Símbolo de superação, Ganesha é a divindade a quem os hindus recorrem para evocar sucesso em suas empreitadas
Texto • Fernando Tió Neto
Quatro braços e cabeça de elefante. A aparência de um monstro não condiz com a bondade e graciosidade de Ganesha – o “senhor de todos os seres” – filho de Shiva, “a realidade suprema”, e da deusa da beleza, Parvati.
Ganesha é o deus removedor dos obstáculos, guardião do conhecimento, senhor da inteligência e da sabedoria. Segundo os hindus, quem segue seus ensinamentos alcança, em primeiro lugar, o equilíbrio. As demais graças – saúde, sucesso, prosperidade e riqueza – são consequências da sabedoria suprema.
A função de Ganesha é ser o escrivão dos céus. Na cultura hindu, é preciso recorrer primeiro a ele antes de orar para as outras divindades. Seus devotos também fazem preces ao deus antes de realizarem qualquer atividade do dia a dia – seja ela o início de uma aula, de um dia de trabalho ou uma viagem.
O motivo disso é a crença de que, rezando para Ganesha, a pessoa será capaz de superar uma obstáculo ou problema, por mais instransponível que ele pareça. Essa dádiva oferecida pelo deus torna seus seguidores ricos, seja espiritualmente, seja materialmente. “Os hindus acreditam piamente na força de Ganesha, por isso apelam ao deus constantemente, sobretudo em certas datas do calendário deles”, diz o teólogo José Murilo Haidar, um estudioso das culturas orientais.
O ano religioso dos hindus segue o ciclo lunar. Os meses são divididos de acordo com as fases da lua. A metade luminosa – para nós, lua crescente e cheia – traz energia positiva. Na fase obscura, lua minguante e nova, as possibilidades de fracasso aumentam. Nessa fase, as orações à Ganesha são feitas com mais ardor.
Não por acaso, a fase luminosa do mês é conhecida como “fase de Ganesha”, um período indicado para o início de novos projetos.
A lenda de Ganesha
O deus Shiva tinha muitas esposas. Uma delas destacava-se pela beleza: Parvati. Apaixonada por Shiva, era uma mulher extremamente devotada. O deus, por sua vez, retribuía a afeição.
Por ela, Shiva deixava, inclusive, de se entregar a um de seus maiores prazeres: viajar. Ele gostava das montanhas, especialmente as inacessíveis para pessoas comuns, aonde ia montado em sua vaca branca Nandi.
Nesses lugares, o deus chegava a atingir estados meditativos superiores. Quando isso ocorria, nem terremotos eram capazes de despertá-lo.
Embora sentisse falta das viagens, seu amor por Parvati o impelia a ficar com ela. Percebendo isso, Parvati o incentivou a viajar novamente. Shiva, então, concordou com a idéia e partiu. Ao sair, ele não sabia, porém, que Parvati esperava um filho seu.
Anos depois, quando finalmente levantou de sua posição de lótus, Shiva retornou. Parvati havia realizado uma transformação na casa. Ele não só estranhou a casa, como o rapaz que estava na propriedade.
Impaciente e desnorteado, de forma rude, Shiva ordenou ao rapaz que abrisse o portão. O garoto não o fez e, diante da insistência de Shiva – e sem saber que o homem era o seu pai – sacou a espada. Em fúria, Shiva despertou seu terceiro olho e, em segundos, o rapaz foi decapitado.
Ao ouvir gritos, Parvati correu e viu a pior cena de sua vida. Aos prantos, ela abraçou o corpo do filho e descarregou sua dor contra Shiva que, ao se dar conta do que aconteceu, foi acometido por tristeza e desespero profundos.
Para reparar seu erro, o deus teve a idéia de capturar o primeiro animal que encontrasse e colocar sua cabeça no corpo do filho para trazê-lo de volta à vida. Encontrou um elefante bebê e realizou a troca. De volta à vida, o rapaz, que até então se chamava Ganapati, passou a ser conhecido como Ganesha.
Insatisfeita com a aparência do filho, Parvati pediu ao deus Brahma que desse ao menino outra aparência. Para satisfazâ-la, Brahma determinou, então, que Ganesha se tornasse o deus da sabedoria.
Fonte: Triada.com.br