda de oleiro, uma polia d’água ou abelhas aprisionadas em um jarro. Quando uma abelha está dentro do jarro, ela permanece nos limites do jarro, não importa por onde voe, porque não há outro lugar para ir. Da mesma forma, não importa onde você nasça, nos destinos inferiores ou superiores, você não terá passado das fronteiras de samsara. O topo do jarro é como os destinos superiores dos deuses e dos homens, e o fundo do jarro é como os destinos inferiores. Segundo o karma virtuoso ou não virtuoso, viajamos de um destino para outro em renascimento após nascimento, e por isso chamamo-los samsara, rodando em círculos”, explica dPal-sprul O-rgyan no livro Kun-zang La-may Zhal-lung.

Por extensão, samsara é tudo aquilo que nos ata ao mundo material. Quando um budista fala de um modo de vida “samsárico”, está se referindo a um padrão repleto de medos e expectativas, de ódio e desejo, de amarras e ilusões. O grande objetivo do homem deve ser escapar dessa realidade, o que só acontece quando se atinge o nirvana, a chamada “outra margem”. O caminho para chegar lá é se desvencilhar da busca incessante por prazeres e sensações materiais e seguir o dharma, o conjunto se ensinamentos deixados por Buda.

No reino de samsara pode haver muitos tipos de experiências e formas de ser, várias delas sedutoras. No entanto, para o budismo, todas estão condenadas ao sofrimento. Não existe alívio que perdure, nem promessa de felicidade que seja cumprida.

“É da natureza de samsara que tudo venha a ser, por fim, interrompido. Em curto prazo há sucesso: nós experimentamos segurança, amor, felicidade. Podemos mesmo ser capazes de transmitir alguma coisa de valor de uma geração a outra, mas se o modo de vida samsárico é nossa única alternativa, não podemos estabelecer nenhuma base genuína que faça sentido. A longo prazo, nossas realizações se desvanecem: não importa o que venhamos a obter, sempre esperamos algo mais. Esperando, aspirando, desejando e sonhando, a mente comum não consegue compreender a ilusão quimérica de samsara. Algo sempre está errado”, diz o livro Caminhos para a iluminação: estudos budistas no Instituto Nyingma.

Sem esse entendimento, não podemos acumular força suficiente para realizar algo de valor duradouro. Aceitar que a vida é feita de perdas e separações é o primeiro passo para encontrar a harmonia. O segundo é não projetar a felicidade externamente, seja em pessoas, bens, sonhos ou ideais. Segundo a doutrina budista, a felicidade está bem mais perto do que se espera: dentro de você.

O grande desafio é renunciar à aparente segurança de samsara e render-se ao mistério do dharma. De acordo com Buda, no entanto, é tudo uma questão de tempo: segundo a lei natural do Universo, todos os seres alcançarão a “outra margem”, mesmo que isso leve um tempo incalculável – e muitas e muitas voltas na roda de samsara – para acontecer.




Om: O Mantra Essencial

O mais antigo e poderoso dos mantras é capaz de afastar qualquer negatividade e deixar a mente levinha, levinha. Saiba mais sobre o Om e quais benefícios ele oferece.

Texto • Geisa D’avo

Que atire a primeira pedra quem nunca se deixou levar por sentimentos negativos como irritação, estresse e tristeza. Afinal, muitas vezes, basta o trânsito abarrotado, a sobrecarga de tarefas no trabalho ou pequenos imprevistos do cotidiano para fazer com que as emoções negativas deem as caras. Mas, com a ajuda do mais sagrado mantra da tradição hinduísta, virar o jogo e afastar estas sensações pode se tornar bem mais simples do que parece.

De acordo com os Vedas, os mais importantes escritos da Índia, entoar o mantra Om é a arma principal para combater o negativismo e apaziguar a alma. Mas, afinal de contas, o que é exatamente o tão famoso Om? “É o som do silêncio, o símbolo sonoro presente em todo o universo. Tudo é Om. Por isso é tão difícil explicá-lo. Mas, de forma simples, a vibração deste mantra representa e proporciona harmonia. Quando você pronuncia Om, estabelece uma conexão com si próprio e com todo o universo”, explica a professora de yoga Angélica Rosa.
 

