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Documentos sobre religiões africanas

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A cultura africana é muito rica em conhecimentos, costumes, mitologias, ritos e crenças. Em diversas cidades da África encontramos uma diversidade de costumes e tradições. Com o intuito de mostrar as belezas e todo este lado maravilhoso que envolve o caminho religioso, encontre nesta matéria diversos links de documentos compartilhados por usuários.

Para baixar ou ler, basta clicar no link de sua preferência.

A Cultura Religiosa Dos Iorubás Do Surgimento à Diáspora

A Imortalidade Iorubá

Calculo Opele

Concepção Ioruba da Alma, William Bascom

Cultura Iorubá – Costumes e Tradições, Maria Inez Couto de Almeida (Ifatosin)

Esú – A Pedra Primordial da Teologia Iorubá

O Exu Desvendado

Odu-apostila de jogo de buzios

Ose Oyeku – Como os Orisa deram nascimento a Igbadu, Pierre Verger

Predestinacao e a Metafisica de Identidade Ioruba, Yunusa Kehinde Salami

Sobre Obatala

Solagbade Popoola e o Novo Mito Ioruba da Criacao do Universo, Luiz L. Marins

Obs: os documentos sinalizados neste post não são de nossa autoria e a responsabilidade pelas informações produzidas é do próprio autor, apenas compartilhamos os links.




Caminhos De Odu

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Resumo do livro: Os odus do jogo de búzios com seus caminhos, ebós, mitos e significados, conforme os ensinamentos escritos por Agenor Miranda rocha em 1928 e por ele mesmo revistos em 1998. Contém os itãs (histórias) dos 16 principais odus do jogo de búzios que ajudam o babalaô a orientar o consulente.

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Odù – A sabedoria de Olódùmarè

Os Odùs foram criados por Olódùmarè (Deus Supremo), sendo a forma do divino compartilhar a sua sabedoria com os seres. Estudiosos afirmam que o nome de Olódùmaré possui ligação com a palavra Odù, trazendo como reflexão que ele é o grande criador dos Odùs.

• Texto • Awo Ifá Leké – Eduardo Henrique Costa

A sabedoria de Olódùmarè chamamos de Ifá. Quando o Deus Supremo, os Òrìṣà possuem alguma dúvida eles vão diretamente a Ifá (a própria sabedoria de Deus), para poder obter devidas respostas e conhecimento, não somente no plano espiritual, mas também no plano físico. Olódùmaré compartilhou Ifá (sua sabedoria) com o Òrìṣà Orúnmìlá, este compartilhou com as demais divindades e com os seres humanos, onde teve origem a sua religião.

O significado da palavra Odù, muitos traduzem como “destino” por entender que teria ligação com caminhos, outros comparam com os horóscopos e numerologias e preferem chamar de “signo”, o que é muito visto em Cuba, mas a realidade é que se fôssemos trazer para o português brasileiro, podemos afirmar que se refere a algo amplo, algo infinito. Em cada Odù habita diversas energias, são diversas possibilidades de caminhos a serem percorridos, várias predestinações, o que pode ser algo bom ou ruim, dependendo em que posição se encontra os nossos Odùs regentes.

Algumas pessoas por não saberem lidar com seus Odùs ou por terem o costume de não seguir as orientações vindas de Ifá, possui muitos problemas, devido os Odùs estarem negativos, o que infelizmente acabam acreditando que aquele Odù é ruim, mas na realidade não é! Os africanos acreditam que não existe Odú ruim. Os mesmos são cercados de coisas belas e feias, boas e ruins, o que vai definir o que possívelmente iremos vivenciar com mais frequência, é a forma como conduzimos e se estamos negativos ou positivos. O lado ruim que se encontra nos Odùs não significa que iremos vivência-los, eles servem como alertas e de como devemos agir para evitar aquela predestinação.

