No livro “Maçonaria para não-iniciados”, o jornalista Sérgio Pereira Couto explica tudo o que você precisa saber para ser aceito nessa irmandade misteriosa. Confira um trecho da obra.
Texto • Redação / Triada.com.br
O que mais atrai na maçonaria é a aura de mistério que envolve seus participantes e rituais. Muito já foi falado a respeito dessa estranha sociedade, que muitos adeptos hoje insistem que não é mais “secreta”, mas, sim “discreta”, uma vez que todos a conhecem, porém poucos sabem exatamente do que se trata.
É importante que o leitor tenha a mente aberta, porque para conseguir chegar até a maçonaria é necessário passar por um período de informação, em que o candidato a maçom deve lançar mão do que já existe no mercado sobre esta sociedade e se informar direito. Há um ditado maçom que afirma: “A porta para entrar é muito pequena, mas a porta para sair é muito grande”. Nesta pequena frase, podemos enxergar muito da filosofia maçônica, principalmente para quem insiste em compará-la a uma seita.
Um trecho de um texto maçom esclarece que esta sociedade “não busca adeptos, nem pratica o proselitismo”, e isso é verdade, pois, para se tornar um candidato, o interessado deve, antes de qualquer coisa, ser convidado. Não há como ser aceito sem o “aval” de um maçom, que será, mais para frente, chamado de “padrinho”.
Mesmo com o apoio de um maçom já iniciado, não significa que o candidato tenha qualquer garantia de seguir no processo de admissão. Depois de ser apresentado formalmente, o candidato terá a vida investigada nos mínimos detalhes, e os demais irmãos se encarregarão de saber como é a verdadeira face do aspirante a maçom.
Outro detalhe importante que diferencia a maçonaria de uma simples seita é a questão dos dogmas impostos. Enquanto cada movimento dito esotérico impõem um ou mais dogmas para que o iniciado aceite sem questionar, os maçons incentivam, de todas as formas possíveis, o livre pensamento. Isso significa que nenhum conhecimento específico é imposto aos novos candidatos aprovados, apenas coloca-se à disposição uma série de simbologias que, uma vez estudadas e compreendidas, farão que cada um se dedique ao seu estudo e estabeleça suas próprias conclusões. É dessa variedade dentro da unidade que se originou o ditado que “há tantas maçonarias como maçons no mundo”, uma vez que cada um a vê e a interpreta de forma distinta.
(…) Concentraremo-nos em verificar os mecanismos gerais de funcionamento para admissão. Vale ressaltar, entretanto, que não se tratam de esquemas rigorosos. Cada loja maçônica é livre para seguir seu próprio processo de admissão, o que torna quase impossível falar de um processo padrão. Podemos, sim, identificar certos esquemas que terminam por ser mais adotados ou postos em prática com pequenas variações, mas nada garante que o leitor interessado vá encontrar exatamente estes procedimentos na loja à qual pretende se filiar.
(…) O maçom Joaquim Gervásio de Figueiredo, Mestre do Grau 33, fala em sua obra, Dicionário de maçonaria, o seguinte:
“Candidato – Maçonicamente, é o solicitante à admissão ou o aspirante ao aumento de salários, desde que, em escrutínio secreto, haja sido julgado ‘limpo e puro’. No entanto, há autores que consignam esta ordem ascendente: postulante, candidato, recipiendário ou aspirante, neófito.”
Nessa definição já podemos observar como é complicado o processo de admissão na maçonaria. Há correntes, por assim dizer, que são bem mais rigorosas e em que, para conseguir se tornar um maçom de Primeiro Grau, fazem o aspirante passar por uma hierarquia de situações, começando como postulante e terminando como neófito. O primeiro passo, de qualquer maneira, é aguardar a indicação de um maçom já consagrado. Querendo ou não, o candidato deverá passar pela tal investigação para obter o status de “limpo e puro”, citado no verbete do Dicionário. E o principal de tudo: aguardar uma comunicação para que possa vir a se apresentar perante os demais.
Termos de admissão
Para que o leitor possa entender melhor o significado dos termos usados por Joaquim Gervásio de Figueiredo, oferecemos a seguir um pequeno resumo. (…) Comecemos por postulante. Trata-se do candidato de maneira genérica, o que nem sempre irá corresponder ao uso feito pelos maçons.
Suponhamos que você queira entrar e há um conhecido seu que é maçom, de preferência de um grau avançado. Em geral, a partir do terceiro ou do quarto grau, o maçom já pode fazer indicações. Algumas lojas pedirão que você forneça dados para as investigações, nos moldes mais comuns possíveis, como cessão de nomes, endereços e referências que poderão ser checadas, no melhor estilo de uma abertura de crediário em uma loja. Você as fornece e, em seguida, passa por um período de silêncio, no qual se tem a nítida impressão de que o seu caso foi completamente esquecido.
Essa impressão não poderia ser mais errônea. Tudo neste período estará sendo checado e verificado pelos maçons, com muito cuidado. Basicamente, eles procuram antecedentes criminais, envolvimento com processos, práticas consideradas abomináveis, incluindo ligações com grupos políticos, econômicos e até esotéricos de má fama, entre outros. Os seus amigos, aqueles que você indicará, acabarão sendo contatados, cedo ou tarde, para que falem sobre sua vida particular e seu comportamento social. Por exemplo, há certas restrições contra quem come, bebe ou fuma demais. Para os maçons, tal procedimento é essencial para que se possa identificar, sem dúvidas, o tipo de caráter do candidato.
