Veja como a crença religiosa pode ter efeitos positivos sobre os problemas de saúde – fenômeno comprovado por médicos e pesquisadores de todo o mundo
Texto • Lívia Filadelfo
“Pai nosso que estais no Céu, santificado seja o Vosso nome. Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu”. O simples ato de recitar esses versos com devoção pode ser um santo remédio não apenas para os males da alma, mas também para as doenças do corpo. É o que comprovam os estudos de médicos por todo o mundo, que cada vez mais se interessam pelo fenômeno conhecido como “cura pela fé”.
Depois de mais de duas décadas de testes e pesquisas, cientistas já se arriscam a afirmar que uma oração pode ter tanto ou mais poder que um remédio. Histórias de pessoas que tiveram doenças graves e conseguiram se curar a partir de uma forte crença religiosa impressionam até mesmo os mais céticos. Realizado pela pesquisadora francesa Dorothée Koechlin de Bizamont, um estudo sobre o efeito de preces como o Pai-Nosso sobre os sistemas nervoso e endócrino indicou que as orações estimulam o organismo de forma benéfica, fortalecendo o sistema imunológico e podendo, até mesmo, levar à cura.
Em outra pesquisa, feita com 11 curandeiros do Havaí, a professora de psicologia do Institute of Transpersonal Psychology de San Francisco, Jeanne Achterberg, descobriu que o resultado positivo das preces direcionadas a terceiros pode estar relacionado ao grau de empatia entre quem faz a oração e aquele que a recebe. Em um teste, os curandeiros direcionaram preces a dois grupos diferentes, um formado por pessoas conhecidas, pelas quais sentiam empatia e compaixão, e outro por pessoas desconhecidas. No segundo grupo, o das pessoas desconhecidas, nenhum resultado positivo foi identificado. Enquanto isso, os indivíduos do primeiro grupo apresentaram melhoras significativas no estado de saúde.
Razão e sensibilidade
Separadas durante séculos, religião e ciência começam a se encontrar nessa virada de milênio e vêm mostrando um mútuo interesse de aproximação. João Paulo II marcou essa tendência na encíclica Fides et Rati (1998), em que afirma que “a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. Em sintonia com a abertura da Igreja, numerosos cientistas manifestaram não somente o desejo de corresponder ao apelo aproximativo, mas, concretamente, vêm realizando investigações científicas sobre as variadas circunstâncias da religião na vida dos homens.
“Existe uma enormidade de estudos científicos comprovando a interação entre saúde e religiosidade. Embora sejam ainda passíveis de críticas quanto à metodologia empregada, eles valem como estudos epidemiológicos, ou seja, cujas conclusões são limitadas à população estudada”, afirma o médico cardiologista Roque Marcos Savioli, autor do livro Milagres que a medicina não contou, publicado pela Editora Gaia.
Ainda segundo Savioli, a oração tem efeitos positivos sobre áreas cerebrais conectadas a regiões da imunidade do organismo, como foi demonstrado recentemente pelo Interheart, um estudo internacional realizado por 262 centros, em 52 países, para avaliar de forma a importância de fatores de risco para doença arterial coronariana. “Estudos neurofisiológicos e tomográficos do crânio comprovam a existência de um ‘centro de fé’ que, ao ser estibulado, libera substâncias neuroendócrinas, ativando áreas do cérebro responsáveis pela imunidade do organismo e tornando evolução do infarto do miocárdio menos complicada”, esclarece o médico.
Protegidos pela fé
“A fé religiosa é a confiança muito forte em determinada pessoa ou princípio. Essa confiança exerce influência na atividade física, mental espiritual dos homens, normalmente, orientando sua vida”, define a psicóloga junguiana e teóloga Rose Lane Romero da Rosa.
A relação entre o estado de felicidade e a freqüência de prática religiosa foi demonstrada no estudo “The funds, friends, and faith of happy people”, de 2000, com base nos dados do National Opinion Research Center dos EUA, que avaliou mais de 34 mil participantes. Segundo a pesquisa, os norte-americanos ativamente religiosos são muito menos propensos do que os não-religiosos a se tornarem delinqüentes, abusarem de álcool drogas, chegarem ao divórcio e cometerem suicídio.Os mais religiosos tendem a fumar e a beber menos, além de terem propensão a uma melhor saúde física e a alcançar a longevidade.
No Brasil, alguns estudos têm evidenciado importância da fé sobre os estados aflitivos de indivíduos de classes sociais baixas. A pesquisa da antropóloga Miriam Cristina Rabelo, sobre as relações entre a religiosidade e a cura em classes populares urbanas da Bahia, aponta o fato de que as religiões “reinterpretam a experiência da doença e modificam a maneira pela qual o doente a comunidade percebem o problema”, e, assim, promovem um alívio da dor e da aflição.
Apesar de a fé aliviar dores do corpo e da alma, a Igreja Católica reforça a opinião dos médicos: não se pode dispensar o tratamento em nenhuma hipótese. Milagres podem acontecer mas, além de rezar e confiar em Deus, cada um tem de fazer a sua parte.
Fonte: Triada.com.br