É muito discutido ao redor do mundo sobre o aborto espontâneo e o provocado dentro da visão religiosa, os povos yorùbás, cultuadores de Òrìṣà, Ifá, entre outros cultos familiares de origem yorùbá costumam ter posicionamentos idênticos quando o assunto é aborto. Nesta matéria não temos nenhum intuito de julgar aqueles que são a favor, nosso objetivo é apenas abordar de forma específica sobre a visão yorùbá e dos acontecimentos espirituais provocados.
O CONHECIMENTO RELIGIOSO
Em alguns versos de Ifá, encontramos a seguinte frase: “quem tem bons ouvidos ouça, quem possui sabedoria compreende”. É necessário ao invés de apenas ler, refletir sobre o tema, buscar compreender em essência, antes de tais julgamentos antecipados.
Texto • Awo Ifá Leké – Eduardo Henrique Costa
Quando cultuamos Òrìṣà, aprendemos que eles são as forças da vida. Dentro do entendimento yorùbá, Olódùmarè, os Òrìṣà, são seres construtivos, favoráveis à vida e a manutenção da existência (dos seres, da natureza), e estes são fatos indiscutíveis em qualquer sociedade ou família de tradição, esse pensamento é compartilhado até mesmo pela cultura afro-cubana e afro-brasileira.
Acreditamos que quando há um ato sexual (penetrativo) e os espermatozoides fecundam um óvulo e se transforma em um blastocisto, em um embrião e, por fim, em um feto, é o suficiente para considerarmos que se iniciou a criação de mais uma vida terrena para recebimento de um novo ser. A partir do momento que começa existir a formação de uma criança dentro da mãe, um ancestral daquele homem ou daquela mulher, na condição espiritual, começa a se preparar para o processo de Atunwaye (literalmente significa reencarnação. A palavra está ligada ao verbo vir, voltar, retornar, regressar), onde o ancestral retorna.
Enquanto a criança se desenvolve dentro daquele útero, um dos espíritos começa a se preparar para este momento. Dentro da religião, durante este período é muito comum entre os religiosos a busca pelo seu sacerdote para realizar consultas ao oráculo para iniciar devidos tratamentos espirituais com objetivo de uma vinda harmoniosa, ajudando muito aquele espírito ao reencarnar, entender sobre sua vida, ter um bom trajeto. É notável que na crença, aqueles que não passam por estes rituais pode acabar não desfrutando da sorte, além de vir com muitos problemas, tendo a necessidade de maior cuidado pelo sacerdote.
• PESQUISAS NOS AJUDAM A COMPREENDER
O nosso centro de pesquisas fez um devido levantamento no ano de 2018 e concluiu que quase cem por cento das pessoas que passam por ẹbọ com muita frequência para resolver diversos problemas, costuma ser justamente pessoas em que os pais não buscaram passar por estes rituais.
Um segundo levantamento feito no ano de 2019, juntamente com o Centro Cultural Brasil África, observou as ocorrências de ataques espirituais provenientes de inimigos do passado (de outras vidas) entre os brasileiros, concluindo que quase cem por cento das vítimas são pessoas em que seus pais não buscaram o devido cuidado com a espiritualidade durante o período de gestação.
Existe muitas pessoas que quando chegam a vida terrena, independente de se cuidarem, costumam ter uma vida mais harmoniosa e prazerosa, e um dos fatores está ligado diretamente ao comportamento dos pais e os cuidados com este bebê.
O momento em que o corpo está sendo criado começa a se vincular com um espírito, é o suficiente para que o espírito também passe por cuidados espirituais no outro plano para que a jornada do Ọ̀run (plano espiritual) para o Àiyé (plano físico) seja agradável, nesse momento de passagem, o espírito começa a se desligar das lembranças de como ser espiritual, de vidas passadas e até mesmo de acordos feitos entre outros companheiros espirituais, começando a viver entre dois mundos, pois aos poucos começa a diminuir sua presença no Ọ̀run e aumentando de forma gradativa no Àiyé.
