terça-feira, julho 2, 2024
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AULA 1 – Príncipios e origens

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Saudações! É um prazer inenarrável tê-lo(a) conosco em nosso curso de Ajeum Orixá.

Todo material que será apresentado é da autoria do Universo e Cultura, desenvolvidos pelo Olùkó (professor) Eduardo Henrique Costa. O nosso site é um dos maiores do mundo em pesquisas, práticas e conhecimentos de diversidade religiosa.
Nesta primeira aula iremos nos aprofundar sobre princípios e origens básicas, antes de irmos para receitas, ritualísticas e muito mais!

Para iniciarmos nossa aula, eu tenho uma pergunta pra você! Você sabe o que significa Ajeum? Aliás, você acha que isto é usado para quais finalidades? Se você não sabe responder, não tem problema! A dúvida é o princípio da sabedoria e ninguém nasce sabendo tudo, aliás ninguém nasce sabendo algo, tudo é uma eterna aprendizagem desde os primeiros passos que uma criança pode apresentar, antes de aprender a andar, até quem vem de outras vidas é necessário se despertar na atual. Saber o que é ajeum, é extremamente importante, pois não adianta saber praticar se não entende as origens e o básico, um dia podemos nos deperar com alguém que faça uma simples pergunta a respeito de ajeum e precisamos ir por etapas, porque ultrapassar e ir direto a prática sem antes passar pela teoria, pode fazer com que você não tenha o melhor aproveitamento neste curso, vamos começar?

 A ORIGEM
A palavra ‘Ajeum’ possui origem no idioma yorùbá (A jẹun), que significa literalmente comidas. É muito comum entre os povos yorùbás, as pessoas utilizarem esta palavra no cotidiano, não sendo exatamente usada apenas para fins religiosos, é uma palavra muito abrangente para vários sentidos e finalidades diferentes.
A jẹun Òrìṣà significa ‘comida para Orixá’, usada para se referir a qualquer tipo de comida que é feita com o àṣẹ̀ das divindades yorùbás. Há muitos tipos de comidas religiosas que não são usadas apenas como oferendas para as divindades, são também usadas para consumo durante as cerimônias religiosas e como medicina religiosa entre os devotos.

No Brasil o uso da palavra “Ajeum” é uma transliteração, adaptação para o português brasileiro, facilitando a pronúncia e em especial costuma ser muito usada pelo Candomblé (uma recriação do Culto a Òrìṣà que surgiu no Brasil durante o período da escravidão, possui origens nas senzalas). Ajeum no Candomblé não é utilizado em todas as nações, apenas naquelas que se baseiam na cultura yorùbá, pois como vimos anteriormente a palavra e origem é yorùbá. Existe três nações específicas de Candomblé que usa esta palavra, que seria Ketu, Nagô e Efon, estas nações cultuam Òrìṣà, porém não é cem por cento da mesma forma que é feito na África. Achar que todos tipos de Candomblé se baseia na Cultura Yorùbá, é um grande erro. Pois vieram para o Brasil diversos tipos de famílias diferentes e de cidades diferentes, na África existe outros panteões, outras vertentes e religiões praticadas antes da chegada dos cristões. No Brasil temos nações de Candomblé que cultuam outros tipos de divindades e de diferentes culturas, vejamos alguns exemplos:

O Candomblé de Angola, tradicionalmente cultua as divindades conhecidas como ‘Nkisi’ (Inquice) nome que tem origem no idioma quimbundo, muito usado pelos originários do Norte de Angola. O deus supremo da mitologia bantu é Zambi (deus criador); abaixo dele, estão os Minkisi ou Mikisi (plural do termo quimbundo Nkisi, “receptáculo”).

Os nkisi mais populares e conhecidos no Brasil são:

Representação de inquice congolês no Museu Etnológico de Berlim.