Origem do som

Reza a lenda que o som do Om surgiu à época do Big Bang. Na explosão que teria dado origem ao mundo como o conhecemos – interpretada pelos hinduístas como um processo cíclico de retração e expansão do universo –, o Om se espalhou por todos os lados. A partir daí, jamais deixou de existir.

Desde que surgiu, o Om se tornou um forte aliado para quem deseja conduzir os pensamentos em direção às vibrações positivas que vêm dos planos mais elevados do universo. Todos os outros mantras que conhecemos foram criados a partir do Om. Ele é o início, o meio e o fim de todo esse processo”, explica Angélica.

Ao entoar este som sagrado, abrimos nossos canais energéticos e nos tornamos receptivos às qualidades divinas que, então, se manifestam na forma de sentimentos como compaixão, sabedoria, amor e tranquilidade. Assim, não há espaço para a presença de qualquer sentimento negativo.

Ainda de acordo com a professora, “a pronúncia do Om faz o coração vibrar fisicamente, o que gera uma grande sensação de bem estar”. Outro benefício do mantra é permitir que cada um crie uma espécie de camada de proteção em torno de si próprio, impedindo a chegada de qualquer energia ruim. “Além disso, a prática constante faz com que as pessoas despertem e agucem a intuição”, conta ela.

Para todas as horas

Embora seja mais comum entre praticante de yoga e meditação, o uso do mantra Om não precisa (e nem deve) ficar restrito apenas a estas atividades. Muito pelo contrário: o cântico pode ser entoado em qualquer situação, desde que haja um desejo sincero de revigorar as energias. Até mesmo os iniciantes na prática podem executá-la com sucesso.

“Controlar a respiração é um dos passos essenciais para a realização do mantra, o que permite uma melhor oxigenação das células. Por isso, ao expirar lentamente para pronunciar o Om, você se sente completamente relaxado. É um recurso simples que pode ser executado no carro, na fila do supermercado ou em qualquer outro lugar. E não tem importância se você entoar baixinho. O que traz efeito é utilizar um tom de voz bem espontâneo e suave”, afirma Angélica.

Para quem acha difícil entregar-se à pronúncia de um mantra, existem algumas alternativas. O símbolo do Om, por exemplo, estampado em paredes ou quadros, pode servir para harmonizar ambientes e também como instrumento de meditação. “Ao fixar o olhar na imagem do Om, você é estimulado a entrar numa vibração mais positiva”, declara a professora.

Entoando o som universal

Você não precisa ser um guru da meditação ou do yoga para desfrutar dos benefícios do Om. Siga as orientações abaixo, descritas pela professora Angélica Rosa, e descubra como é simples entrar em harmonia com o que existe de mais sagrado no universo.
 

1 – Sente-se confortavelmente em uma cadeira ou no chão, com as pernas cruzadas e a coluna ereta.
 

2 – Caso essa posição lhe pareça desconfortável, deite-se com a barriga e as palmas das mãos voltadas para cima, as pernas separadas numa largura pouco maior que a do quadril e os pés voltados para fora.
 

3 – Feche os olhos e concentre-se em relaxar seus ombros, o rosto e o maxilar. 
 

4 – Relaxe o tronco, as pernas e os pés.
 

5 – Inspire tentando preencher totalmente o abdômen, a caixa torácica e o peito.
 

6 – Expire lentamente. Enquanto faz isso, entoe o mantra Om de uma forma bem tranquila. Pronuncie devagar a letra O e, em seguida, a letra M. O som emitido deve ficar parecido com “OOOO-HUMMMMM”.
 

7 – Quanto mais natural e suave for sua pronúncia, melhor será o resultado.




