Ajoelhem-se, ajoelhem-se para as mulheres
Elas colocou vocês no mundo, somos seres humanos
A mulher é a inteligência da Terra, ajoelhem-se
Elas colocou vocês no mundo, somos seres humanos.
As Ìyàmi, conhecidas como Senhoras da Noite ou Grandes Mães Ancestrais, são energias femininas da natureza e representam o poder feminino, alguns costumam considerar o culto de Ìyàmi uma sociedade feminista. São temidas e respeitadas, mas não costumam ser cultuadas pela população de forma geral e seu culto é restrito a sacerdotes e sacerdotisas com preparo específico. São também chamadas de Èléyé. Os mitos Yorùbá dizem que elas foram as únicas mulheres que acompanharam Odùdùwa durante sua migração para Ifè. Beniste explica:
Após a criação do mundo, Olódùmarè convocou a presença de Òṣàlá, Ògún e Odù Lógboje, também conhecida como Ìyàmi Òṣòròngá, e determinou que todos deveriam seguir para a Terra recém-criada. Ògún foi na frente com a missão de abrir os caminhos, Òṣàlá com a incubêmcia de realizar todas as obras necessárias para o desenvolvimento do novo mundo. Ìyàmi seguiu logo atrás, porém no meio do caminho, resolveu retornar e se queixar a Olódùmarè por não ter tido nenhuma atribuição definida: “os dois primeiros receberam o poder da guerra e da criação, e eu nada recebi”.
Ouvindo com atenção, Olódùmarè lhe disse: “Você é a única mulher do grupo, o que torna Mãe Universal; por isso, será chamada de Ìyàmi Wón, a Mãe de Todos para a Eternidade”. Você dará continuidade ao mundo. Os homens nada poderão fazer na sua ausência.
Os Yorùbás acreditam que, enquanto mantiverem as Ìyàmi contentes e satisfeitas, poderão executar qualquer função na sociedade. Quando se deseja realçar o lado mais secreto e mágico dessas energias femininas, são chamadas, de forma generalizada, Ìyàmi Òṣòròngá, “minha mãe, nativa de Òṣòròngá”, ou Afinju eyé ti nfo l’ oru, “o pássaro sofisticado que voa de noite”, ou lyá Agbà, “a mulher diferente”. Na África, o culto às lyámi Òṣòròngá está ligado ao Culto aos Antepassados, os Egúngún.
São entidades que se instalaram no mundo e se tornaram muito poderosas, ao ponto de nenhuma outra divindade poder derrotá-las, por isso a comparação ao Òrìṣà Èṣù, único que consegue conviver com Elas e enfrentá-las. Elas podem colocar por terra os esforços de todas as outras divindades que não lhes prestaram o reconhecimento adequado. Mas não são totalmente más.
Como em todo conjunto de seres divinizados ou terrestres, há feiticeiras boas e más. As Ìyàmi brancas são as que usam tudo branco inclusive os animais para ebó. São mais positivas. As pretas são que usam tudo preto e que possuem tanto aspectos positivos e negativos. Isso depende da invocação do praticante. São mais ligadas com animais pretos, principalmente a gatos pretos. As vermelhas usam tudo vermelho e tem estreita ligação com Oyá e Egúngún. Possuem também os aspectos positivos e negativos.
No sistema espiritual Yorùbá são consideradas como seres de grande maldade, que atuam durante a noite para castigar os falsos e mentirosos. Todas as pessoas más são feridas com sua própria maldade. Existem um pacto feito entre Orùnmìlá, Ọ̀bàtálá e as Ìyàmi que as impedem de matar, amaldiçoar, aterrorizar ou machucar qualquer discípulo que age de bom caráter e que tenha bom coração.
No Culto de Orúnmìlá-Ifá há um Ọdù denominado Osá Meji, relativo ao Itan das Ìyàmi e que revela aos seres humanos os problemas com as Ìyàmi, além de apontar os caminhos para solucionar estes problemas. Fala de pessoas que tem grande propensão de cultuar Ìyàmi Òṣòròngá quando ela favorece as pessoas, porque às vezes a pessoa possui a energia delas e não tem consciência do fato. Assim não tem o controle sobre o positivo ou o negativo que elas emanam.
• Fonte consultada:
Adekunle, Otunba, Ifá Filosofia e Ciência de Vida. 1.ed. São Paulo, 2005.
Beniste, José, Mitos Yorubás: O outro lado do conhecimento. 1.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