Aluvaiá – divindade da comunicação e do corpo humano e guardião dos vilarejos;
Angorô – divindade do arco-íris, que traz a fertilidade do solo com suas chuvas;
Cabila – divindade da caça, fatura e abundância;
Catendê – divindade das folhas, agricultura e ciência;
Caviungo ou Cafungê – divindade da saúde e da morte;
Dandalunda – divindade das águas doces, fertilidade, fecundação, ouro, amor, beleza e riqueza;
Gangazumba – divindade da lama e dos pântanos;
Incoce – divindade da forja, do ferro, da tecnologia, agricultura, guerras e militarismo;
Lemba – divindade da procriação e da paz, pai de todos os inquices;
Matamba – divindade dos ventos, raios, tempestades e fertilidade;
Pombajira – divindade dos caminhos, encruzilhadas, bifurcações e comunicação;
Quitembo – divindade do tempo cronológico e mítico, atmosfera, tempestade e vento;
Vunje – divindade da inocência e protetor das crianças;
Zaze – divindade dos trovões e relâmpagos e a representação do equilíbrio do cosmo…

Reitero que nkisi são divindades da mitologia bantu, não tendo nenhuma ligação com a mitologia yorùbá. Há um certo costume entre as pessoas de achar que ambos são as mesmas coisas, apenas mudando nome, mas é ofensivo aos povos tradicionalistas que mantêm suas originalidades, sem misturar seus deuses e costumes.
Zaze não é Ṣàngó, Matamba não é Oyá, Vunje não é Ibeji, Catendê não é Ọ̀sányin, Cabila não é Ọ̀ṣọ́ọ̀sì.
É importante saber diferenciar, porque as comidas que iremos aprender e os costumes não podem ser aplicados na cultura bantu, pode até mesmo existir algumas conhecidências, como por exemplo, colocar doces para divindades infantis, mas não são as mesmas.

O Candomblé de Jeje tradicionalmente cultua voduns (em fom: vodun) divindades da mitologia fom. Possui as suas raízes primárias entre os povos Jeje-Fom do Benim, atual religião nacional, com mais de 7 milhões de adeptos. Mawu é o deus supremo desta religião.

No Brasil os voduns mais conhecidos e cultuados no Candomblé são:

Dança vodum em Uidá.

Mawu – Ser Supremo dos jejes e fons.
Dambê – divindade que é uma serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
Lissá – divindade que é masculina, e também corresponsável pela Criação.
Loco – divindade que é o primogênito dos voduns. Dono da joia de maí que e o rumbê
Gu – divindade vodum dos metais, guerra, fogo, e tecnologia.
Quevioço – divindade vodum que comanda os raios e relâmpagos.
Sapatá – divindade vodum da varíola.
Dã – divindade vodum da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.
Agué – divindade vodum dono dos mares.
Aizã – divindade vodum feminino dona da crosta terrestre e dos mercados.
Agassu – divindade vodum que representa a linhagem real do Reino do Daomé.
Aguê – divindade vodum da caça e protetor das florestas.
Lebá – divindade que é o caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas, além da sexualidade.
Fa – divindade vodum da adivinhação e do destino.
Aziri – divindade vodum das águas doces.
Possum – divindade vodum do pó e da terra seca representado pelo tigre.
Bessém – divindade que é o dono das águas doces em Abomé e Uidá, do qual é patrono.
Sobô – divindade vodum do trovão da família de Quevioço.
Tobossi, Naê ou Mami Uata – são todas as voduns femininas das ezins jeçuçu, jevivi e salobres.
Nanã – divindade considerada por todos os adeptos do culto vodum como a grande Mãe Universal.

Voduns não são da mitologia yorùbá. Como podemos reparar, são divindades de diferentes idiomas, origens e culturas. Fa não é Ifá, Sapatá não é Ọbalúwáiyé, Lebá não é Èṣù.

Mas afinal você sabe da importância de abordar as diferenças e estudar os panteões?… Aprender sobre cada um dos poderes e juridisções das divindades nos ajuda a saber a quem recorrer, durante as aulas de ajeum veremos muitas comidas para tais finalidades que logo irão associar o motivo de causar tal efeito com a divindade que receberá o pedido.