Dentro de cada Odù transita diversas energias, é morada de diversas possibilidades. Ter acesso a Odù é ter acesso ao conhecimento e diversas informações, que são capazes de entender o que vem acontecendo, como devemos resolver e até mesmo quem é a divindade daquela pessoa. É através deles que os Òrìṣà trazem respostas ao sacerdote ou sacerdotisa, sobre o que Olódùmarè julga como importante a ter como informação. É muito comum ao se consultar com frequência, perceber que os Odùs do oráculo podem ser os mesmos ou diferentes, pois tudo dependerá de como se encontra naquele exato instante aquele indivíduo ou questão.

Os Odùs de consultas não são vitalícios e, por isso, podem mudar constantemente, sendo o mesmo em fase boa ou ruim, ou um completamente diferente. Quando alguém nasce, os Odùs daquele nascimento explicam como os pais devem cuidar daquela criança e quais cuidados devem ter durante a jornada, numa iniciação religiosa, os Odùs que aparecem são os que vão irão explicar como será o caminho religioso daquela pessoa. E para apurar quais são os Odùs é necessário consultar algum dos oráculos. Existe um erro que muitos cometem ao associar Odù com numerologia e esoterismo, achando que ao somar número por número da data de nascimento terá os Odùs daquela pessoa, ou daquele lugar, mas tradicionalmente não funciona desta maneira. Existe diversos tipos de calendários, chinês, maia, grego (que é um dos mais usados), além de existir o próprio calendário iorubá, o que é impossível ter acesso aos Odùs que é algo tão amplo e não dá através de uma somatória, o que não é considerado uma apuração, pois não se baseia na situação atual e nas energias que estão regendo aquele exato momento.

Òrìsà Pepe. Um oráculo dos caçadores e guerreiros, é uma esteira que responde perguntas de sim ou não.

Na religião tradicional iorubá, possui diversos tipos de oráculos, como os obis, orogbo, Òrìṣà Pepe, entre outros, o que não devemos achar é que todos apuram ou possuem Odùs. Apenas três oráculos trabalham com Odùs, que é através dos jogos de Òpèlè Ifá (conhecido por alguns como “rosário de Ifá”), dezesseis búzios (conhecido como “Mérìndilogún”) e Ikins Ifá.

O que é bastante oportuno trazer como observação é que os Odùs dos jogos de búzios não são os mesmos do que nos outros dois tipos de jogos citados, embora possam possuir nomes semelhantes, os versos, interpretações, histórias e procedimentos são totalmente diferentes.

Imagem: Babalawo Ifaolaifa – Alberto Junior. Para visualizar em melhor qualidade, clique na imagem.

Em cada Odù, encontramos reflexões e histórias valiosas que nos ajudam nas determinações, vejamos um exemplo:

O Odù Ogbe Irete traz reflexões sobre a lealdade. Segundo este Odù, Orúnmìlá tinha dúvida sobre a amizade e lealdade dos outros Òrìṣà. Orúnmìlá pediu para seus filhos que anunciassem, falsamente, pela cidade, que ele havia morrido. Foram à casa de todos os Òrìṣà para comunicar o falecimento do Grande Adivinho. O que os filhos perceberam nas reações dos Òrìṣà foi a indiferença. Faltava a casa de Èsù. Este, quando recebeu a notícia, demonstrou profunda tristeza, pois considerava Orúnmilá um grande amigo e era muito grato pela ajuda que lhe dispensava. Ele nunca havia raspado sua cabeça e, como tributo ao amigo, pediu aos discípulos para fazer isso. Os filhos de Orúnmìlá foram contar ao pai o fato que ocorria na casa de Èsù. Orúnmìlá pediu aos discípulos que fossem imediatamente à casa de Èsù para interromper a raspagem, explicando que ele não estava morto e que aquilo era uma encenação para conhecer a lealdade e amizade dos Òrìṣà, porém a sua cabeça já estava quase toda raspada. A partir de então, o Grande Adivinho determinou que não manteria amizade com os outros Òrìṣà e que seria apenas amigo de Èsù, o único que demonstrou lealdade verdadeira.

Autor: Awo Ifá Leké – Eduardo Henrique Costa

Professor e pesquisador sobre religiões africanas e afro-brasileiras, fundador do Universo e Cultura.




Nada dava certo

• Texto de Eduardo Henrique Costa / Universo e Cultura.

