quinta-feira, novembro 21, 2024
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A DIVINA TRINDADE HINDU

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Criação, preservação e destruição: as três forças que regem o ciclo da natureza e a existência do homem sobre a Terra dão vida aos três principais deuses hindus – Brahma, Vishnu e Shiva

Texto • Isis Gabriel
 

Em um tempo longínquo, há mais de cinco mil anos, quando o homem vivia em estreita relação com o meio ambiente, as manifestações da natureza eram vistas como mensagens divinas. As idas e vindas das marés, as chuvas, os ventos, as fases da Lua – tudo era interpretado como castigos ou bênçãos dos deuses.

Assim, as divindades dos primórdios passaram a ser relacionadas à natureza e a suas forças. Existia um deus da chuva, outro da terra, um dos animais, e assim por diante. Mas chegou um momento em que esses deuses não atendiam mais aos questionamentos do homem. Uma tempestade, por exemplo, já não era tão amedrontadora quanto os anseios da alma humana. Foi a partir daí que os mitos das divindades hindus, como Brahma, Vishnu e Shiva, conhecidos até hoje, ganharam força e personalidade.

Swami Krishnapriyananda Saraswati, monge hindu e presidente da Sociedade Divina Brasil e da Sociedade Internacional Gita do Brasil, conta que, nesse momento histórico, os antigos sábios indianos passaram a observar a natureza e suas transformações e, nesse processo, entenderam que os três principais deuses do hinduísmo deveriam aludir à ideia de que tudo na vida faz parte de um ciclo.

Por isso, Brahma é o deus da criação do universo, Vishnu, o da manutenção, e Shiva, o da destruição. Todos eles, no entanto, são diferentes manifestações (avatares) de um único Deus, a grande força, que no hinduísmo é conhecido como Brahman Supremo. “Os hindus consideram que tudo o que existe parte em essência do Brahman. Nesse caso, Brahma, Vishnu, Shiva, Ganesha, entre outros deuses, são aspectos desse Brahman original. Então, não faz sentido classificar o hinduísmo como uma religião politeísta, e sim monoteísta”, afirma Lúcia Brandão, professora de filosofia e tradições orientais da Associação Palas Athena, que acompanha grupos em viagens temáticas para a Índia e o Nepal.

Segundo a mitologia hindu, Brahma nasceu do lado esquerdo de Brahman; Vishu, do lado direito; e Shiva, do centro. De maneira simplificada, é possível dizer que Brahma é responsável por toda a criação do universo, enquanto é o encarregado Vishnu da manutenção de tudo e Shiva é o transformador, o renovador. Nas páginas a seguir, você conhecerá um pouco mais sobre cada uma dessas divindades.

Brahma: o criador

Segundo os textos védicos, Brahma teria nascido de uma flor de lótus que brotou do umbigo de Vishnu enquanto esse sonhava. Quando os olhos de Brahma, no sonho de Vishnu, se abrem, todo o universo é criado. Conta o mito que, ao anoitecer dos tempos, o sonho de Vishnu termina, a flor de lótus se fecha, Brahma adormece e o universo é reabsorvido para o ventre de Brahman – é a dissolução ou Pralaya Cósmico. A tradição hindu entende que esse mito explica o início e o final dos tempos.

Outra lenda conta que Brahma, um dia, sentindo-se solitário, deu vida à deusa Shatarupa. Mas toda vez que o deus criador chegava perto de Shatarupa, ela transformava-se em algum animal e o enganava. Para conquistá-la, Brahma resolve transformar-se nos machos correspondentes. Assim, conta-se, todos os seres do cosmo foram sendo criados.

As representações de Brahma geralmente o retratam com quatro faces, como na figura ao lado, o que simboliza que ele vê em todas as direções, para assim controlar o universo.

Vishnu: o mantedor

Controlador supremo, Vishnu mantém toda a criação universal em funcionamento. Seu controle, no entanto, não se restringe à atividade material. Ele sabe tudo o que acontece conosco, nossos íntimos desejos e, assim, dotado de suprema misericórdia, atende a nossos anseios.

Segundo a lenda, Vishnu flutua no oceano cósmico sobre a serpente Ananta ou montado sobre a águia solar Garuda. Ananta simboliza a dinâmica do inconsciente e Garuda, a luz da consciência. Quando Vishnu dorme, sonha com o mundo em que vivemos e com Brahma. Assim, o sonho de Vishnu sustenta nossa realidade, que findará a partir do momento em que ele despertar. 

Vishnu já teve dez avatares – ou seja, encarnações. A palavra “avatar”, como explica Anderson Allegro, professor de  yoga e diretor da Aliança do Yoga, significa “aquele que desce”. Allegro conta que sempre que a ordem cósmica é perturbada ou a humanidade perde seu rumo, Vishnu reencarna como um avatar para restabelecer a ordem e a justiça. Seus avatares são: o peixe Matsya, a tartaruga Kurma, o javali Varaha, o homem-leão Narasimha, o anão Vamana, o padre guerreiro Parashurama, o príncipe Rama, o pastor Krishna, Buddha-Mayamoha e o cavaleiro Kalki.

Shiva: o destruidor

Shiva significa “auspicioso”. Esse deus é considerado o renovador, pois é o encarregado de destruir a natureza material no final do ciclo para dar lugar ao novo. Alguns estudiosos apontam que as primeiras representações de Shiva surgiram no Neolítico (4000 a.C.) na forma de Pashupati, o Senhor dos Animais. A criação do yoga e da dança indiana estão associadas a ele. Benevolente, defende os desprotegidos e conduz os ignorantes à luz.

Shiva tem várias esposas, chamadas shaktis, que representam a força feminina ou mesmo o aspecto feminino do deus. Quatro delas se destacam: Parvati, Umma, Durga e Kali. Parvati é a deusa do amor, jovem e bonita, que deu a luz a Ganesha, o deus da sabedoria com cabeça de elefante. Umma representa a maternidade; Durga, a justiça; e Kali, a morte.

O tridente que aparece nas ilustrações de Shiva é o Trishula, arma com que ele destrói a ignorância dos homens. As pontas do tridente representam as qualidades da matéria: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio). Já a cobra naja simboliza a imortalidade e a energia do fogo.

No topo da cabeça de Shiva é comum representar-se um jorro de água, que alude ao rio Ganges, ou Ganga. Segundo a lenda, o Ganges era um rio muito violento e, por isso, não poderia descer à Terra porque a destruiria com a força do seu impacto. Então, para ajudar aos homens, Shiva permitiu que o rio caísse primeiro sobre sua cabeça, amortecendo a queda, e depois corresse sobre a Terra.

Nas imagens de Shiva, geralmente aparece também um tambor, chamado Damuru, que, segundo o hinduísmo, traz o som da criação do universo – este, por sua vez, nasce da sílaba OM. A imagem do touro branco, o mais fiel servo de deus, também é comum, simbolizando masculinidade e devoção

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