• LEMBRANÇAS VIVIDAS POR PAIS ESPIRITUALIZADOS
Há muitos relatos que recebemos de pessoas que nos contaram que sonhava com uma certa pessoa que nunca viu, outros que até mesmo, enxergavam alguém andando pela casa e após o nascimento da criança sumiu, e a probabilidade de ser o próprio espírito que iria reencarnar naquele corpo físico é bem grande.
Boa parte dos clãs yorùbás acreditam que o espírito passa a adentrar por completo no corpo do bebê que está sendo gerado, após o primeiro sopro de vida, é por isso que é comum dentro da religião associar o sopro de vida ao espírito.
• O ABORTO PODE GERAR PROBLEMAS
Quando o período de formação da criança começa, o espírito gera expectativas e começa a traçar seus planos, além de todo preparamento que se inicia, e se por algum motivo, ocorre o aborto provocado, aquele espírito voltará de forma muito prematura para o Ọ̀run e carregado de muita perturbação, alguns ficam com raivas, tristes, frustrados, e isso trará consequências negativas para o casal, como também para os descendentes.
O espírito que partiu de forma prematura pode reencarnar como um Àbikú (trazendo muitos problemas para os pais, nascendo muita das vezes doentes e até mesmo morrendo antes dos pais), ou este espírito pode até não reencarnar, mas pode vir espíritos que terão pactos espirituais (os Emèrè) e terão sua vida muito influenciada por este espírito que não nasceu. A família terrena destas crianças precisarão ter muita paciência, muitos cuidados e principalmente acompanhamento espiritual para que mesmo com tantas dificuldades, possa minimizar a negatividade.
Eu costumo dizer que é como prometer doces para uma criança e depois quando ver o doce, você retira deixando sem nada. O doce é viver, experimentar de vivências, e quando ocorre o aborto provocado por mais que tenha problemas terrenos, é inevitável que também gerará uma resposta no plano espiritual que precisará de muita atenção, tanto para aqueles que fazem, e também as crianças que serão geradas logo após.
• ABORTO ESPONTÂNEO
Quando naturalmente ocorre o aborto durante o processo da gravidez, é muito provável que envolve uma ligação entre a mulher, ou o homem, ou os dois, com o seu Egbé Òrún (sociedade espiritual).
Ao buscar um sacerdote competente, o mesmo deverá instruir que existe uma necessidade de compreensão e de muita atenção, pois esse casal precisará de muitos cuidados espirituais (muito grande) para que eles possam gerar uma descendência, apaziguando constantemente seu Egbé Òrún.
Os yorùbás não acreditam que o aborto espontâneo possa ser resultado apenas de um problema ancestral, é possível que eles possam ser provocados por inveja excessiva, ataques espirituais, por práticas inadequadas de feitiços, vampirismo de energias, entre outros.
O ideal é que a gestante não exponha sua barriga para qualquer pessoa, evite beijos, toques excessivos de mãos por estranhos, pois há muitas mulheres que gostaria de estarem grávidas, além de existir muitos maus intencionados.
De fato, existe muitas mulheres sensíveis as energias e podem ficar muito vulneráveis durante a gravidez, precisando mudar certos hábitos e melhorar estas questões, permitindo a criança nascer e poder desfrutar de uma vida mais feliz, saudável e próspera.
• TENTATIVAS PERIGOSAS
Com muitas novas informações na internet, muitos tentam se aventurar em resolver estes tipos de problemas espirituais graves sozinhos, o que é bastante perigoso, pois ao invés de ajudar poderá piorar tornando o problema ainda mais grave.
O ideal é que procure um sacerdote ou sacerdotisa de sua confiança e caso não tenha, o viável é seguir referências indo por famílias sérias. O Universo e Cultura possui sacerdotes que lidam com estes tipos de problemas, porém independente de quem seja, o primeiro passo é a apuração através do oráculo.
SUGESTÕES DE LEITURAS