quarta-feira, dezembro 11, 2024
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O código da bíblia

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Você acreditaria na existência de um método por meio do qual fosse possível prever o futuro a partir da Bíblia? E se esse mesmo método permitisse localizar alguns dos mais trágicos acontecimentos da História nas páginas do Antigo Testamento? Antes de responder, entenda o que é o Código da Bíblia

Texto • Renata Guerra
 

Profecias e adivinhações sobre o futuro sempre dão margem a muitas polêmicas, principalmente quando estão relacionadas à religião. Com ou sem intenção de gerar discussões, o jornalista Michael Drosnin conta, nos livros O Código da Bíblia I e II (ed. Cultrix), que haveria um código oculto na Torah, que é composta pelos cinco primeiros livros do Antigo Testamento (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio).

Entretanto, ao longo da história, não foram poucos os interessados na possibilidade de encontrar nestes livros sagrados respostas que estivessem “além dos olhos”, segundo Drosnin. Entre eles estava um homem das ciências bastante famoso. Sir Isaac Newton, o autor da teoria da gravidade, aprendeu hebraico e passou metade de sua vida tentando desvendar a existência e o funcionamento deste código.

O sábio judeu Genius de Vilna, do século 18, foi outro pensador que se dedicou aos estudos. “A regra é que tudo o que foi, tudo o que é e tudo o que será, até o fim dos tempos, está incluído na Torah, da primeira à última palavra”, trecho retirado de uma tradução em inglês do livro The Jewish Mind

Embora muitos outros também tenham tentado compreender e operar o código, somente com o advento do computador é que foi possível estabelecer um padrão para interpretar as mensagens ocultas. O responsável por esse mecanismo que levou à consolidação do Código da Bíblia é o matemático russo Eliyahu Rips, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. O matemático teve como base a descoberta do rabino H. Weissmandel, que aconteceu há mais de cinquenta anos, em Praga, capital da antiga Tchecoslováquia. O rabino teria notado que ao saltar o espaço de 50 letras e depois mais 50 (e assim por diante), aparecia a palavra “Torah” soletrada no início do Gênesis, como também nos Livros dos Números e Deuteronômio. 
 

Profecias

O ataque ao World Trade Center, no dia 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque. As palavras “torres gêmeas” estavam codificadas no mesmo trecho que “avião”. “Provocou a queda, derrubou” cruzavam as palavras “avião” e “torres”.

A Grande Depressão Econômica, de 1929. “Colapso econômico” e “depressão” aparecem com a palavra “ações”, como também o ano em que começou, 1929 (no calendário judaico “5690”). 

Ataque com gás no metrô de Tóquio, em 1995. “Aum Shinrikyo”, grupo religioso responsável atentado, está juntamente com “metrô” e “pragas”; a palavra “gás” aparece duas vezes no mesmo trecho. 

O atentado de “Oklahoma”, também em 95, aparece junto à “morte terrível” e “horror”.

Benefícios da modernidade

O Código da Bíblia existe graças a um programa de computador baseado em um modelo matemático. Nele, Rips utilizou a versão hebraica da Torah e eliminou todos os espaços entre as palavras e pontuações, totalizando um amontoado de 304.805 letras.

Para ser mais claro, o texto bíblico ficou com a aparência de um jogo de palavras cruzadas e a dinâmica permaneceu semelhante à utilizada por Weissmandel, ou seja: saltando n letras + n letras + n letras (e assim por diante), encontramos palavras e frases, tanto no sentido vertical, como no horizontal e diagonal.

Embora acreditasse na existência do código e já tivesse submetido alguns fatos históricos à teoria, o matemático ainda tinha algumas ressalvas quanto à concretização das profecias. Quando o clima começou a ficar pesado nas relações entre Iraque e os países vizinhos, Rips procurou o nome do então presidente do país, Saddam “Hussein”, e o termo “míssil”. Eles não só estavam codificados juntos, como também aparecia uma data relacionada: 18 de janeiro de 1991, justamente o dia em que o Iraque atacou Israel com mísseis. Rips descobriu o fato três semanas antes que o conflito começasse e, graças à Guerra do Golfo, teve certeza sobre a eficiência do código.

Com o jornalista Drosnin, responsável pelas obras que relatam a descoberta, ocorreu algo parecido. Ele também precisou que uma profecia se concretizasse para ter certeza sobre o código. Após aplicar o método à exaustão, Drosnin previu o assassinato do então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin. Em um trecho do texto, o termo “assassino que assassinará” cruza “Yitzhak Rabin”, na única vez em que o nome completo aparece no Antigo Testamento. Drosnin tentou avisá-lo, por meio de uma carta enviada por um amigo de infância do primeiro-ministro. Mas seus esforços foram em vão. No dia 04 de novembro de 1995, o premiê foi assassinado com um tiro pelas costas. 

