1

AULA 2 – Obi na Mitologia Yorùbá

Nas tradições sempre foi muito usado os Obís africanos em encantos, ebós, iniciações, oferendas aos Òrìṣà e principalmente para jogos, sendo a metodologia de enorme semelhança com o jogo de 4 búzios que é muito usado para confirmações de tais questões, como por exemplo, se o ebó feito foi bem aceito e se as orações foram recebidas.

•Texto – Prof. Eduardo Henrique Costa.

Durante este curso, será possível perceber que tudo tem um porquê dentro da cultura e o Obí é uma noz de cola de quatro (4) partes, onde sua principal fonte de comunicação é entre você e o seu Ori, por isto tantos centros religiosos tem a prática de utilizá-los durante o ritual de Bori. É possível refletir que quanto mais o adivinho melhorar o seu Ori, a tendência é que melhore na comunicação com o oráculo.

Existe um mito sobre o Obí que costuma ser ensinado oralmente na minha família:
“Olódúmarè, decidiu visitar a terra e ver de perto o que aqui acontecia. Nessa caminhada conheceu um homem que disse se chamar Obí.
Obí era uma pessoa despretensiosa, sem vaidade e demonstrando ser uma pessoa muito justa.
Olódúnmarè decidiu que este homem deveria viver muito alto, vestido de branco por fora e por dentro, que sua alma seria imortal e que auxiliaria em todos os trabalhos de forma direta.
Obí foi apresentado a Èsù e entre ambos surgiu uma grande amizade, sendo que os amigos de um, passaram a ser amigos do outro. Diga-se de passagem, mas Èsù tem amigos de todos osníveis, tanto cultural, quanto material.
Obí começou então do alto de sua branca posição, passou a se tornar vaidoso e cheio de si, começando então a evitar as pessoas pobres e miseráveis que o procuravam.
O orgulho de Obí chegou a tal ponto que Obí evitava Èsù por causa das amizades dele, pois Èsù andava com pessoas ricas e inclusive com pessoas pobres.

Obí resolveu um dia, dar uma festa e convidou Esú. Porém pediu que ele não levasse os seus amigos. Èsù logo quando ouviu não gostou da atitude de Obí, então resolveu convidar os ricos e milionários, mas também chamou os pobres e miseráveis.
Obí quando viu os pobres e miseráveis em sua sala, ficou irado de revolta, deu um brado imenso de fúria e perguntou: “Quem convidou essa gente para minha festa?”. Então responderam os convidados: “Foi Èsù”.
Obí expulsou todos de sua casa, naquele exato momento Èsù chegou, disse para Obí que ele era orgulhoso e ingrato e resolveu ir embora com seus amigos.
Depois de algum tempo, Obí tomando então conhecimento da besteira que havia feito, tentou reconsertar o erro, porém não teve mais jeito, Èsù não quis mais conversa.
Em um certo dia, Olofin pediu que Èsù levasse um recado dele ao Obí, porém Èsù recusou categoricamente de ir à casa de Obí.
Olofin então lhe perguntou o que havia ocorrido e Èsù contou-lhe tudo o que estava acontecendo.
Olofin indignado com o que acabou de ouvir, resolveu então, sendisfarçar de mendigo e ir pedir esmola na casa de Obí.
Obí não o reconheceu e lhe tratou extremamente mal, madando-o embora por fim. Olofin olhou para ele e disse “Obi, me olhe, veja bem quem sou eu!”.
Obí ao levantar seus olhos e ver Olofin, tentou imediatamente se corrigir, alegando um erro. Porém, Olofin lhe disse “eu acreditava em sua bondade, em sua simplicidade e em sua humildade, por isso lhe fiz branco de todos os lados e de espírito imortal. Mas, a vaidade e o orgulho subiram-lhe a cabeça, você a partir de agora viverás no alto, porém será no alto de uma árvore, quando
estiveres maduro rolará por terra, para saber que por mais elevado que uma pessoa esteja, ela também poderá rolar por terra. Você será verde por fora e branco por dentro e em algumas vezes será negro. Quando aprender a corrigir-se, eu o perdoarei.
Até esse dia chegar, você servirá a todos os Òrìṣà e os ajudará a predizer o futuro a todos que o quiserem, sejam ricos ou pobres, sem distinção de cor e natureza”.
E assim através deste mito, passou a ser usado os Obís nas tradições, sendo assim como os búzios, um portal de comunicação entre a terra e o céu. Obí não é exatamente um Òrìṣà, não há transe de Obí ou filhos desta energia, Obí é apenas um servidor das divindades, além de ser um elemento oracular. No Culto de Ifá, é extremamente comum ver o sacerdote em qualquer ebó, bori, ou até mesmo oferendas, utilizar o Obí como alimenta e oráculo.