(…) Depois desse período, virá a notificação. O candidato poderá, assim, tornar-se um postulante. Ele, por enquanto, não é bem parte da estrutura maçônica. Lembremos que o grau mais baixo é o de aprendiz, o qual o candidato deverá ocupar tão logo este processo termine e seja formalmente aceito.
Uma vez que o aspirante seja reconhecido como postulante, ele deve partir para a etapa seguinte: tornar-se um candidato, ou seja, ele se tornará oficialmente um solicitante à admissão. Seus antecedentes estão em ordem, portanto, agora ele fará o pedido formal. Para algumas lojas, isso significa ser apresentado oficialmente com esse status. Ele deixará de ser um aspirante qualquer. Podemos verificar que, mesmo nesta pequena amostra do esquema maçônico, predomina toda a simbologia marcante desse grupo e de sua filosofia.
O próximo passo é se tornar um recipiendário, termo usado para designar o profano, ou seja, o não-iniciado, durante sua passagem por provas iniciatórias e, também, no próprio dia de sua recepção. O que significa isso? Algumas lojas, sempre de acordo com o ritual que seguem, devem observar certas tarefas ou provas que serão aplicadas ao aspirante.
Intrigado com essas provas? Não fique! A admissão à maçonaria só pode ocorrer depois dessa “cerimônia de iniciação”, com provas de resistência física e integridade moral que, mais uma vez, variam de acordo com as práticas adotadas por cada unidade.
Por fim, resta ao aspirante tornar-se um neófito, palavra que vem do grego e significa, entre outras coisas, nascido de novo. O termo refere-se em especial aos noviços admitidos ou recém-iniciados em mistérios antigos. Na antiguidade, um neófito tinha de passar por provas relacionadas aos quatro elementos (terra, água, ar e fogo), para alcançar o quinto elemento – o éter – e sair triunfante. Era, então, marcado com o sinal tau, conhecido por nós, hoje, como a cruz egípcia em forma de T. É claro que o neófito maçom passará por outros tipos de provas, que são escolhidas de acordo com o perfil do suposto aspirante. Por exemplo, se é levantado que a pessoa bebe, mas não chega a extremos, pode ser imposto que ela passe determinado período sem beber absolutamente nada que contenha álcool. E não há mais marcas, como antigamente, para serem impostas ao candidato, o que pode deixar muitos dos leitores aliviados. O site da Grande Loja Carbonária do Brasil, na Internet, explica certos parâmetros de admissão em detalhes:
“Todas as pessoas que se candidatam e, posteriormente, procuram efetivar a Iniciação na Ordem maçônica, durante o interregno que vai desde o momento em que se apõem suas firmas nas propostas até que venham a receber a proclamação do ritual, tomam, consecutivamente, quatro designações distintas, a saber: candidato, postulante, recipiendário e neófito”.
A palavra “candidato” provém do latim canditus, que significa “branco”. Identifica o pretendente que, nos tempos dos romanos, vestia-se de branco quando pleiteava um cargo público, em concurso legal. Com o evoluir dos anos, o vocábulo “candidato” passou a designar todos os pretendentes a quaisquer lugares, situações ou honrarias. Ninguém pode, entretanto, solicitar diretamente sua admissão a uma loja maçônica. Um maçom, e somente este, é quem regulamenta e encaminha à sua loja o pedido de Iniciação de um candidato, julgando-o isento de falhas que possam macular o seu conceito público e particular, e que seja sinceramente desejoso de chegar à verdade e por esta orientar-se.
Assim, se alguém deseja ser admitido na Ordem maçônica, deve procurar um maçom e, através deste, solicitar o ingresso. Por meio deste procedimento, o interessado receberá todas as instruções necessárias ao encaminhamento do pedido formal de admissão.
(…) Mas, para poder se tornar um bom maçom, é necessário, antes de tudo, que o Aspirante não tenha nenhum receio de que sua vida seja devassada e exposta por um grupo de pessoas que pouco ou nada tenha que ver com sua vida particular. Se você, leitor, não gosta deste tipo de coisa, então é melhor colocar mesmo a idéia de lado e partir para encontrar uma atividade que lhe seja mais apropriada.
Principais requisitos para se tornar um maçom
• Ter 21 anos de idade ou ser emancipado.
• Independência moral e econômica.
• Reputação ilibada no meio social e familiar.
• Estar em pleno gozo da capacidade civil.
• Ter instrução suficiente para compreender os fins da Ordem e a energia moral para cumpri-los.
• Não professar ideologia que se oponha aos princípios maçônicos.
• Gozar de perfeita saúde e não possuir defeito físico que o impeça de cumprir os futuros deveres maçônicos.
• Crer em um Ser Supremo.
• Ter, pelo menos, seis meses de residência no Oriente onde funcionar a Loja escolhida.
• Obrigar-se ao pagamento dos encargos pecuniários estabelecidos nos regulamentos.
• Ser proposto por dois irmãos da Ordem, que o conheçam.