sábado, julho 27, 2024
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Ogum e sua falange – Tudo que você precisa saber!

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Ogum é o Orixá da guerra, defensor da lei, grande vencedor de demandas. É um grande general de Umbanda que atua nos caminhos da vida. Nesta matéria iremos aprender sobre o culto deste Orixá dentro da Umbanda.

O começo

A palavra “Ogum” vem de origem Iorubá que costuma ser traduzida como “guerra”, em algumas outras regiões da África ela pode ser associada a outros significados. No Brasil com a chegada dos escravos, onde os primeiros vieram entre 1539 e 1542, que foram períodos difícies e que marcaram a história do Brasil e que trouxe o surgimento de algumas novas religiões.

O Brasil em sua história é um dos países mais religioso do mundo e uma das nações onde há maior sincretismo religioso, muito mais do que em Cuba. Essa amálgama de religiões se iniciou com a chegada dos primeiros colonizadores portugueses ao continente. Junto com os portugueses, veio a Igreja Católica – instituição poderosa daquele momento e que buscava aumentar sua influência no mundo todo. Ao chegar na região, os missionários jesuítas, membros da ordem Companhia de Jesus, tinham a missão de cristianizar a população indígena.

Com isto podemos imaginar o quanto era forte influência do cristianismo no Brasil, a ideia de alma surgia apenas para aqueles que eram convertidos a igreja, quem não era batizado, era considerado alguém sem alma e assim os negros escravos eram vistos.

Os escravos sabiam que não podiam cultuar seus deuses e muitos acabaram escolhendo por camuflar eles com santos católicos, onde em tese seus donos acharíam que estavam adorando os santos da igreja, mas suas mentes estariam voltadas a sua antiga terra, sua grande Mãe África, um pouco parecido com a capoeira que era para achar uma simples dança, mas na verdade tinha como objetivo treinar seu povo para combates e oferecer resistências. Com isto tivemos uma recriação de como eram seus cultos na África, assim surgiu o Candomblé no Brasil, que tentou buscar preservar suas cantigas, fundamentos, entre outros e não optou por este sincretismo, mas com isto também surgiu na cultura brasileira à Umbanda que era uma nova religião com uma mistura de diversas linhas e aceitando princípios e mandamentos cristões. A Umbanda foi uma religião que buscou cultuar os ancestrais brasileiros e aqui também surgiu novos seres como os pretos velhos que foram muitos deles africanos que vieram nos navios negreiros. É possível observarmos nitidamente entidades da riqueza cultural brasileira e que trabalham na linha de irradiação dos Orixás. Durante todo este período Ogum esteve presente na história dos escravos, na resistência, no combate, no sonho de serem livres, de vencer os preconceitos e de buscarem ter seus direitos. Ogum é presente na natureza, a lei divina que deve estar em toda natureza. Foi Ogum quem ensinou à humanidade os conhecimentos sobre guerra e sobre o trabalho com o metal, aço e todos armamentos. Levando, dessa forma, evolução para todos.


Assim como os Exús e Pombas Giras, entre outras entidades, Ogum tem suas falanges e seu imenso exército que equilibra a lei do universo. Na Umbanda temos algumas entidades que recebe o nome de Ogum, são eles:

Ogum Beira Mar: Sua força é na arrebentação das ondas e onde ele encaminha os pedidos à Yemanjá, tem como seu subordinado o Ogum Sete Ondas, representado pelas sete ondas do mar, regente das águas salgadas, grande companheiro de Yemanjá e de todas sereias do mar, pois Ogum tem sua ligação com Yemanjá e quem representa esta ligação é Ogum Beira-Mar. Ele toma conta das praias, onde há arrebentação de ondas, comanda muitas falanges, como por exemplo: Ogum Sete Ondas, Ogum Sete Mares, Ogum Marinho, entre outros. Esta falange é responsável pela proteção dos navios e pescas.

Para falange de Ogum Beira Mar é comum velas brancas, vermelhas e até azuis (por conta da ligação com Yemanjá).

Ogum Yara: Um guerreiro das águas doces, trabalha nas nascentes dos rios, tendo sua principal regência as cachoeiras, grande companheiro de Oxum, ligado também a Ibeji. Comanda algumas falanges, como por exemplo: Ogum Caiçara.