Lições Budistas em Pequenas Frases

Os koans revelam, por meio de pequenas frases, charadas e parábolas, a essência da sabedoria zen budista. A seguir, saiba mais sobre esses curiosos enigmas

Texto • Carine Portela
 

Certo dia, um renomado professor de filosofia foi visitar um mestre para lhe fazer perguntas sobre o zen, o bem, o mal e uma infinidade de outros assuntos. Antes de responder qualquer coisa, o mestre lhe ofereceu uma xícara de chá. O professor aceitou a bebida e continuou a falar, emendando uma indagação atrás da outra, sem parar nem mesmo para recuperar o fôlego. Ainda em silêncio, o mestre fez uma mesura e começou a servir o chá na xícara do visitante. Logo, o líquido transbordou, inundando o pires e, mesmo assim, o mestre não parou de despejá-lo, até que o filósofo exclamou: “Pare! Não vê que a xícara já está cheia?” O mestre, então, sorriu e disse: “A xícara está cheia e não dá para colocar mais chá nela antes que seja esvaziada. Da mesma maneira, sua mente está cheia de ideias e, para que eu possa lhe passar os ensinamentos zen, você terá de, antes, esvaziá-la”.

Para transmitir um valioso ensinamento, o sábio agiu de forma inusitada. À primeira vista, seu comportamento pode ter parecido bizarro, mas, como logo ficou esclarecido, sempre esteve de acordo com a essência de sua doutrina e, principalmente, com a lição que devia ser ensinada naquele exato momento.

Certamente, essa não é a primeira vez que você se depara com um mestre zen irreverente. Na verdade, eles são bastante comuns em parábolas orientais e adoram surpreender (a nós e a seus discípulos) com suas respostas enigmáticas, suas atitudes inesperadas e sua maneira tão singular de enxergar a vida. Em outras palavras, podemos dizer que eles são verdadeiros mestres do koan.
 

Janelas da verdade

Tradicionalmente, o termo koan refere-se ao registro de um diálogo entre o mestre e seu discípulo, durante o qual o discípulo chega espontaneamente à experiência da iluminação. Com o passar do tempo, koan passou a significar qualquer frase, pergunta, charada ou parábola que possa ser usada como objeto de contemplação e, assim, estimular a reflexão sobre diferentes formas de perceber o mundo.

Um koan pode ser um desafio para testar o nível de sabedoria do discípulo, mas também pode ser simplesmente um bom conselho. Um koan pode ser uma charada que esconde um precioso ensinamento, mas também pode ser apenas uma forma de calar a mente. Para Timothy Freke, autor do livro O Baralho Zen (Editora Pensamento), “os koans são janelas, através das quais podemos vislumbrar as verdades do budismo”.

Alguns dos koans mais conhecidos são perguntas absurdas, como “qual é o som de uma só mão batendo palmas?” e “que cara você tinha antes de nascer?”. Não há resposta lógica possível para eles e isso, na verdade, não faz diferença. O importante, para o zen, é exercitar a capacidade de buscar soluções intuitivamente, sendo, para isso, necessário esvaziar a mente de velhos conceitos, assim como sugere o sábio da xícara de chá.
 

O fluir da intuição

Sempre que ficamos frente a frente com um koan, o melhor a fazer é colocar o raciocínio lógico de lado e deixar fluir a intuição. De nada adianta tentar entender uma parábola ou enigma zen-budista utilizando o raciocínio cartesiano. O que o zen sugere é exatamente o contrário: uma mudança de percepção, outro modo de ver, um vislumbre da verdade simples.

Com a prática, o exercício de refletir sobre os koans desenvolve a sabedoria da arte de viver. Quando essa capacidade está plenamente desenvolvida, deixa de haver qualquer diferenciação entre o pensar, o sentir e o agir. Tudo passa a ser um único movimento de consciência, que flui de modo espontâneo a partir do coração.

Quanto mais limpamos da mente as velhas idéias e nos permitimos experimentar novas possibilidades, mais natural se torna esse processo. Aos poucos, nossa jornada pela vida se transforma em uma jornada para o despertar. Dessa forma, mais do que entender o zen, você passa a viver o zen.

Quanto maior a capacidade de amar, maior é a sabedoria

Segundo os ensinamentos do budismo, sabedoria e compaixão são qualidades inseparáveis da nossa natureza búdica intrínseca. Ser sábio é amar e amar é ser sábio. A sabedoria é a qualidade da mente que vê além dos limites do ego e conhece a unidade da vida. O amor é a qualidade do coração que nos une com os outros e com a vida como um todo. O caminho para a iluminação é abrir a mente para a sabedoria e o coração para a compaixão.