Mito do Rei Sagrado

Em tempos remotos, a lei “só os mais fortes sobrevivem” era uma realidade verdadeira e comum. Hoje, graças à medicina moderna e à tecnologia, nossa sociedade mantém vivos aqueles que a Natureza permitiria morrer. (Isso não é um julgamento, mas uma simples observação.)
No sistema das tribos primitivas, os caçadores e os guerreiros pos- suíam papel importante na estrutura social. Os mais valentes e argutos dentre eles eram honrados pela tribo e seguidos como líderes. Em muitos casos, o bem-estar desse indivíduo afetava o bem-estar de toda a tribo. Esse é um tema amplamente explorado no mito norte-europeu do Rei Arthur. Merlin diz a Arthur que, caso tenha sucesso, a terra florescerá; caso contrário, a terra fenecerá. Arthur então pergunta: “Por quê?” Ao que Merlin responde: “Porque você é o Rei!”
Mesmo atualmente, as doenças de nossos líderes nacionais são minimizadas, e eles estão sempre “se recuperando gradualmente”. Para compreendermos essa relação íntima, devemos analisar certos aspectos e conexões. Enquanto Merlin diz a Arthur: “Você é a Terra, e a Terra é você”, prosseguiremos em nossa jornada ao passado para descobrir essas antigas raízes.
Antes que os humanos aprendessem a cultivar plantações e a criar animais, a caça era essencial para a vida. Sem caçadores capacitados, os clãs desapareceriam. A caça era uma atividade perigosa, pois os humanos ainda não haviam se retirado da cadeia alimentar. As armas primitivas exigiam que os caçadores se aproximassem muito da presa, e os ferimentos pessoais eram corriqueiros. Muitos caçadores perderam a vida ou ficaram incapacitados como resultado da caçada.
Com o tempo, o caçador passou a guerreiro, arriscando sua vida pela tribo. As necessidades da tribo, fossem por alimento ou por defesa, exigiam o envio de melhor caçador ou guerreiro existente na tribo.
Com o passar do tempo, esse conceito evoluiu com a consciência religiosa e espiritual da humanidade. O conceito de Deidade, bem como seu papel na vida e na morte, tomaram forma em meio a rituais. e dogmas. Conseqüentemente, surgiu a idéia de enviar o melhor elemento da tribo diretamente aos deuses para assegurar favores. Essa foi a origem do sacrifício humano (acreditava-se que os que se apresentavam volunta- riamente acabavam por se tornar eles mesmos deuses).
As oferendas não eram novidade para nossos ancestrais; muitas vezes alimento e flores ou caça eram depositados perante os deuses. Um semelhante era considerado a maior oferenda que uma tribo poderia fazer. Entre as oferendas humanas, o sacrifício de um voluntário era a possibilidade máxima. Certamente, acreditava-se, os deuses garantiriam à tribo qualquer coisa se alguém desejasse abrir mão de sua vida.
Em seu livro Western Inner Workings (Weiser, 1983), William Gray aborda diversos aspectos desse tema do Culto. Um deles está relacionado ver com linhagens sangüíneas. Ele escreve:
Algo os impelia a Deidades; não o medo, tampouco a busca por favores, mas eles sentiam um grau de afinidade entre eles próprios e os invisíveis Imortais. De modo extremo, eles percebiam que eram aparentados à distância desses Deuses, e queriam fortalecer tal relacionamento. Essa faceta em membros especificos da raça humana apresenta uma certa prova de llinhas genéticas que remontam ao ‘”Antigo Sangue” que se originara de fora da própria Terra.
Gray também demonstra como os reis e governantes acabaram porser sacrificados (por serem os “melhores” do clã) e como as linhagenssangüíneas eram importantes. Os regentes da antiga Roma e do Egitoeram considerados por seus povos os descendentes dos deuses, ou eram eles mesmos deuses.