A falange deste Ogum costuma receber velas brancas, vermelhas e até amarelas (pela ligação com Oxum). Este Ogum tem um grande poder ligado ao amor, riqueza e sobre guerras que envolva paixões.


Ogum Rompe Mato: Guerreiro regente das trilhas e matas, é guardião das entradas nas matas e florestas, grande companheiro dos Caboclos e trabalha na força de Oxóssi também. Não devemos confundir Ogum Rompe-Mato com o Caboclo Rompe-Mato, embora este Ogum tem sua força nas folhas e matas, ele é um Ogum. Devemos saudá-lo ao rancar folhas das matas e ao entrar na morada de Oxóssi, este Ogum é responsável pela caça, além dos mistérios do verde.

Esta falange é comum velas vermelhas e branca e até mesmo verde claro (por conta da ligação com Oxóssi).

Ogum de Lei (Ogum Delê): Um grande cavaleiro e intermediador de Ogum e Xangô. Nesta falange temos o “Ogum Guarda das Pedreiras” que é responsável pelas entradas das pedreiras, este Ogum tem sua grande atuação nas justiças. É o Ogum da ponderação, ou seja, conquistas/defesas através da ponderação e estratégia. Em casos de injustiças, falsidades, calúnias é muito comum recorrer esta entidade, pela sua ligação com a justiça e a polícia.

É um dos Ogum que ao acender velas entregamos vermelhas e brancas.


Ogum Matinata: É uma das linhas puramente ligado ao Ogum, é uma das linhas sem cruzamentos, vibra de forma somente na irradiação de Ogum. Defende os campos onde são feitas oferendas para Oxalá, bastante comum sua manifestação em colinas floridas. Embora exista poucos médiuns que incorpora esta entidade o seu poder é muito forte. Embora ele guarda as oferendas e protege a bandeira de Umbanda, não vibra diretamente com Oxalá.

É um dos Ogum que recebe velas brancas, podendo ser vermelhas e brancas.


Ogum Megê: Este é um guardião, que regula os trabalhos dos Exus nas Umbandas, faz suas rondas na calunga pequena (cemitérios), ele é conhecido também como Senhor das Almas, por ser este Ogum responsável pelo encaminhamento dos espíritos para o seu devido plano astral. Este Ogum tem uma forte ligação com Obaluayê/Omolu, este Ogum atua no resgate das almas perdidas.

Esta falange recebe velas brancas, vermelhas e até preta (ligação com Omolu).


Ogum Malê ou Malei: É o Ogum ligado à Oxalá, grande patrono ligado as entidades do oriente e a cura, cuida de todos espíritos médicos astrais. A falange chefiada por este espírito é muito difícil de vir na terra, pois são espíritos muito sutis, que o médium precisa esta muito puro para entrar em contato.

O povo malê foi um povo já extinto que vivia no deserto, parecidos com os beduínos até mesmo com os ciganos, que eram nômades. O nome desta entidade provém de lá, pois os espíritos que vibram nesta linha encarnaram em solos orientais, como a maioria da linha de Oxalá. Este Ogum é muito saudado em ritos de cura, cirurgias espirituais, seguranças e proteção, grande defensor do astral.
Este Ogum recebe velas na maioria das vezes apenas brancas, por conta da sua ligação com Oxalá.

Ogum Sete Espadas: Ligado a energia pura de Ogum, vibra com Ogum Matinata, usa uma espada na mão e outras seis cruzadas na capa. Em muitas Umbandas ele usa vermelho e prata, Ogum Sete Espadas é um falangeiro do Orixá Ogum que baixa nos terreiros de Umbanda, sempre disposto a proteger seus filhos contra o mal com suas espadas.

Enviado de Ogum, ou seja, falangeiro de seu exército, àquele que vem na qualidade de um 7 Espadas defende os 7 degraus da evolução na lei e na guerra. Eles são guardiões dos mistérios de seus domínios, porque vêm na Umbanda com a irradiação pura do seu Orixá de origem.