As sementes do passado são os frutos do futuro

O budismo prega a lei do karma – que nossa presente situação foi criada por escolhas passadas. O karma é mais do que uma espécie de justiça cósmica que nos castiga por nossos pensamentos e atos maléficos ou nos recompensa pelas nossas boas ações. É um mecanismo natural que ajuda a fortalecer a própria consciência. Se agimos mal no passado, foi por ignorarmos que a bondade é a natureza essencial. Quando a situação nos obriga a reconhecer isso, ela está nos ajudando a, no futuro, prestar mais atenção.

Contemple as estrelas, mas andando com os pés firmes no chão

O mestre zen D. T. Suzuki escreveu: “Com toda a nossa filosofia, com todas as nossas ideias grandiosas e enaltecedoras, não conseguimos escapar da vida enquanto a vivemos. Os que têm os olhos fitos nas estrelas continuam pisando em solo firme”. A filosofia budista pode, às vezes, nos levar às últimas fronteiras do pensamento abstrato, com conceitos como “vazio” e “iluminação”, mas a Verdade de seus ensinamentos só pode ser encontrada na vida cotidiana.

A onda e o mar são um só

O mestre Thich Nhat Hanh escreveu: “A onda vive a vida de uma onda e, ao mesmo tempo, a vida de água”. O zen nos ensina que nosso ser é como uma onda no grande oceano da vida. Se a nossa experiência se restringe apenas à superfície das coisas, achamos que somos a onda, nos sentimos arrastados e temos medo de nos espatifarmos contra os rochedos. Se nossa experiência desce às profundezas das coisas, sabemos que somos o oceano todo, e a ansiedade desaparece. As ondas vêm e vão, mas o oceano permanece.

A mesma lagoa.
O sapo dá um pulo – Plop!

Esse poema apreende um instante mágico. Ele aponta para um estado de atenção no qual um sapo insignificante, saltando para dentro de uma lagoa, constitui uma experiência de encantamento. Se damos total atenção ao momento presente, voltamos a ver, ouvir e sentir como quando éramos crianças. O mundo torna-se um fascinante parque de diversões, com uma infinidade de atrações e mistérios. Não temos de correr em direção ao futuro, pois cada instante presente contém mais do que jamais poderíamos sonhar.

Vá além

Os koans que você acabou de conferir foram retirados do livro O Baralho Zen, de Timothy Freke. A obra, que vem juntamente com um baralho de 30 cartas (cada uma com um koan diferente), foi feita sob medida para quem quer fazer do zen um guia para a vida cotidiana. Você pode pedir conselhos, fazer perguntas ou, simplesmente, utilizar as mensagens das cartas para refletir sobre diferentes temas, diariamente.




Afinal, o que é karma?

“Para cada ação existe uma reação”. Assim como o enunciado da primeira lei da física de Newton, o karma é uma consequência natural de nossos atos. Entenda

Texto • Erica Ticiani

De acordo com os princípios budistas, todos nós estamos presos a um processo cíclico de reencarnações sucessivas, impulsionadas pelo karma. A palavra “karma” vem da raiz sânscrita “kr”, que significa “fazer”, e do sufixo “ma”, que significa “efeito”. O fundamento é uma das principais bases do dharma, conjunto de ensinamentos de Buda, os quais têm como objetivo último liberar todos os seres humanos de seus sofrimentos, provocados por sentimentos como apego e inveja.

Os mestres do budismo comparam o karma a uma pedra jogada em um tanque de água. Os círculos formados batem na margem e voltam para o centro. Segundo Buda, o mesmo acontece com os seres humanos. Para ele, tudo o que vivemos é resultado daquilo que nós mesmos criamos. Ações corretas produzem bons resultados, enquanto atos errados provocam más conseqüências.

