terça-feira, julho 2, 2024
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Preto-Velho

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Pretos-Velhos, conhecidos como ‘Santas Almas Benditas’ são espíritos de luz, que na Umbanda ocupam uma posição de alta hierarquia entre as entidades.

• Texto – Prof. Eduardo Henrique Costa.

O nome ‘Preto-Velho’ é devido a boa parte destes espíritos serem de negros que chegaram ao Brasil em navios negreiros, escravizados e obrigados ao trabalho forçado. Eram pessoas excluídas da sociedade ou sob rigor extremo do cativeiro, tendo que se adaptar na medida do possível, a um modo de vida totalmente diferente do que conheciam.
Para dificultar o encontro de suas famílias ou de comunicação, nas senzalas haviam misturas de diversas etnias de diferentes locais da África, Angola, Congo e etc.

Para as correntes espirituais como a Umbanda, Catimbó, Quimbanda, entre outras, são entidades que inspiram a nobreza, a humildade e o amor. Pois mesmo sendo renegados, e diversos deles quando chegavam numa idade avançada eram mortos devido não conseguirem mais executar trabalhos braçais, não se entregaram a vingança ou ódio, foram capazes de perdoar tamanhas atrocidades e torturas, o que os diferenciou sendo uma classe de espíritos de ex-escravos.

Para Umbanda eles ocupam a posição alta na hierarquia das entidades, pois há o seguimento de que Jesus Cristo conquistou o ‘Reino dos céus’ quando perdoou seus algozes e estes negros escravizados, também tinham conquistado por não terem levado para o plano espiritual nenhum ódio, e sim um sentimento de esperança, de fé nas suas crenças e de acreditar na liberdade.
Por necessidade de adaptação e por novos conhecimentos, alguns conheceram outras crenças e se tornaram devotos de outras egregoras, juntamente com as suas trazidas da África, o que fez nascer em alguns um sistema cultural misto.

Não há apenas um Preto-velho, são diversos espíritos de negros, amadurecidos no tempo e na vida (plano material), assumindo o Grau de “Pretos-Velhos”.

Com a libertação dos escravos para serem ‘livres’, muitos foram morar em fazendas, trabalhar em roças, alguns conseguiram um pequeno cantinho onde viviam da plantação, pesca e etc.

Segundo minhas vivências esta linhagem de espiritos não foi ocupada apenas por quem viveu nas senzalas, também trouxe espíritos de pessoas que eram antigos sacerdotes da cultura afro-brasileira, descendentes de escravos, benzedeiros, entre outros que se aproximaram desta corrente.

Mesmo sendo espíritos muito antigos e com enorme conhecimento, não agem como doutores ou mestres, são humildes na fala e se apresentam de tal forma que nos ensina que mesmo com tamanho crescimento espiritual, é necessário ter a humildade, simplicidade e modestia em espírito. Os Pretos-Velhos orientam e ensinam os reais valores da vida de uma forma simples e com certeza, despertam a humildade no coração de diversos devotos.

Na Umbanda e devido ao sincretismo religioso, estas entidades trabalham na linha correspondente a força do Orixá Oxalá e Obaluaiê.

Oxalá = divindade que ensina paciência, paz e união.

Obaluaiê = divindade da cura, transformação, meditação e os segredos da terra.

As características dos Pretos-Velhos são de espíritos anciãos, cujas características são a da paciência, calma e a boa vontade em ajudar o próximo.
Em suas manifestações possui uma fala mansa, jeito humilde e são excelentes conselheiros. Por tudo abordado neste artigo, não podemos deixar nos enganar por tamanha simplicidade, porque eles tem um enorme grau de desenvolvimento em nosso planeta.

Em diversas religiões e tradições que prestam cultos a estas entidades dedicam à segunda-feira para prestarem ritos (dia da semana consagrado as Almas).

Seus devotos costumam se vestir de preto e branco. Levam velas e oferendas tanto em seus altares ou assentamentos, como também na natureza em igrejas antigas, encruzilhadas, beira da praia, árvores antigas em florestas, cruzeiros onde são acesos velas para as Almas e etc.

