terça-feira, julho 2, 2024
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Generosidade: dividir para somar

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Para agir com generosidade, é preciso uma boa dose de inteligência afetiva e muita, mas muita vontade. Confira a receita para colocar em prática essa virtude tão especial

Texto • Renata Guerra
 

Agir sem esperar nada em troca. Essa é a verdadeira atitude de quem exercita a generosidade. Assim, somente quando não estamos em busca de nenhuma recompensa – seja ela financeira, emocional ou de qualquer outra espécie – é que podemos compartilhar o que temos com o outro em um ato verdadeiramente generoso. Ou, como afirma o filósofo francês contemporâneo André Comte-Sponville, em seu livro Pequeno tratado das grandes virtudes: “só é realmente generosa, desde que vá além do interesse”.

Comte-Sponville completa: “O homem generoso não é prisioneiro de seus afetos, nem de si; ao contrário, é senhor de si e, por isso, não tem desculpas nem as procura. A vontade lhe basta”. Dessa forma, generosidade se transforma em sinônimo de liberdade: quem a pratica não está sujeito aos efeitos limitadores de sentimentos negativos, e por isso é livre.

Amor ou generosidade?

Muitos concordam que é importante praticar essa virtude, mas poucos são capazes de entender sua força-motriz. Frequentemente, a generosidade é confundida com o amor. Mas aqui vale a pergunta: quando você pratica o bem sem interesse próprio, está demonstrando um ato de amor ou de generosidade? Bem, se você amar a pessoa a quem está ajudando, certamente está agindo em conformidade com essa emoção. Assim, somente quando não existe vínculo algum é que a generosidade acontece, pura e simples. O que diferencia os dois atos? A vontade.

Segundo Comte-Sponville, o amor escapa ao nosso comando, ou seja, não depende de nós, tampouco da nossa vontade. Ao passo que a generosidade somente é possível graças a esse impulso. Spinoza, filósofo do século 17, descreve a generosidade como um desejo por meio do qual o indivíduo, utilizando a razão, se esforça para ajudar o outro. Assim, a intenção de ajudar ao outro é racional e, exatamente por isso, tão virtuosa.

Agir como se amássemos

Quando se ama, ser generoso é consequência do sentimento compartilhado e, portanto, não nos custa nada. Se o amor está ausente, Comte-Sponville aconselha agir como se amássemos: o amor é o modelo perfeito, pois, se amássemos o outro como a nós mesmos, nem precisaríamos recorrer à generosidade.

Para comprovar tal opinião, o filósofo provoca seus leitores com perguntas como “se você realmente amasse como a si mesmo um estranho que estivesse com fome, não faria nada para ajudá-lo?”. Ou ainda: “que porcentagem de sua renda familiar você consagra a despesas que podem ser chamadas de generosidade, em outras palavras, que dizem respeito a uma felicidade diferente da sua ou de seus íntimos?”.

A reflexão sugerida pelo autor, cheia de alfinetadas, é o primeiro passo para a transformação. Exercitar o desejo sincero de ajudar, no entanto, exige muito esforço, dia a dia. É trabalhoso, mas vale a pena: mesmo sem esperar nada em troca, não há como não perceber as relações mais vivas, cheias de harmonia e, claro, pautadas pelo afeto. Quer somatória mais valiosa?

Fonte: Triada.com.br

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