‘Macumbeiro, mandigueiro, batizado no gongá, quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar…”
Quem lembra do trecho deste samba enredo? No Carnaval do ano de 2025, tanto na Internet como também na Sambódromo da Marquês de Sapucaí RJ, este foi um dos sambas-enredo do Acadêmicos do Salgueiro que ficou muito conhecido, principalmente por praticantes de religiões de matrizes afro-brasileiras.

No enredo citava a palavra “Quiumba” e muitas pessoas começaram a questionar, o que na realidade isso significa, se você quer entender melhor, aproveite esta matéria.
Texto • Eduardo Henrique Costa
A palavra “Quiumba” ou “Kiumba” vem de origem Banto, conhecida no idioma quimbundo com o significado de “espírito”, muito usada para se referir a antepassados.
O idioma quimbundo vem da África, uma língua muito falada no noroeste de Angola, incluindo a província de Luanda.
No Brasil, a palavra Quiumba perdeu seu contexto literal, recebendo um significado negativo de seres malignos similares ao Diabo cristão, devido as influências do Cristianismo. Nas literaturas umbandistas, os quiumbas passaram a serem conhecidos como “marginais do astral”, além de também ter o significado de “espíritos de baixa iluminação” ou “espíritos de baixas vibrações energéticas”.
Embora a palavra quiumba não especifica o tipo de espírito, para muitos umbandistas eles são vistos como seres ruins.
ENTENDENDO A CRENÇA UMBANDISTA
Dentro das umbandas, os espíritos de baixa luz, ou que costumam viver em zonas inferiores do astral (onde nas literaturas espíritas conhecem como ‘Umbral’) são chamados de Quiumbas.
O uso da palavra é aplicado a espíritos que desencarnaram recentemente, ou que embora já tenham muito tempo que desencarnaram, se esqueceram de quem são ou por serem muito materialistas acabaram não evoluindo espiritualmente.
Se um espírito que desencarnou se encontra em busca de vingança ou não aceita a morte, os umbandistas chamam de quiumba… por conta do peso negativo que a palavra recebeu, dificilmente veremos alguém chamando um espírito iluminado como um preto-velho de quiumba.
Pasmem, mas até como forma de afrontar ou xingar alguém é usado a palavra, em briga entre macumbeiros chamar alguém de “quiumba” é visto como algo ofensivo, possuindo um contexto de decadência.
EVOLUÇÃO ESPIRITUAL
A realidade é que toda entidade popularmente conhecida como Preto-Velho, Exú, Pomba-Gira, Caboclo, entre outros seres, já foram kiumbas. Oras, todo ancestral um dia pisou na Terra e viveu por aqui, e desencarnou voltando ao plano espiritual.
O espírito que desencarna vira um quiumba, podendo seguir crescendo espiritualmente ou regredindo através da autodestruição.
Os espíritos mais evoluídos costumam recrutar estes seres espirituais para que eles passem por processos evolutivos e um dia se tornarem ancestrais ilustres.
Um exemplo emblemático disto na Umbanda e Quimbanda são os Exús Kiumbas. Eles são espíritos que desencarnaram recentemente e resolveram entrar para a linha dos Exús e Pombas-Giras, é como se eles fossem “estagiários” e futuramente se tornarão seres mais evoluídos podendo receber cargos ou títulos.
A realidade é que toda entidade cultuada ao longo dos anos, quando adquiri uma alto evolução, este espírito acaba não podendo incorporar mais por tamanha luz que possui e por ter cumprido sua missão, consequentemente os outros quiumbas que trabalham sob ordem deste espírito irão assumir os trabalhos, após ter aprendido toda experiência daquele ser espiritual. Maria Farrapo, por exemplo, era um quiumba, que atualmente conhecemos como Pomba-Gira.
Da mesma forma que há vários tipos de pessoas, existe os quiumbas que querem ajudar e outros que buscam impedir o progresso e a vida das pessoas, estes classificados como “marginais do astral”, possui 5 fatores:
1. Não seguem leis ou ordens;
2. Não possuem propósitos;
3. Precisam se manter em cima de “furtos” de energias (vampirismo);
4. Facilmente podem ser manipulados devido a ignorância, arrogância e falta de conhecimento
5. São aproveitadores.
Os quiumbas que vibram negatividade e não evoluem, depois de um certo tempo, não costumam lembrar nem se quer de seus nomes, histórias de vidas terrenas, pelo fato de muito deles se obscurecerem e por isto, feiticeiros costumam invocá-los para práticas destrutivas, pois eles estão sempre em busca de algum ganho, recompensa ou domínio. Estes mestres que utilizam destes espíritos para a maldade costumam dar nomes como “Chico dos Infernos, Matador Diabólico”, o que trazem para eles um novo sentido, apenas se alimentarem e ferrar com qualquer um, oras para eles não há o que perder.
Há um ditado que diz “nunca esqueça de quem você é e suas origens, para que as pessoas não te transformem no que elas querem que você seja”.
DIFERENÇA ENTRE QUIUMBA E KIUMBA
Na realidade não há nenhuma! O que muda é que “Quiumba” é a forma trazida para o idioma brasileiro (português) e “Kiumba” é a forma original da palavra no idioma banto.
KIUMBAS E EGUNS
São sinônimos.
Kiumba é espírito no idioma quimbundo.
Egun é espírito no idioma iorubá.
Alguns terreiros ensinam que Quiumba é o que é de baixa evolução e Egun seria o que se encontra evoluindo e tem mais força, o que ao meu ver, não é o correto.
A realidade é que as duas palavras sofreu demonização pelo Cristianismo e isso vem sendo seguido em muitas Umbandas devido o sincretismo religioso.
O SENTIDO DO SAMBA-ENREDO DO SALGUEIRO (2025)
“Salve, seu Zé, que alumia nosso morro
Estende o chapéu a quem pede socorro
Vermelho e branco no linho trajado
Sou eu malandragem de corpo fechado
Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá
Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
Meu terreiro é a casa da mandinga
Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba…”
Analisando:
1. O enredo tem o sentido de proteção espiritual “sou eu, malandragem de corpo fechado”…
2. “Quem tem medo de quiumba, não nasceu pra demandar”, é um conselho que para praticar magia não é qualquer pessoa que pode, imagina alguém que tem medo de espíritos ao mesmo tempo querendo fazer feitiços para atingir pessoas.
3. “Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba” significa que aquele que tenta fazer o mal para quem está protegido poderá receber de volta.
4. Nos demais versos que não foram citados, o enredo apresenta formas de se proteger e bloquear as coisas que sejam ruins.