Ogum Naruê: Seu nome significa “Aquele que é o primeiro a gerar valor”. Esta entidade trabalha diretamente na linha das almas, desmanchando trabalhos pesados de magias para fins maléficos. Tem o controle sobre as almas quimbandeiras e é este Ogum que é muito louvado nos terreiros de Quimbanda.

Aceita suas oferendas e rituais junto com Ogum Megê, ou ainda, dentro e fora do cemitério, aceitando velas até nas cores brancas e vermelhas. Existe algumas outras falanges como: Ogum Nagô e Ogum Malei, que assim como Ogum Naruê eles trabalham na vibração de esquerda, atuando junto com os Exus, são esses Oguns um grande conhecedor da Quimbanda, raramente eles se manifestam, atuando somente nos “bastidores”.

Ogum Sete-Ondas: Esta entidade como vimos anteriormente vibra com Ogum Beira-Mar, trabalha nas ondas do mar, ligado a Iemanjá, ele vem logo após o Ogum Beira-Mar, ou seja, se oferta algo a Iemanjá, Ogum autoriza a Ogum Beira-Mar receber, e Ogum Beira-Mar faz a entrega a Ogum 7 Ondas para que esse entregue aos braços da princesa do mar. Caso Ogum não autorize, seus pedidos e suas oferendas nem vão chegar à Iemanjá, e por esse motivo alguns pedidos feitos a Iemanjá não são realizados.

Ogum de Ronda: Trabalha com Ogum Megê, nas estradas da calunga menor, corre sua ronda meia-noite. Em algumas Umbandas ele usa preto, vermelho e verde, trazendo a cruz de malta no peito.

Ogum das Pedreiras: Guarda as pedreiras de Xangô de armadura dourada e penas marrons, vibra com Ogum de Lei quase não se desloca, grande executor e não aceita ordens.

Ogum Caiçara: Vibra com Ogum Yara, usa vermelho e azul bebê, se desloca pelo templo, cuida do fundo da foz dos rios.

Ogum das Matas: Usa verde e branco, faz parte da falange de espíritos indígenas, usam espadas e brandam muito.

Ogum do Oriente: Vibra com Ogum Malê, com ligações árabes traz um turbante, vibra com as cores vermelho, branco e dourado.

Ogum Sete-Lanças: Ligado a Ogum Matinata e Sete-Espadas usa vermelho apenas, roda cruzando o terreiro.

Ogum Sete-Mares: Ligado a Ogum Beira-Mar e Ogum Sete-Ondas, esta entidade cuida dos mares e usa azul bem escuro e vermelho.

Ogum dos Rios: Trabalha com Ogum Rompe-Mato e Ogum das Matas, usa verde água e vermelho, apesar do nome que possui este Ogum trabalha nas pontes.

Ogum da Lua: Vibra com Ogum Malê e Ogum do Oriente, trabalha nas vibrações lunares, nos campos abertos do humaitá. Usa vermelho e branco.

Ogum de Ouro: Trabalha com Ogum de Lei e Ogum das Pedreiras, esta entidade costuma usar vermelho e amarelo, vibrando com Iansã (em algumas Umbandas podendo ser até com Oxum).

Ogum Menino: Vem com Ogum Yara e Ogum Caiçara, trabalha nos lajeados e barrado de corais. Usa vermelho e azul.

 Agora o último Ogum que iremos tratar nesta matéria, ele não faz parte da Umbanda Tradicional, ele surgiu há pouco tempo por conta de um sincretismo com o Candomblé que cultua este tipo de Orixá Ogum. Vejamos o que é ensinado sobre os que cultuam ele dentro das Umbandas:

Ogum Xoroquê: Esta entidade não é a mesma coisa com a que é cultuada no Candomblé, muda completamente as manifestações e maneira de cultuá-lo. Trabalha com Ogum Megê e Ogum de Ronda vibrando muito com Exu, ligado também a Obaluaiê/Omolu. Usa preto, vermelho e branco. Sem dúvidas dentro deste universo de tipos de Ogum esta é a entidade que chama mais a atenção, por ser dúbia, ter dois lados, uma energia de Ogum e a outra energia ser de Exu. Esta forma não quer dizer que o Orixá tem duas faces e sim que trabalha em duas linhas, além de dois pólos (positivo e negativo). Entidade masculina, figura que se repete em todas as formas mais conhecidas universalmente na mitologia.