Na figura, junto ao nome de Adolph “Hitler”, aparecem no mesmo trecho as palavras “homem mau”, “nazista e inimigo” e “massacre”. Ditador da Alemanha, Hitler foi responsável pela morte de milhares de judeus em campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial.

Controvérsias

Em 1994, o matemático publicou um artigo intitulado “Sequências Alfabéticas Equidistantes no Livro do Gênesis”, em co-autoria com Doron Witztum e Yoav Rosenberg, na revista norte-americana Statistical Science. Para comprovar a existência do código, propôs o seguinte estudo: procurou o nome de 32 sábios judeus, desde os tempos bíblicos aos tempos modernos, como também a data de nascimento e morte de cada um deles no primeiro livro da Bíblia. Fizeram a mesma experiência com a tradução em hebraico do livro Guerra e Paz, do russo Leon Tolstoi, e em outros dois textos originais hebraicos. Constatou-se que, no Gênesis, os nomes e datas estavam codificados juntos, enquanto no livro russo e nos dois hebraicos o mesmo não acontecia – o que, por si só, serviria para mostrar que o método só se aplicaria à Bíblia. 

Drosnin, por sua vez, afirma que muitos matemáticos e estatísticos que viam o artigo com ceticismo tiveram que dar o braço a torcer quanto ao código. Porém, não é o que aparece nas revistas especializadas. No artigo “Mensagens Ocultas e o Código da Bíblia”, o físico e editor-consultor da revista norte-americana Skeptical Inquirer, David E. Thomas, declara que mensagens ocultas podem ser encontradas em qualquer lugar, desde que a pessoa esteja disposta e apta a encontrá-las em um imenso campo de possibilidades.

Para comprovar que encontramos diversas palavras em um mar de letras embaralhadas, o físico usou uma tradução em inglês do Livro do Gênesis. Sendo assim, Thomas compara a versão americana do Livro do Gênesis com um texto de uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, de 1987, que ele chama de “Edwards”. O Livro do Gênesis tem 150 mil caracteres, enquanto “Edwards” tem 100 mil. Thomas usou uma lista com 25 palavras, de diferentes temas. Todas foram encontradas diversas vezes em ambos os textos. Porém, foram verificadas mais correspondências no Gênesis. O autor diz que a diferença se deve aos 50 mil caracteres a mais do livro bíblico.

Outro ponto apurado por Thomas é a maior frequência de nomes curtos do que longos. Ele também constatou que algumas letras, como A, D, E, H, I, N, O, P, S, T, aparecem mais vezes do que outras. “Obviamente, palavras com estas letras quentes, como ‘Reed’, ‘Deer’, ‘Stalin’, ou ‘Hitler’, têm uma melhor chance de serem encontradas do que palavras com letras frias, como J ou Q”, defende. Por fim, Thomas também comparou o Gênesis com o livro Guerra e Paz, em uma tradução em inglês, e usou os primeiros 24 capítulos, para ter cerca de 167 mil caracteres. Encontrou os termos “Hitler” e “nazista” próximos.

Mesmo diante de tantas críticas e questões, Drosnin é enfático ao defender a credibilidade do código: “Experiência após experiência, os problemas de palavras cruzadas foram encontrados somente na Bíblia. Não em Guerra e Paz, nem em qualquer outro livro, e nem em dez milhões de testes gerados por computador”.

Tamanha convicção levou o jornalista a propor um desafio, em uma entrevista concedida à revista Newsweek, em 9 de junho de 1997. “Quando meus críticos encontrarem uma mensagem sobre o assassinato de um primeiro-ministro codificado em Moby Dick, acreditarei neles”. Foi a deixa para que um grupo de matemáticos da Universidade Nacional da Austrália aceitasse a proposta e encontrasse previsões de assassinatos no mesmo livro. Entre as personalidades estão os nomes conhecidos de Indira Gandhi, Leon Trotsky, Martin Luther King, Robert F. Kennedy, Princesa Diana, entre outros.

Coincidência ou não, o fato é que, seguindo a lógica proposta, é possível encontrar uma série de registros inimagináveis nas entrelinhas da Bíblia. O próprio Drosnin afirma que podem ser possibilidades. “O código da Bíblia talvez seja um conjunto de probabilidades. O livro selado poderia conter todos os nossos futuros possíveis”, conclui o jornalista. 

SAIBA MAIS

O Código da Bíblia I e II, de Michael Drosnin (Editora Cultrix).

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