Num capítulo entitulado “O Culto ao Reinado”, Gray oferece um relato de como o sangue e a carne eram distribuídos para o clã, e para a terra. Partes do corpo eram enterradas em campos cultivados para assegurar a colheita. Pequenas porções do corpo e do sangue eram adicionadas ao banquete sobre o qual Gray escreve:
Eles concediam ao finado líder o mais honroso sepultamento possível em seus estômagos.
Esse tipo de mitologia também pode ser encontrado na mitologia cristã, onde o corpo de Jesus é o centro do rito da comunhão. Após o fim de tais práticas, Gray nota que o costume perdurou na forma de cremação em uma pira íunerária.
No mito do Rei Divino/Deus Sacrificado, o sacrifício é apenas umaf parte da história. Sacrificar é enviar o que temos de melhor, mas e quanto a recuperá-los? Nos versos da Arte, temos uma passagem onde se lê:
“… e devemos encontrá-los, reconhecê-los, relembrá-los e amá-los novamente. “
Para tanto, foram criados rituais que ocasionassem o renascimento desses Deuses Sacrificados onde as linhagens eram cuidadosamente estudadas.
Donzelas especiais eram preparadas para carregar o rebento, geralmente virgens artificialmente inseminadas para que nenhum pai humano fosse conhecido.
Com a evolução e o amadurecimento da consciência humana, os sacrifícios humanos foram substituídos por sacrifícios animais (o ritualdo bode expiatório) e posteriormente para sacrifício vegetal. O mesmo mito se aplica ao sacrifício vegetal, e encontramos a “Deidade comida” no pão e vinho (carne e sangue) dos rituais da Arte.
Apesar do significado e da preparação terem se perdido em muitos dos sistemas reconstruídos, eles ainda são preservados por muitas das Antigas Tradições. Na antiga tradição, era através dessa conexão com o corpo e o, sangue do Deus Sacrificado que as pessoas se integravam com a Deidade. Esse é basicamente o conceito do rito cristão da comunhão ou da Celebração da Eucaristia.
Na “Última Ceia”, Jesus declara a seus seguidores que o corpo e o vinho são seu corpo. A seguir, ele afirma que abrirá mão de sua vida por seu povo, e pede-lhes que comam de sua carne e bebam de seu sangue (o pão e o vinho).
Acreditava-se que o sangue continha a essência da força vital. A morte do rei libertava o sagrado espírito interior, e através da distribuiçãode sua carne e de seu sangue (às pessoas e à terra), uniam-se a terra e o paraíso, e essa energia vital renovava o Reino. Resquícios dessa prática ainda podem ser claramente observados na Antiga Religião, apesar de estarem velados e altamente simbólicos.
O Rei Divino/Deus Sacrificado surge em vários aspectos no desen- rolar das eras. Sua imagem se manifesta corno o Jack-in-the-Green, o Hooded Man, O Green Man e o Hanged Man (Enforcado) do tarô. Ele é o Senhor das Plantas, ele é a Colheita e, em seu aspecto silvestre (ou livre), ele é a Floresta. Ele não assume o lugar da Mãe Terra, tampouco usurpa seu poder – ele é seu complemento e seu consorte.
A imagem do Green Man provavelmente simboliza da melhor forma possível o Rei Divino/Deus Sacrificado. Ele é o espírito da Terra, manifesto em todas as formas vegetais. Ele é o poder procriativo e a semente da vida. Sua face é oculta pela folhagem, mas ele está sempre atento.
O Green Man representa a relação do homem com a Natureza. O escritor William Anderson, em seu livro The Green Man, diz:
Ele resume em si mesmo a união que deve ser mantida entre a humanidade e a Natureza. Ele é o próprio símbolo da esperança: afirma que a sabedoria do homem pode se aliar às forças instintivas e emocionais da Natureza.
Ele é, com efeito, nossa ponte entre os Mundos. Ele está integrado ao Paraíso e à Terra, e integrar-se a ele é integrar-se à Fonte de Todas as Coisas.

Fonte: Gato Místico.