Durante o desfile das escolas de samba no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, na cidade do Rio de Janeiro, tivemos diversas apresentações que traziam enredos ligados a Jurema, Catimbó e a Pajelança, mas entre todas as escolas, a Viradouro trouxe um diferencial, o seu tema principal foi uma das entidades da Jurema, e através deste desfile conseguiu conquistar o 4° lugar na apuração com 269,4 pontos.
Texto • Eduardo Henrique Costa
A Unidos da Viradouro desfilou no domingo (02/03) e apresentou como tema a história de Malunguinho, grande herói do século 19, líder do Quilombo de Catucá, no Norte de Pernambuco (Brasil).
O samba enredo foi escolhido no dia 14 de outubro, no evento que elegeu a parceria entre Paulo César Feital, Inácio Rios, Marcio Andre Filho, Vitor Lajas, Vaguinho, Chanel e Igor Federal.
O enredo Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos foi desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. A ideia é celebrar a figura de João Batista, conhecido como Malunguinho, entidade afro-indígena reconhecida como Caboclo e Mestre de Jurema.
Para elaborar o conceito do desfile, lideranças da Viradouro estiveram em Recife, no mês de março de 2024, para se reunir com pesquisadores do tema.
Uma das referências importantes foi o historiador e professor Marcus de Carvalho, vinculado ao Departamento de História da U.F.P.E. Carvalho foi quem encontrou documentos que registram a existência dos líderes do Quilombo do Catucá, entre os quais está Malunguinho.
Malunguinho na Jurema Sagrada
Para entendermos com melhor profundidade a respeito desta entidade, fomos até um mestre de Jurema para perguntar quem é Malunguinho para tradição, e para compreendermos: “Malunguinho é o grande protetor da maioria das casas praticantes de Jurema-Catimbó, responsável por segurar energias contrárias que porventura tente entrar no local. É um espírito que responde tanto como caboclo e mestre, em algumas casas até comparam ele com um Exú, porém, esta ligação não prevalece.

Em vida, foi um grande líder quilombola, chefiou o quilombo do Catucá em Pernambuco (região brasileira), ressalto que o que ele fez em vida, hoje continua fazendo pelo plano espiritual, nos defendendo e lutando por seus devotos.
No culto a Malunguinho é feito algumas oferendas que são baseadas na alimentação indígena local, na minha casa de Jurema oferecemos frutas e muitas outras comidas típicas, principalmente, um bom vinho e um fumo de qualidade o que não pode faltar.
Acredito ser uma boa ideia levar Malunguinho para o mundo conhecer, pois falar desta entidade é contar sobre a resistência de um povo, a coragem, as lutas e vitórias. Para quem é iniciado no Culto a Jurema Sagrada, é uma obrigação cultua-lo de forma responsável preservando seus segredos de forma tradicional, não há motivos e nem espaço para invenções.” Explicou o Mestre Renan.
Na oportunidade, perguntamos o que o Mestre Renan da Jurema achou do desfile e da representação de Malunguinho feito pela Viradouro, a resposta foi:
“Eu tenho 40 anos de idade, venho de uma família tradicional no mundo do samba, nasci e me criei nisso, sou ritmista, compositor e intérprete, eu entendo um pouquinho de carnaval. Achei muito bom o fato da escola levar trazer como tema Malunguinho, gostei muito do desfile, mas tenho minhas ressalvas, ao meu ver faltou mais rusticidade e originalidade. Eu percebi que alguns elementos característicos de Malunguinho como cachimbos, maracás, estrelas e alguns outros estavam presentes, porém poderiam evidencia-los muito mais.
Esperava ver cipós, rodilhas de fumo de rolo, cocos de sapucaia, cajados rústicos, troncos de Jurema, entre outros. Mas quero deixar claro que trata-se de uma opinião pessoal minha.
É importante salientar que a televisão não mostra tudo, e por isso, fui em busca de outros vídeos para que eu tivesse uma melhor conclusão, e realmente faltou mais identidade, esperava mais. Porém nada é perfeito, fora isso, estava muito bonito.
Parabéns Viradouro pelo 4° lugar, foi uma disputa acirrada, cheia de detalhes.
Salve o grande Rei Malunguinho! Sobonirê Mafá…”

Confira o samba-enredo da Viradouro (2025)
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Ê juremeiro, curandeiro, ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
Reis Malunguinho, encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Ê juremeiro, curandeiro, ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
Assista um trecho do samba-enredo
A Viradouro postou em sua página oficial no Instagram (@unidosdoviradouro) um vídeo excelente que trazem detalhes sobre a apresentação de Malunguinho na Sapucaí, vejamos.