domingo, julho 14, 2024
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Orixás brigam pela cabeça de seus filhos?

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O Universo e Cultura é um site voltado ao ensino e muitos dos nossos assinantes que são candomblecistas e umbandistas acabam enviando esta seguinte pergunta “Orixá briga pela cabeça do filho ou filha?” E o nosso intuito é esclarecer com base na forma que aprendemos e repassamos este conhecimento tradicional familiar.

• Awo Ifá Leké – Eduardo Henrique

Na minha adolescência eu estava assistindo o filme “Alice nos País das Maravilhas” e em uma determinada cena a Rainha de Copas começa a exigir constantemente “cortem a cabeça! Cortem! Cortem a cabeça!” E naquela exata cena, parei para refletir sobre a meneira que muitos enxergam os Òrìṣà.

Tudo agora é “você tem que raspar!”

Entre alguns que se dizem Bàbálórìsà ou Bàbáláwo quando o consulente reporta o problema, é como se não existisse medicina espiritual e religiosa, para todos os problemas a resposta é sempre “você tem que fazer o santo logo”, “é porque o Òrìṣà quer que você raspe”, são afirmações que colocam o leigo numa situação que pode até questionar e pensar “será que o Òrìṣà é o causador de tantos problemas na minha vida e esteja realmente me obrigando a se iniciar?”…
A forma como muitos sacerdotes infelizmente expressam chega ser ofensivo, é como se não existisse livre arbítrio e houvesse divindades que obrigam fazer a vontade delas primeiramente ou caso contrário sofrerá as consequências.

Talvez o motivo de muitos acabar querendo que alguém se inicie, seja por pouco conhecimento em medicina religiosa e esteja tentando resolver o problema através de um renascimento para aquele Òrìṣà ou tradição, porém existe alguns que é pelo motivo de quererem cada dia mais os seus templos, terreiros ou barracões repletos de iniciados (filhos) se prevalecendo do desespero das pessoas para conseguir isso, acabando se igualando a certos evangélicos que usam a figura de Satanás para amedrontar e converter pessoas ao Cristianismo.

Saiba que você não necessita se iniciar primeiro na tradição para depois tratar dos problemas, se fosse assim não existiria oráculos ou medicinas religiosas, como por exemplo, borí e ẹbọ. É claro que, uma iniciação muitas das vezes traz uma melhor estabilidade e fortalecimento, mas nem sempre é o que a pessoa quer naquele momento ou as vezes nem tem condições e precisamos ter a empatia, o humanitarismo de olhar para a situação de uma maneira ampla e não apenas pra como vivemos o nosso lado da história.

Muitas das vezes o problema da pessoa acaba sendo com seu Odù, o caminho que rege aquela pessoa e os atrapalhos ligado a este Odù, ou até mesmo sofrendo de Ajoguns, entre outros, e quando verificam no jogo a presença de tal Òrìṣà seria como antídoto, energia necessária para conectar a pessoa, trazendo assim melhorias, muitos acabam pensando que é o Òrìṣà que está punindo, quando na verdade o jogo está demonstrando que são aquelas(s) energia necessária que a pessoa precisa para aquele momento.

Existe casos que a pessoa passa mal e necessita muito fazer algo para um certo Òrìṣà, mas não é porque o Òrìṣà quer comer ou esteja punindo, é que muita das vezes aquele Orí precisa de força e de energias. É claro que, há casos de maus comportamentos em que a pessoa começa fazer coisas ruins e erradas, consequentemente acaba afastando a presença dos Òrìṣà e dando brecha para os Ajoguns (inimigos da humanidade).

E vale lembrar a informação de que Òrìṣà não vive da sua oferenda ou reza, estamos nos referindo a seres divinizados que possuem seus próprios poderes espirituais e uma alta evolução, não necessitando de coisas materiais, como nós humanos. Quando fazemos ẹbọ, oferendas, entre outros, aumentamos o foco do nosso Orí alinhado com aquela egregora ou ancestralidade, e todos os atos que praticamos são convertidos em energias para nós mesmos, a invocação dos Òrìṣà nas magias acaba sendo apenas para abençoar e direcionar os elementos ligados aquele ser para você mesmo, então não fique pensando de maneira vulgar que uma divindade será invocada e vai sentar no chão através de um corpo fluídico ou materializada para comer sua oferenda, porque não é assim que funciona.

O que muitos acabam misturando é que eles lêem as lendas de alguns dos Òrìṣà e acham que eles são humanos daquela forma, porém não entende que as lendas foram criadas através de pessoas que reencarnaram na Terra e ao sacerdote consultar o oráculo, foi apurado que aquela pessoa é o ancestral vivo de um dos Òrìṣà, é por isso que se fomos analisar veremos nomes diferentes e lendas que não são as mesmas para cada Òrìṣà em locais na África, o Òrìṣà é um só, porém a cada lenda, a cada cidade, a cada tempo diferente, é normal que exista outros títulos, outras cantigas, outras maneiras de interpretar cada um deles.

Existe muitos sacerdotes que não dominam tão bem os seus oráculos e como escapatória quando não consegue apurar o Ẹlẹ́dá (Òrìṣà do Orí daquela pessoa), costumam dizer que há uma briga entre um Òrìṣà com o outro pela sua cabeça, disputando para ver quem vai ganhar… mas por quê isso afinal? É devido o sacerdote ter visto que a pessoa pode ser de um daqueles dois e não conseguiu entender qual realmente é, acabando fazendo esta má interpretação e colocando a pessoa numa situação de ansiedade, angústia, e as vezes tendo que escolher um deles achando que há realmente uma briga, como se eles fossem similares a Rainha de Copas do filme citado e quisessem ficar brigando por filhos na Terra, o que claramente se fosse verdade não teria lógica tratarmos como seres divinizados. É necessário estudar, sair um pouco deste senso-comum, aprender com pessoas sérias e de famílias realmente comprometidas com o Sagrado.

Não existe isso de Orixá brigando pela cabeça de ninguém! Se o sacerdote não conseguiu avaliar de qual Òrìṣà você é, significa que seu Orí não se encontra com a energia do Òrìṣà despertada totalmente em você ou o mesmo não sabe apurar, as vezes é necessário um ẹbọ, um bọri e até mesmo alguns outros jogos em outros determinados momentos para confirmar, porém sem este embaraço de guerrinha pra ver quem fica, porque é lamentável que as pessoas pensam que Òrìṣà é como ser desiquilibrado e egoísta que só pensa em si ou em números.

Eu costumo afirmar que onde só existe confusões, claramente em sintonia com os Òrìṣà não se encontram.

As lendas e histórias existem para nos ajudar a refletir, aprender e melhorar como pessoas de caráter religioso, não cometendo mesmos erros que os ancestrais que somos interligados cometeram, é por isso que existe os encantamentos, os ebus, entre outros, para nos equilibrar com aquela energia que estamos interligados e afastar os problemas que os ancestrais tiveram em vida.

Se você quiser entrar pro Culto aos Òrìṣà, busque por um local sério, com pessoas sérias que realmente possam lhe esclarecer e te ajudar a se desenvolver e não pessoas que só sabem aterrorizar e causar mais ainda confusão em sua mente.

Evoluir é buscar pela boa informação e melhorias significativas no seu interior.

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