No panteão yorùbá, temos as divindades mais populares e conhecidas pelo mundo, vejamos:

Olódùmarè – Deus Supremo, responsável por toda a existência. Não possui sexualidade, por justamente não ser humano e nem muito menos um Òrìṣà. Em muitas famílias ele é cultuado somente através dos Òrìṣà, pois acredita-se que é a forma de chegar mais próximo desta energia suprema. Olódùmarè criou os Òrìṣà para ajudar na administração dos mundos e de nosso planeta, por isto há divindades que existem antes mesmo da vinda do Homem, criados no próprio céu e outros surgiram na própria Terra, como por exemplo, Lógun Ẹ̀dẹ.

Bastão de dança para discípulo de Xangô no LACMA – Museu de Arte do Contado de Los Angeles.

Ọ̀rúnmìlà-Ifá – criador do sistema de adivinhação Ifá. Divindade das profecias, um dos primeiros sacerdotes, conhecedor de todos os mistérios dos mundos e destinos de todos os seres e lugares.
Èṣù – divindade da comunicação, deus dos caminhos, senhor das oferendas e ebós. Se encontra presente em todos os caminhos e lugares ao mesmo tempo.
Ògún – divindade da guerra, deus da tecnologia, do ferro, aço e de todas as armas. Também é conhecido como senhor da agricultura.
Ọ̀ṣọ́ọ̀sì – divindade caça, fartura, protetor dos caçadores e das florestas.
Ọ̀sányin – deus da medicina da floresta, divindade das folhas, feiticeiro da floresta.
Ọbalúwáiyé – divindade da terra, deus da saúde e das doenças.
Òṣùmàrè – divindade das chuvas e do arco-íris.
Nàná – divindade das águas escuras, lamas e pântanos. Uma das deusas mais velha.
Oyá – divindade das tempestades, raios e relâmpagos. Deusa dos ventos, senhora do mortos.
Ọbà – divindade da luta, com força masculina. Deusa das águas revoltosas.
Yèwá – divindade ligada as transformações, mutações e rege as mudanças de estados naturais. Protetora das virgens, deusa das águas.
Oṣun – divindade do amor e sexualidade, ligada a fertilidade, beleza e riqueza. Deusa do feminismo e dos sentimentos.
Yemọjá – deusa das águas, mães dos filhos peixes. Protetora dos pescadores, ligada a maternidade e fertilidade.
Ṣàngó – deus da justiça e dos trovões. Ligado diretamente ao culto de Egúngún (ancestrais).
Òriṣànlá – divindade do pano branco, senhor dos bosques. Um dos deuses mais velho, ligado a paz e a paciência. Deus da arte, criatividade e senhor da criação.
Egúngún – ancestrais da Terra que atingiram um nível muito alto de evolução, podendo ser sacerdotes da tradição ou até mesmo familiares.
Ìyàmi Òṣòròngá – ancestrais femininos, senhoras dos pássaros noturnos. Feiticeiras ancestrais, ligadas a Terra, grandes mães da humanidade.
Lógun Ẹ̀dẹ – divindade que surgiu através da união de Ọ̀ṣọ́ọ̀sì e Oṣun, passa seis meses com a sua mãe e seis mese com seu pai, sendo assim, tem domínio e especialidades ligada a estes dois.
Ajε ṣàlúgà – deusa da riqueza, progresso e harmonia, atua na prosperidade do mundo. Uma das divindades ligada ao mar, em alguns contos revela que é filha de Yemọjá e Olóòkun.
Ibeji – divindade gêmea, protetores das crianças que nasceram sendo gêmea ou com alguma deficiência. Conseguem impedir mortes prematuras, são infantis e pode enriquecer as pessoas.

Há muitos praticantes que se baseiam no panteão para saber a quem deve ofertar e pedir ajuda dentro do que precisa, alguns exemplos emblemáticos são:

Uma mulher que vem tendo dificuldade com a gravidez resolve preparar oferendas para a deusa ligada a maternidade e saúde feminina.
Um homem que vem tendo os caminhos trancados resolve preparar oferendas para o deus dos caminhos para poder pedir prosperidade… Mas nem sempre todas comidas que envolve a mesma divindade serão para os mesmos propósitos e necessidades, mas isto será abordado na próxima aula. Até a próxima!

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