As pessoas vivem um processo de causas e efeitos, ou seja, sofrem a influência das ações tomadas nesta vida e em outras passadas. “O karma é uma lei de causa e efeito universal, não é exclusivo do budismo. Para toda ação há uma reação”, afirma Getulino Kiyoshi Nakajima, vice-presidente da ONG budista Associação Brasil Soka Gakkai Internacional (BSGI).

Escapar do karma significa encerrar o ciclo de reencarnações (samsara) e descobrir o caminho para o nirvana. Para isso, de acordo com os budistas, é preciso compreender que a existência do ego é algo a ser superado, para que a pessoa deixe de viver em busca daquilo que não tem e aprenda a viver feliz com o momento presente. 
 

O presente e as ações passadas

Qualquer tipo de atitude, física, mental ou espiritual, pode ser considerado um karma. Criamos karmas quando falamos, pensamos e agimos. Karma signfica ação, e ações podem ser feitas através da mente (pensamentos), da fala (palavras) e do corpo (ações propriamente ditas). As ações hábeis (positivas) criam virtude e conduzem à felicidade, enquanto as ações inábeis (negativas) criam não-virtude e conduzem ao sofrimento. Apenas os seres iluminados não produzem mais karma, embora ainda estejam sujeitos aos frutos de ações anteriores.

Segundo o budismo, o karma pode estar relacionado com o grupo ao qual pertencemos: família, raça, nação. Ele afeta os seres humanos de modo coletivo. Isso não quer dizer, no entanto, que o indivíduo é impotente, ao contrário. Buda ensina que temos o poder de moldar nosso destino. “Toda e qualquer ação produz efeito, cedo ou tarde. O indivíduo deve se fortalecer para encarar esse resultado fazendo a sua parte”, ensina Nakajisma.

Há uma tendência equivocada em culpar o karma e isentar as pessoas de suas responsabilidades. Ao falarmos em karma, tratamos de uma ação cometida por nós mesmos no passado. O lado bom é que temos condições de conduzir o momento presente de modo correto para que, no futuro, não tenhamos de suportar as conseqüências de karmas negativos.

O entendimento da lei do karma nos impele a deixarmos sob nosso controle as rédeas de nossas vidas. Nesse sentido, o autoconhecimento é uma ferramenta importante. Somente quem se conhece e sabe qual o verdadeiro sentido de cada valor em sua vida e pode fazer bom uso do livre-arbítrio.

Pensamento
“Com a mesma certeza que a semente de uma planta venenosa produz frutos venenosos, ou uma planta medicinal cura, as ações maléficas produzem sofrimento e as ações benéficas, felicidade. Nossas ações viram causas, e dessas causas naturalmente vêm resultados. Se você joga uma pedra numa lagoa, formam-se ondulações ou anéis que correm para fora, batem na margem e voltam. O mesmo se passa com o movimento dos pensamentos: ondulações correm para fora, ondulações retornam. Quando os resultados desses pensamentos chegam de volta, sentimo-nos vítimas indefesas: estávamos inocentemente vivendo nossa vida — por que todas essas coisas estão acontecendo conosco? O que acontece é que os anéis estão voltando para o centro. Isso é o carma. […] A mente comum é cheia de oscilações e turbulências. Se não há uma força que a controle e controle seus efeitos sobre o corpo e a fala, somos jogados para cima e para baixo, para frente e para trás: nossa realidade fica igual a um passeio da montanha russa. Na verdade, é mais parecida ao girar de uma roda. Pomos uma roda em movimento e, a cada vez que reagimos, damos um novo impulso nela, ficando presos em seu movimento perpétuo. Dessa forma, nossa experiência da realidade continua a girar em ciclos, com todas as suas variações, vida após vida. Assim é o interminável samsara, a existência cíclica. Não compreendemos que estamos vivendo resultados que nós mesmos criamos, e que nossas reações produzem ainda mais causas, mais resultados – incessantemente. […] A mente é como um campo fértil – coisas de todos os tipos podem crescer nele. Quando plantamos uma semente – um ato, uma palavra ou um pensamento –, num dado momento, será produzido um fruto que irá amadurecer e cair por terra.”
Trecho do livro Portões da prática budista.