Certa vez, um homem foi se consultar com um Babalawo. Queria saber por que não dava nada certo em sua vida.
Ao receber a mensagem de Ifá, descobriu qual era o problema. O Babalawo lhe disse:
_ Meu filho, sua vida não vai pra frente porque você não fez as oferendas que deveria.
Surpreso o homem indagou:
_ Fiz oferendas a todos os Orixás. Como posso não ter feito as oferendas que deveria?! Fui à cachoeira, agradei mamãe Oxum com Ipetê. Fui até o mar, a Yemanjá ofertei flores e perfumes. Nos campos, ofereci a Ogum um cará regado com muito dendê. A Yansã, arriei nos pés de um bambuzal nove acarajés. Em um lindo bosque, oferendei um sarapatel à Nanã e na Calunga deixei junto ao cruzeiro um alguidar com pipocas à Obaluayê. Xangô comeu um saboroso amalá que arriei na pedreira e a Oxossi, levei até as matas um banquete com abóbora, milho, côco e muito mais. E ao glorioso pai Oxalá, oferendei, em um lindo jardim, uma saborosa canjica coberta com muito mel. Agora pergunto: _ ainda faltou alguma coisa?!
_ Faltou o principal, meu filho!
Quando você foi à cachoeira agradar a Oxum, pediu-lhe amor e lhe deu um Ipetê. Mas não ofertou o amor que ela esperava que tivesse pela sua religião, pelos seus antepassados e pelo seu semelhante. Nas águas de Yemanjá, você pediu que abençoasse sua família, mas não é só com flores e perfumes que se agrada a rainha do mar. É preciso que trate a todos os seus irmãos com respeito, pois somos todos uma só família. Nos campos de Ogum, não basta lhe dar um cará. Necessita-se ter a bravura de um guerreiro para suportar os desafios inerentes à vitória almejada. Os ventos de Yansã, que sacodem o bambuzal, trazem os ares da certeza que põem em ordem os corações duvidosos, levando os eguns desorientados, desde que os acarajés ali arriados sejam regados com o fogo da coragem e do entusiasmo. Nos bosques sagrados de Nanã, só se consegue adentrar com profundidade quem traz consigo não só o sarapatel, mas a sabedoria, pois sem ela não se pode se livrar do lamaçal da vida causado pela maledicência, geradora da falta de fé. Na casa do velho Obaluayê, o senhor das passagens, não adianta arriar o deburu (pipoca) se não vivenciar o que isto representa. É necessário mergulhar no fogo da intolerância, deixar a casca dura da vingança e saltar como uma linda flor. O amalá deixado na pedreira só agrada a Xangô se seu coração não estiver como uma pedra, pois assim não adianta pedir para ele aplicar a justiça sobre seus desafetos, porque você não evoluiu o suficiente para discernir justiça de vingança. Seria melhor ter pedido que o ensinasse a proceder com justiça para com o próximo. Para Oxossi, não era necessário um banquete. A fartura em sua vida virá quando você repartir com os menos favorecidos aquilo que você tem em abundância, pois quem reparte aquilo que tem, nuca lhe faltará. Quanto ao bondoso e cristalino pai Oxalá, requer-se muito mais que uma canjica para agradá-lo. Sua oferenda é o seu coração.
Não basta que a canjica esteja cândida; seu coração é que deve estar tomado da mais pura brancura. Você pediu paz, mas não agiu de forma pacífica durante toda a sua vida. E ainda disse que os trabalhos não deram certo.
Ora! Não foram os trabalhos, ebós, sacrifícios e oferendas que fracassaram. Avalie sua vida até os dias de hoje. Coloque um ponto final no modo egoísta de viver. Volte até o recanto dos Orixás e lhes peça todo o axé necessário para que suas mãos possam produzir neste mundo a paz, o amor, a fartura, a justiça, a coragem, a sabedoria e a força geradora das obras do bem. Somente após mudar sua própria maneira de agir, de modo a poder plantar e regar boas sementes, você poderá colher os frutos de um novo amanhecer. Até lá, faça com fé suas oferendas. Os guias espirituais estarão junto de você.
Mas não esqueça que a maior oferenda é o seu coração!