Em tese acredito que isto foi uma tentativa de querer cultuar o Orixá Ogum do Candomblé e acabou trazendo para corrente Umbandista uma entidade que aceitou trabalhar com este nome e representando o mesmo, mas reitero que de forma tradicional não existe este Ogum, é algo que surgiu recentemente e talvez seja mais comum nas casas de Umbanda e Candomblé (traçadas / mistas).

 O que também precisamos observar é que em cada terreiro de Umbanda, cada Ogum pode ter uma vestimenta um pouco diferente e um modo de vir a terra (incorporação) ser diferente, mas de fato o que mais vemos ocorrer variações são nas cores de colares e vestimentas. Os Oguns mais ligados aos Caboclos até verde costumam aceitar como vimos, mas assim como o Candomblé que possui uma cor que geralmente costuma ser padrão e bem popular que é o azul escuro para o Orixá Ogum, na Umbanda temos o vermelho e branco.

 Além destes citados temos ainda o Ogum 7 Encruzilhadas que também é conhecido como grande companheiro dos Exus de encruzilhadas (principalmente de Tranca Rua), temos ainda Ogum da Estrada (trabalha na estrada), Ogum Rompe Folha (trabalha na mata), Ogum Bandeira (trabalha no humaitá), Ogum Gererê (ligado a Xangô)…

Tem três motivos que dentro da minha vivência acredito que foi o motivo para uso de certas cores e são:

1. O primeiro motivo é pelo sincretismo de Ogum com São Jorge. Como São Jorge é o cavaleiro da cruz vermelha e suas vestimentas são desta cor vermelha e branca.

2. O segundo motivo é porquê o vermelho é ligado a guerra, conquistas, disputas, a vitalidade (o sangue), também tendo o branco que simboliza a espiritualidade, estado de paz e encontro.

3. O terceiro motivo talvez explicaria o porquê em muitas Umbandas Ogum também recebe verde e seria este possível motivo é pelo sincretismo com São Sebastião em algumas regiões do Brasil, já no caso do azul podendo ser pelo sincretismo com São Miguel que é o guerreiro da espada de luz azul.

São Jorge e o Dragão, c.1606
(St. George and the Dragon, c.1606 ).

O dragão da vida

Quando dizemos de tempos difícies e afirmamos que Ogum foi muito importante, muitos talvez não refletiram o bastante e a verdade é que todo período sombrio, é um exemplo de dragão que precisamos vencer e tirar estas correntes que pode nos tornar prisioneiro de nossos próprios medo. Com certeza quando o problema é muito maior que a nossa capacidade de resolução, podemos contar também com a ajuda de Ogum.

Da mesma maneira que sei que muitos nos tempos de luta, de desigualdade, pediam à Ogum pela sua liberdade.

 Ao pronunciar “Patacori Ogum” dentro dos ensinamentos de Umbanda, estamos chamando Ogum para guerra e até fazer valer o seu pedido. Alguns estudiosos chegam afirmar que o significado desta pronuncia seria:

Patac = Cortar
Ori = Cabeça

Os antigos sempre alertavam que esta palavra não deve ser dita atoa, pois invocar um espírito da guerra atoa, poderá voltar contra si mesmo.


Oferenda:

Faça feijão preto no azeite de dendê e ponha dentro de um alguidar quando estiver pronto. Um inhame (podendo ser Cará/Inhame do norte) grande cortado ao meio assado no dendê, quando estiver pronto ponha no meio, em volta enfeite com 7 folhas de Espada de Ogum (conhecida também como de São Jorge). Sirva uma boa cerveja quente como bebida e um bom charuto. A vela poderá ser nas indicações vista na matéria, ou como vimos que é aceita por todas falanges que é o vermelho e branco.

Se quiser, pode enfeitar o chão com morim (pano) vermelho e branco e espero que com a fé neste grande guerreiro, você consiga bom emprego, vencer aqueles que um dia tentaram te derrotar e remover os obstáculos de seu caminho.

No Candomblé o número usado para Ogum costuma ser 3, na Umbanda se usa o número 7 também, que é a representação das sete linhas, além de ser o número da perfeição e da espiritualidade.

Muito Asé!

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