Um dos símbolos de alta representação deste povo é o cruzeiro (com degraus), símbolo da redenção, do perdão e dos diversos lugares que podem vir, norte, sul, leste e oeste, como eles mesmo dizem ‘as Almas podem vir de diferentes cantos do mundo’.

Uma das datas muito importante para seus devotos é o dia 13 de maio, o mesmo dia da abolição à escravatura. É comum neste dia ou durante o mês de maio realizarem homenagens ou cultos aos Pretos-Velhos.

Alguns nomes que pertencem a este grupo:
Pai Jacó;
Pai Jobá;
Maria Conga;
Tia Maria;
Vovó Luiza;
Pai João de Minas;
Maria Redonda;
Pai João Bangulê;
Pai Agolô;
João da Ronda;
Pai Benedito…

 

Cantiga de Preto-Velho

Preto na senzala bateu sua caixa deu viva iaiá 🎶
Preto na senzala bateu sua caixa deu viva ioiô

Preto na senzala bateu sua caixa deu viva iaiá
Preto na senzala bateu sua caixa deu viva ioiô 🎶

Viva iaiá , viva ioiô , viva Nossa Senhora , o cativeiro já acabou
Viva iaiá , viva ioiô , viva Nossa Senhora , o cativeiro já acabou 🎶

Preto velho tá cansado (cantiga)

Preto velho tá quebrado de tanto trabalhar
Preto velho tá cansado de tanto curimá
Preto velho tá quebrado de tanto trabalhar
Preto velho tá cansado de tanto curimá 🎶

Canta ponto risca a pemba
Que é longa a caminhada
Quem tem fé tem tudo
Quem não tem fé não tem nada 🎶

Canta ponto risca a pemba
Que é longa a caminhada
Quem tem fé tem tudo
Quem não tem fé não tem nada 🎶

É na Aruanda ê (cantiga)

É na aruanda aê
É na aruandá
É na aruanda aê
É na aruandá 🎶

Eu venho de longe
Terra dos meus ancestrais
Que eu fui acorrentado
Pra lá não voltar mais
Numa casa de madeira
Em um barco duante sobre o mar
Assim eu fui trazido ao Brasil pra trabalhar
É na aruanda 🎶

É na aruanda aê
É na aruandá
É na aruanda aê
É na aruandá

E na linguagem Jejê
Quanto Angola e Nagô
Veio o povo Batuque que no Brasil chegou
Com sua cultura suas histórias
Seus asés
Os mistérios ancestrais e a força do Candomblé
É na aruanda🎶

É na aruanda aê
É na aruandá
É na aruanda aê
É na aruandá 🎶

Ponto Auê Meu Cativeiro (cantiga)

Aiuê, meu cativeiro,
Meu cativeiro, meu cativeirá
Aiuê, meu cativeiro,
Meu cativeiro, meu cativeirá 🎶

Preto-Velho tava cansado
Ia pra senzala,
Batia o tambor,
Preto-velho dava viva à yayá,
Dava viva à sinhá,
Dava viva ao sinhô 🎶

Aiuê, meu cativeiro,
Meu cativeiro, meu cativeirá
Aiuê, meu cativeiro,
Meu cativeiro, meu cativeirá 🎶

Quando o galo canta (cantiga)

Quando o galo cantar as almas se levantão
E o Mar reveoa
Os anjos do céu dizem amém
E as almas benditas diz aleluia 🎶

Diz aleluia diz aleluia
As almas benditas diz aleluia
Diz aleluia diz aleluia
As almas benditas diz aleluia 🎶

Ponto da Preta Velha

Navio negreiro no fundo do mar
Correntes pesadas na areia arrastar 🎶

A negra escrava se pôs a cantar
A negra escrava se pôs a cantar 🎶

Saravá minha mãe Iemanjá
Virou acaçamba pro fundo do mar
Virou acaçamba pro fundo do mar 🎶

E quem ti salvou foi mãe Iemanjá
E quem ti salvou foi mãe Iemanjá 🎶

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