Conheça um pouco sobre a utilização do jogo de búzios e quando deve procurá-lo e o que é possível perguntar.
Texto • Awo Ifá Leké – Eduardo Henrique
CONHECIDO EM DIVERSAS VERTENTES
Entre todos os oráculos da Cultura Africana, Afro-Brasileira e Afro-Cubana, sem sombras de dúvidas, o jogo de búzios é o mais utilizado.
No Candomblé, nações como Ketu, Nagô e Efon utilizam deste oráculo para apurar qual é o Òrìṣà do consulente, rituais que devem ser feitos e até mesmo sobre respostas aos problemas que podem estar passando.
Em Ifá, o jogo de búzios não costuma ser um dos mais utilizados, pois o oráculo específico dos bàbáláwo e mais utilizado se chama “Opele Ifá”, tendo Odus e quedas totalmente diferentes do que em outros jogos.
Na Umbanda, tradicionalmente não era comum o jogo de búzios, pois a religião se baseia em consultas mediunicas, porém, devido a influência de alguns sacerdotes terem conhecido o Candomblé, houve uma agregação se criando “Umbandomblé” ou como alguns chamam de “Casa Traçada/ Mista”, porém não há muita amplitude dentro da Umbanda envolvendo búzios devido muitos Òrìṣà não serem cultuados.
ALGUMAS PRECAUÇÕES
Embora é algo tão conhecido, e hoje em dia existe até mesmo cursos e livros para aprender alguns métodos, não é qualquer pessoa que pode ou consegue jogar. Existe uma obrigação específica para conseguir realizar as consultas, são elas:
1 – Ser iniciado(a) na religião;
2 – Conhecimento sobre a prática do jogo de búzios;
3 – Ter assentado o Òrìṣà Èṣù e de preferência também o Ẹlẹ́dá (responsável pelo Ori);
4 – Estar com os cuidados em dias, como os Bori, Ẹbọ e os assentamentos bem alimentados;
5 – Oráculo alimentado e com os rituais de força.
Caso o sacerdote ou sacerdotisa não cumpra este requisitos sinalizados, torna-se perigoso a realização tanto para quem tenta apurar, como para quem busca esta pessoa. A nossa indicação é que evite ir numa pessoa estranha, sempre busque por referências, de qual família veio esta pessoa e se realmente é iniciado, além do cargo religioso. Há milhares de pessoas que hoje em dia acha que o fato de ter conhecimento fará obter respostas e como é um oráculo que necessita de uma energia propulsora e de um mensageiro, apenas conhecimento sem magia, sem fundamentos, se torna um jogo comum.
É claro que, na Espiritualidade nada fica sem resposta, seja boa ou ruim, sendo assim, se o indivíduo não seguiu todas as etapas informadas e for jogar, caso alguém responda no jogo, possivelmente não será Èṣù e nem muito menos outros Òrìṣà, podendo vir qualquer energia que circula pelo local e se aproveitar da situação.
Èṣù é o guardião dos portais do astral, ele que traz a segurança de que o jogo será realizado de forma coerente e não haverá ataques espirituais ou tentativas de manipulações de energias instrusas, por isso, ter um Èṣù assentado é essencial.
Eu já vi muitas pessoas afirmar que Èṣù é brincalhão, zombeteiro, porém eu penso totalmente diferente, ele é um ser divinizado ligado a sexualidade, o prazer, a ordem, não é voltado a confusão, ele traz a felicidade, as pessoas que passam por armadilhas, certamente são as que não conduz a Espiritualidade de forma íntegra e séria. Èṣù não é obrigado a responder quem não esteja seguindo de forma correta a tradição.
Conforme há em outras matérias neste mesmo site, quando os Òrìṣà se afastam daquele que faz coisas incorretas, os Ajoguns se aproximam causando regresso espiritual na vida do indivíduo.
Reitero: para passar por uma boa experiência procure ir por indicações de pessoas que você conheça e confie, além de uma boa família religiosa que seja respeitável e séria.
A FUNÇÃO DO JOGO DE BÚZIOS
Segundo os ensinamentos orais, este oráculo surgiu no intuito de ajudar a equilibrar pessoas e o planeta Terra, por isso tem a verificação se o consulente ou lugar se encontra equilibrado, positivo ou negativo.
