Antes de iniciarmos, é necessário refletir que a forma como ensinamos é baseado em cima da forma como aprendemos dentro da nossa família religiosa tradicional, não temos o menor intuito de contestar a maneira como as outras famílias expressam suas crenças.
EPÁ! ESPERA AÍ…
Quando ouvimos a palavra “ẹbọ” precisamos entender que é um tipo de medicina religiosa existente no culto tradicional yorùbá, muito comum no Culto aos Òrìṣà e Ifá. Um ẹbọ pode conter materiais de origem animal, vegetal, mineral, entre outros, cabendo o curandeiro aplicar a forma que melhor domina ou acredita ser apropriado para a o caso em questão, na nossa família sempre consultamos o oráculo para apurar e montamos o ẹbọ com base no que apareceu durante a consulta.
Mesmo com todas informações a respeito do assunto, ainda há muitas dúvidas que os nossos inscritos nos envia a respeito do tema e gostaríamos de esclarecer oito delas.
1 – “Ẹbọ é coisa de ricos”
Não é bem isso! Uma pessoa de baixa condição financeira poderá tentar ver uma forma mais simples e com menos materiais pro caso. Mas em muitos locais, principalmente na África, quando a pessoa não tem dinheiro para ẹbọ, a mesma presta serviços ajudando em algumas funções e em troca recebe o serviço religioso, existe muito esta questão de trocas de serviços.
Alguns centros culturais que recebem doações ou possuem investidores, costumam usar alimentos não perecíveis arrecadados em prol do ẹbọ da pessoa que necessita e não tem condições de arcar com os materiais, porém se tratando do serviço sacerdotal alguns podem abrir mão ou outros deixando até pagar depois.
Costumamos dizer que tudo depende da necessidade, O Universo e Cultura costuma oferecer algumas orientações para ir amenizando e ajudando, até que a pessoa consiga realizar o ẹbọ.
2- “Ẹbọ segura o espírito da pessoa na Terra”
Isso não é verdade! As vezes quando alguém está extremamente doente e a família busca o sacerdote para realização do ẹbọ mesmo havendo altas complexidades na saúde carnal, a Espiritualidade não fará o que é melhor para os outros seguindo o que eles desejam, e sim, o que é melhor para aquele que está em enfermo, amenizando os sofrimentos.
Ẹbọ sempre será o que é melhor para o solicitante! Se algo está causando tortura, não traz paz e a pessoa não será feliz, a Espiritualidade poderá fazer a passagem e afirmar perante ao oráculo que o ẹbọ foi aceito, pois será feito o melhor para aquela pessoa melhorar podendo ser em posição apenas espiritual.
3 – “Ẹbọ possui um preceito sem fim”
Não é bem isso! Boa parte dos ẹbọ na nossa família religiosa costuma durar o preceito religioso (proibições temporárias) de três a quatro dias, mas há casos que pode ocorrer a maximização para sete dias.
O que acontece muitas das vezes é pessoas muito devotas de Òrìṣà optarem por espontânea vontade de se manter mais tempo em preceito religioso, alguns chegam até fazer promessa e com isso ficam mais tempo de preceito.
4 – “Vegetarianos e veganos são proibidos de fazerem ẹbọ”
Isso não procede! Pode ser feito normalmente, o que pode acontecer é da pessoa não se sentir confortável com certos ingredientes ou materiais, mas tudo é questão de comunicação, existe sacerdotes que possuem um conhecimento mais amplo e podem pensar em alternativas que envolve pós, sementes, ervas, legumes, entre outros.
5- “Em todo ẹbọ precisa se vestir de branco e apenas usar esta cor por um tempo”
Não procede! Cada caso é um caso, nem todas pessoas são iguais as outras, logo a forma de preceito nem sempre será igual. Há casos em que a pessoa deve se vestir inteiramente de roupas pretas, ou de outras cores solicitadas por Ifá.
6 – “Todo ẹbọ é feito com oferendas de alimentos”
Não é verdade. Existe ẹbọ em que a pessoa deverá jejuar e apenas se concentrar em orações, como também existe alguns casos que a pessoa só poderá se alimentar de uma bebida e uma comida específica e dedicando o tempo na boa parte as orações dentro do local religioso.
7 – “Somente pode passar pelo ritual de ẹbọ quem é iniciado na religião”
Ẹbọ é um tipo de medicina religiosa e não depende de iniciação para poder receber o tratamento, o que é viável é apenas o oráculo, no antes, durante e depois.
Há muitos consulentes que somente gostam de se cuidar, mas não são iniciados, tudo depende do que a pessoa quer para a vida.
Da mesma maneira que um padre para benzer alguém não precisa que a pessoa seja em específica uma católica, para alguém receber àṣẹ de um bàbáláwo não precisa em específico ser iniciado em Ifá ou em Culto de Òrìṣà. É muito comum alguém que não é iniciado pedir bença ao sacerdote dizendo “a bença bàbá”, não somente por respeito mas para o seu sacerdote bem dizer palavras boas pedindo que suas crenças abençoe aquela pessoa. O respeito pelos mais velhos, por aquele que tem sabedoria ou possui um cargo de liderança religiosa é essencial, mas aquele que não é iniciado, não precisar usar a saudação em específico daquela religião, acaba sendo opcional.
O que é necessário é a pessoa ter fé, respeito e estar aberta a passar pelo processo medicinal da cultura, e isso não é apenas para quem não é iniciado, até mesmo alguém iniciado se não tiver boas condutas, fé e respeito, de nada adianta ẹbọ.
8 – “A religião entende que atos sexuais para quem passa por ẹbọ é pecado”
A questão não é esta. Tudo tem seu devido momento, durante um processo de medicina religiosa precisamos focar na cura espiritual e nas orientações, é o momento que nosso Ori se abre as novas energias e passa por um processo de troca de energias e os Òrìṣà ficam mais próximos, não sendo viável atos que não tenha a ver com o processo, e que pode fazer que ocorra perca de energias antes mesmo de recebê-las.
Para alguém que está de “corpo aberto” recebendo as energias de um trabalho, não tem a menor lógica praticar atos sexuais e receber a energia de outra pessoa ou perder, durante este período de preceito (proibições temporárias) que é justamente para fortalecer, alimentando o Ori do solicitante.
CONCLUSÃO
É necessário seguirmos da forma como é feito no local onde você escolheu se cuidar, o intuito desta publicação foi inteiramente esclarecer algumas dúvidas comuns enviadas pelos assinantes e inscritos do site, você também pode enviar sugestões para novas matérias pelo e-mail: edicao@universoecultura.com.