Quem joga, não é exatamente um vidente ou sensitivo, e sim, um médico de almas, curador de ambientes, pois os problemas que são previstos ou se encontram, não são apenas visualizados, mas o oráculo aponta como solucioná-los ou pelo menos tentar diminuir os impactos causados pela sua existência.
Geralmente as pessoas recorrem mais quando estão com problemas ou por prevenção e tendo possibilidade de resolução, caso aja algo simples é ensinado, porém se houver muita complexibilidade o indicativo será que seja preparado o cuidado pelo próprio sacerdote ou sacerdotisa.
Conseguimos apurar quais são as energias que regem e se há a necessidade de apaziguá-las ou cultuá-las de alguma maneira. É por isso que um bom tradicionalista sempre joga para verificar como proceder em cada caso, quais materiais usar, qual caminho seguir, possibilidades de dar errado ou certo.
PERGUNTAS? OS BÚZIOS RESPONDEM!
A maioria das pessoas que tem seu primeiro contato com os búzios, costumam não saber o que perguntar, e diferente do que em muitos outros oráculos, não é obrigatório aparecer sobre amor, saúde, trabalho de forma metódica, geralmente os búzios, inicialmente, mostram as mensagens principais a serem passados e é possível perguntar para melhores direcionamentos.
• É seguro viajar?
Sempre vem sendo uma das perguntas mais comuns que recebemos, principalmente por consulentes que irão para outros países. O jogo poderá dizer que é uma boa escolha, ou até mesmo se é ruim, quando a indicação é não viajar devido a situação atual, é possível analisar se tem possibilidade ser feito algum ritual para que seja factível fazer a viagem em segurança ou se é o mesmo posicionamento independente de ritos religiosos.
• Descobrir quais são os Òrìṣà
Boa parte dos que buscam o oráculo pela primeira vez costumam estar em busca de resposta para esta dúvida, só que não é todos que conseguem descobrir, é necessário realizar alguma limpeza e alguns cuidados para melhor apuração porque se a pessoa tiver negativa atrapalha.
• Realizar Ẹbọ
A maioria que é antigo na religião, costuma ter poucas palavras durante a consulta, querem mais saber qual ritual pode ser feito, principalmente em início e finais de ano que as pessoas buscam o jogo para pedir o sacerdote fazer um Ẹbọ voltado limpeza e abertura de caminhos.
Um praticante consciente sabe que nada é para sempre e que as energias do universo estão em constantes mudanças, por isso, os cuidados através de Ẹbọ não funciona como ir uma única vez e achar que é o bastante para vida inteira, pois somos seres em constantes mudanças, precisamos sempre harmonizar e alinhar com as novas regências que aparecerem.
• Quando o problema é material e espiritual
Um exemplo são doenças, o jogo pode indicar rituais e serem feitos, mas quando uma parte é carnal, não é apenas com rituais que resolvemos, os búzios podem indicar procurar um médico também, porque não dá para cuidar do corpo sem cuidar do espírito, não dá para cuidar apenas do espírito sendo que temos um corpo e precisa do nosso cuidado também.
• Relação de perguntas
Além de perguntas se devemos viajar para algum lugar, no jogo de búzios conseguimos perguntar sobre relacionamentos, investimentos, o que devemos evitar, o que devemos fazer…
Quando não há previsões muito boas para o futuro, significa que é necessário uma total mudança nas atitudes e cuidados para uma boa construção, pois a conduta que adotamos no presente definirá como será visto nosso futuro.
A ideia de futuro pelos povos yorùbás é bem diferente das pessoas místicas, porque eles não buscam oráculos para ficar perguntando de seus arquétipos em busca do adivinho ficar falando de como são, se gostam de brigar, se são calmos… também não é de costume ficar perguntando um monte de coisas sobre o futuro, como: se irão casar, se vai arrumar emprego… isso porque os yorùbás sabe que não adianta perguntar sem antes fazer algo pra mudar ou melhorar, por isso os jogos com pessoas mais espiritualizada são curtos, eles entram no jogo e perguntam: o que precisa ser feito?, o adivinho apura e logo após o jogo já pode ser feito os devidos tratamentos. Após os trabalhos serem feitos, é comum analisar como se encontra as energias estando positivas e o que podemos esperar de coisas boas.
